Categoria Educação  Noticia Atualizada em 02-08-2011

Tecnologia de Comunicação: Aliada ou Ameaça
Tecnologia de Comunicação: aliada ou ameaça ao ensino-aprendizagem?
Tecnologia de Comunicação: Aliada ou Ameaça
Foto: Luciana Maximo DRT: 2159/ES

A mídia vem batendo na internet como a grande vilã de estar viciando as crianças, adolescentes, jovens e até adultos, tornando os mesmos vítimas de uma tecnologia do mal. Isso não procede, a internet não é a grande vilã. O problema é que as pessoas ainda não decodificaram a ideia de que, quem come muito se lambuza mesmo, ou tudo que é demais enjoa, já diz os clichês.

Mas, o computador, o vídeo game e o celular tem mesmo influenciado no rendimento escolar das crianças, dos adolescentes e jovens? Ora ora, tem. As pesquisas apontam para isso. No entanto, não são os objetos tecnológicos os vilões, fica constatado mais vez que a família é a maior responsável por mais esse drama que maltrata seus filhos em diversos âmbitos.

A Reportagem especial desta edição aborda o tema: Internet, computador, celular, os presentes do momento que vem sendo demasiadamente manuseado e gerando consequências no reflexo do rendimento escolar.

Dentro de casa, trancados no quarto, com apenas o mouse na mão, silenciosas crianças passam maior parte do tempo, trancadas jogando ou em redes sociais, os pais se iludem achando que o presente dado no último natal foi o melhor, tirou o filho da rua, mantém a criança quieta, enganaram-se.

Por outro lado, as lan houses dificilmente tem uma vaga, sempre lotadas de meninos em especial atirando na tela para matar o monstro, ou brincando de trocar de roupa. O monstro que eles perseguem nos jogos está perseguindo o futuro deles. O rendimento escolar vem caindo significativamente em algumas escolas, alem do medo de escuro, a agressividade e a repetição de gestos de seus personagens da ficção.

A Reportagem conversou com pedagogos, professores, diretores de escolas, proprietários de lan house, avó e crianças para mergulhar neste universo que parece fantástico e não é.

Sociedade em estado de liquidez

A professora doutoranda em Ciências da Educação e coordenadora pedagógica do Curso de Pedagogia do Centro Universitário São Camilo-ES, Augusta Maria Bicalho conversou com a Reportagem sobre o assunto e deu alguns conselhos aos gestores educacionais e corpo docente.

Augusta assegura que nesse atual contexto em que muitos autores chamam de sociedade de conhecimento, o ‘bum’ do conforto tecnológico chega e não oportuniza a pessoa, nem ter tempo e espaço para pensar suas ações. "Estamos vivendo um prazer rápido, um prazer ilusório e momentâneo", disse.

Oportunamente, a professora cita Bauman, autor do livro Modernidade Líquida, que traduz o momento atual como desmanchado. "O autor afirma que estamos perdidos, tudo se desmanchou, os valores, os conceitos, de ética, de cidadania, educação se dissolveram, o ser humano está neste contexto líquido: confuso, perdido, equivocado, e isso chegou à escola. As crianças querem prazer rápido. A internet, o jogo, a lan, ocupa a mente e ilude as pessoas para que elas não enfrentem o vazio, o medo, e insegurança. E o pior, não estão conseguindo lidar com isso bem", ponderou.

Proposta para ajudar pais

A coordenadora pedagógica frisou que nem as famílias, nem a escola estão certas do terreno que estão pisando. "O processo ensino-aprendizado oferecido pela escola, que é dever dela, não está conseguindo cumprir o seu papel. A equipe da escola, gestão escolar e o corpo docente precisam avançar nas leituras e reflexões sobre como manejar o conhecimento atual. Pedagogos, orientadores, coordenadores de práticas docentes que orientam os professores e pais, deverão elaborar propostas para ajudar conduzir os pais nesse momento tão complexo, de tanta liquidez", sugeriu.

Para Bicalho não é voltar as práticas conservadoras e tradicionais. Os educadores precisam ter muito rapidamente uma competência pedagógica mais sólida para explicar, encaminhar, fortalecer os pais e ir finalizando para eles, que as crianças na fase de desenvolvimento infantil não podem estar focadas em jogos e Internet. "É preciso que a família resgate alguns valores que ainda continuam de pé: diálogo em casa, acompanhamento das atividades dos filhos diretamente. Momento de lazer que propicie a interação coletiva de grupos", sugeriu.

Uma reflexão profunda sobre o significado etimológico e social da palavra "AUSCUTAR" é preciso. "Só a partir da compreensão de que escutar é muito mais que ouvir, é um cuidar do outro, muito além do sentido de cuidar, é muito mais que doar objetos, necessidades físicas é que poderemos conviver melhor uns com outros".
A escola deve propor reuniões pedagógicas e levar o tema para discussão junto aos pais com muita freqüência.

Crianças com sono na escola

As secretárias Municipais de Educação de Iconha e Piúma, Aloisana Almeida Soares Gariole e Lenilce Carvalho comungam da mesma filosofia quando se trata de baixo rendimento escolar. Para ambas, a escola sozinha não pode mudar esse contexto, os pais devem assumir o papel deles. "É preciso selecionar o que é prioridade. A criança não pode fazer o que ela quer. Na Internet, ou no computador, os pais devem impor limites. Temos crianças que chegam à escola com sono, cansadas porque passaram quase uma noite inteira no computador", frisou Aloisana.

Para Lenilce Carvalho é preciso aproveitar o interesse dos alunos pelas tecnologias da informação e trabalhar de forma dinâmica utilizando a máquina. "É necessário que os pais ao presentearem seus filhos com esses equipamentos, tenham conhecimento do manuseio e os oriente para que utilizem da forma adequada, pois a internet é a porta para o mundo. Sendo assim existem muitas informações necessárias e outras inadequadas para crianças", afirmou.

A Internet é uma fonte rica de pesquisa

Segundo a secretária de Educação de Piúma, o maior problema encontrado hoje é que o professor não está preparado para essa nova tecnologia, e os pedagogos precisam orientar e incentivar os professores a utilizar os recursos tecnológicos a fim de motivar os alunos para o conhecimento.

"A internet é uma fonte rica de pesquisa, mas há necessidade de um controle rígido da família quanto ao seu uso. O ideal é que o professor tenha o seu planejamento relativo à pesquisa cobrada para poder assim dar um direcionamento ao aluno. Pois, copiar e colar não vão acrescentar nada no aprendizado dos educandos. O ideal é que o professor dialogue com os alunos mostrando os vícios da internet, e a forma correta, fazendo comparações, e alertando para uma escrita correta", orientou.

Em relação aos índices de rendimento escolar Lenilce Carvalho disse que há escolas onde o aproveitamento é bom, e em outras são insatisfatórias, "mas estamos todo o tempo monitorando os alunos para que as atividades relativas ao uso da internet, não sejam um problema, mas um aliado na melhoria do processo ensino-aprendizagem", final.


    Fonte: Jornal O ESTADO NOTÍCIAS
 
Por:  Luciana Maximo    |      Imprimir