Categoria Policia  Noticia Atualizada em 21-07-2011

Ex-advogado assume que orientou Macarrão a não falar sobre caso Eliza
Bruno, Macarrão e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola
Ex-advogado assume que orientou Macarrão a não falar sobre caso Eliza
Foto: Alex Araújo/G1 MG

O advogado Cláudio Dalledone, que defendia no fim do ano passado o réu Luiz Henrique Ferreira Romão, conhecido como Macarrão, assumiu nesta quinta-feira (21) ter orientado o cliente a não dar declarações sobre o caso Eliza Samudio. Macarrão gravou, nesta quarta-feira (20), uma entrevista com o presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Durval Ângelo, na qual afirma que o sangue no carro de Bruno de Souza é mesmo de Eliza. A comprovação da presença do sangue da jovem já havia sido feita pela perícia da Polícia Civil.

Macarrão disse, na conversa com o deputado, que a omissão foi orientada pelo advogado. "Eu nunca menti sobre isso, não. Nunca falei porque meu advogado nunca deixou. Isso aí eu nunca falei não foi porque eu não quis, eu sempre quis falar." O réu ainda afirmou que é inocente. "Tô pagando por uma coisa que eu não cometi. Todos colocam "eu" como culpado", disse.

Dalledone, que agora defende apenas o goleiro Bruno, disse que há contradições nas defesas dos dois réus. Segundo o atual defensor de Macarrão, Wasley César de Vasconcelos, os dois advogados já trabalharam juntos na defesa dos dois acusados, mas uma divergência na orientação do caso fez com que eles se separassem. "No interrogatório, eu e o Daledonne tivemos um desentendimento jurídico, eu, Dalledone e o Américo Leal, e o clima ficou tenso. Eu pedia para o Macarrão falar e os outros não. Nós já tínhamos decidido. O Macarrão acabou ficando muito nervoso e não falou", explicou Vasconcelos.

Walsey Vasconcelos ainda explicou ao G1 porque agora Macarrão resolveu falar detalhes sobre o caso. "Depois de conversar com o Luiz, eu o aconselhei a falar, uma vez que ele jura inocência. Existem dois tipos de defesa, a técnica, que é feita por nós advogados, e autodefesa, a do réu. Se eu não pratiquei um crime que eles estão me acusando, a melhor pessoa para se defender sou eu mesmo", disse.

O advogado de Macarrão disse que não vai pedir à Justiça um novo interrogatório do réu, mesmo depois dessas declarações à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Minas. O defensor acredita que o julgamento seja feito ainda este ano. "No próximo interrogatório ele vai falar tudo que ele sabe. Não há necessidade de impor ao judiciário um novo interrogatório. Esse ano vai acontecer o júri. Ele vai confirmar o que realmente aconteceu", afirmou.

Vasconcelos disse que vai pedir que o vídeo da entrevista de Macarrão à TV Assembleia seja anexado ao processo para ser usado pela defesa durante o julgamento. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais disse que o vídeo pode ter valor legal, já que a gravação foi feita com consentimento do próprio réu.

Claúdio Dalledone disse que deve pedir à Justiça um novo interrogatório de seu cliente, o goleiro Bruno. Segundo o defensor, Bruno quer ser ouvido novamente pela Justiça para "esclarecer todos os fatos". O advogado ainda falou que pretende pedir mais rapidez na marcação da data do julgamento, que será feito pelo Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Entenda o caso
A jovem Eliza Samudio mudou-se para o Rio de Janeiro no início de 2009. Em abril ou maio do mesmo ano, ela conheceu o goleiro Bruno e os dois tiveram um relacionamento. Em outubro, ela fez um boletim de ocorrência por agressão e sequestro no Rio. Nessa época, Eliza relatou a um órgão da imprensa que estaria grávida do goleiro.

Em fevereiro de 2010, a jovem deu à luz um menino e alegou que o atleta era o pai da criança. Segundo a polícia, entre os dias 5 e 8 de junho, Eliza foi levada do Rio para Minas. Ainda segundo a polícia, no dia 9 de junho, ela foi levada do sítio do Bruno, em Esmeraldas para Vespasiano. Ambas as cidades ficam na Grande BH. A mulher teria sido morta, na madrugada do dia 10, em Vespasiano.

Entre os dias 24 e 25, a polícia recebeu denúncia de que Eliza teria sido agredida no sítio. Logo em seguida, começaram as investigações sobre o paradeiro da moça. A criança foi encontrada em Ribeirão das Neves, na Grande BH, e alguns suspeitos foram convocados para depor.

Dia 6 de julho, a polícia ouviu um adolescente que estaria dentro do carro, junto com Eliza, na viagem do Rio para Minas. A Justiça determinou a prisão de Bruno e do amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão. Nesse dia, um exame comprovou que o sangue no carro de Bruno era de Eliza.

No dia seguinte, Bruno e Macarrão se entregaram na Polinter do Andaraí, na Zona Norte do Rio. A Justiça mandou prender Dayanne de Souza, mulher de Bruno, e Sérgio Rosa Sales, primo do jogador.

Ainda no dia 7 de julho, a polícia fez buscas na casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em Vespasiano. O menor foi ouvido outra vez e Bruno foi indiciado como mandante do sequestro de Eliza do Rio para Minas.

No dia 8, Bola foi preso e Bruno e Macarrão foram transferidos para Minas. No dia 9 de julho, Sônia Moura conseguiu a guarda do neto na Justiça. Flávio Caetano, Wemerson Marques, o Coxinha, e Elenilson Vitor da Silva foram presos.

No dia 10 ou 11 de julho apareceu mais um nome no caso: Fernanda Gomes de Castro, que também teria tido um relacionamento com o jogador.

No dia 12, o adolescente foi ouvido no Rio e, no dia seguinte, foi transferido para Minas. Ele disse à polícia que foi chamado para um "dar susto" em Eliza, junto com Macarrão.

No dia 14, a polícia fez novas buscas pelo corpo de Eliza na casa de Bola, em Vespasiano.
O Flamengo mandou uma carta de demissão de Bruno no dia 16, mas anulou a decisão no dia 20. No dia 29 de julho, polícia indiciou Bruno e mais oito pessoas pelo desaparecimento e morte de Eliza.

Em 5 de agosto, Fernanda foi presa em Minas. No dia 6 de outubro, Bruno teve um um mal súbito durante audiência em Ribeirão das Neves e é levado para posto médico.

No dia 23, o advogado Ércio Quaresma deixou a defesa do goleiro. Quatro dia depois, Flávio Caetano é solto pela Justiça.

A Justiça do Rio condenou Bruno no dia 7 de dezembro de 2010 por manter Eliza em cárcere privado.

Em Minas, no dia 17 de dezembro, a Justiça decidiu que o jogador, Bola, Macarrão, Sérgio, Dayanne, Fernanda, Wemerson Marques e Elenilson da Silva vão a júri popular.

O goleiro, Macarrão e Sérgio vão a júri popular por sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Bola, que também está preso, vai responder no júri popular por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.

No dia seguinte, Dayanne Souza, Fernanda Castro, Wemerson Marques (que acompanhou Dayanne e Flávio Caetano no dia em que eles levaram o filho de Eliza para uma casa na Grande BH) e Elenilson da Silva (amigo de Bruno, trabalhava como caseiro e secretário do goleiro) foram soltos e respondem em liberdade por sequestro e cárcere privado.

Na prisão, Bruno ganhou o direito de treinar com bola no dia 22 de dezembro. Em 2011, no dia 19 de maio, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou habeas corpus para Bruno pedido pelo advogado Cláudio Dalledone Júnior.

No dia 20 de abril deste ano, Bola foi transferido da Nelson Hungria para a Penitenciária Jason Soares Albergaria, em São Joaquim de Bicas, na Grande BH.

Ex-advogado assume que orientou Macarrão a não falar sobre caso Eliza
Macarrão admitiu que sangue em carro de Bruno era de Eliza.
Cláudio Dalledone agora defende o goleiro Bruno, também réu no processo.

Fonte:

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Por:  Alexandre Costa Pereira    |      Imprimir