Categoria Geral  Noticia Atualizada em 02-08-2011

Tal pai, tal filho: um chaveirinho em Piúma
“O Ítalo foi abrir um carro que ele não deu altura, ele ia pedir uma cadeira para a mulher. Eu fiquei com pena, deixa que eu abro. Foi em Ubu, ele foi abrir um Ecosport”
Tal pai, tal filho: um chaveirinho em Piúma
Foto: Luciana Maximo

Imagina a cena. Depois de um domingo de churrasco, música ao vivo e muita cerveja, você se da conta de que tem de voltar para casa. Já bebeu o suficiente, o dia seguinte é segunda-feira e as contas não espera. Entra no carro, com motorista e volta para casa. Estaciona, procura a chave do portão e cadê? O desespero toma conta, a festa acabou, são 22h00. Procura daqui, procura dali e nada, a chave desapareceu. Não tem jeito, ou arromba a porta, ou vai atrás do chaveiro. Você não conhece nada na cidade e nem sabe onde tem esse cara. Nessa hora, liga a corretora de imóveis que te alugou o apartamento ela te pede para procurar uma pessoa, que mora próximo a uma igreja católica, no centro. Você começa a caça pela casa do chaveiro, vai até a porta da igreja, espera a missa acabar. Logo ao lado uma grade com a placa e o número do celular. Você liga e alguém atende. _ Pois não! Quero falar com Ítalo. O homem diz: _Peraí que vou chamá-lo. Ítalo é pra "vc", quando o Ítalo atende você pensa que se enganou e diz: Que brincadeira é essa nessa hora?, é uma criança.

É Ítalo o garoto que faz chaves e abre portas. O pai sai com o menino e resolvem te acompanhar ao apartamento. Em três minutos o garoto abre a porta. É isso, um chaveirinho. Ítalo Alexandre Costa de Almeida, 11 anos, aluno de uma 5ª série. Não é bom de nota na escola, em compensação, fazer chaves e abrir portas, de carro, casa, apartamento, comércio é com ele mesmo.

Ítalo conta como tudo isso começou: "Meu pai montou um negócio lá em casa de fazer chave e eu comecei a e interessar, ai eu aprendi. Eu comecei bem pequeno a fazer perguntas pro meu pai, ai eu comecei aprender as coisas, meti a cara na curiosidade. Eu abro a tetra, a normal, porta de aço de supermercado... Abro qualquer carro, caminhão, carreta, só não sei fazer as chaves, até máquinas", disse.

O menino não sai à noite sozinho para atender clientes, só acompanhado de um adulto da confiança da família. E nem deixa de fazer outras coisas, adora andar de bicicleta na rua. No momento da entrevista quis esconder o rosto, porque havia levado um ‘tombasso’ de Bike e ficou com marcas profundas na face. Estuda de manhã e a tarde se diverte fazendo chaves e abrindo portas.

As pessoas nem sempre acreditam que ela vai resolver o problema quando liga para o chaveiro e parece um ‘moleque’ de 11 anos. "Às vezes algumas pessoas não acreditam que eu sou o cara que vai abrir a loja dele". Perguntado se quando crescer continua o oficio do pai, ele diz: "É o que penso", e dá para tirar uma grana? "Acho que dá". Italo diz que por semana fora da temporada de verão ele faz entre 50 e 70 chaves e no verão, a coisa esquenta.



Tal pai, tal filho



Quando o pai viaja, o garoto assume o lugar dele e não deixa nem um cliente ficar na mão. Marcos Alexandre é o culpado de o menino ser desse jeito. Ele contou que morava de favor na casa da madrinha no Rio de Janeiro bem menino com 12 anos. Um dia saiu para procurar trabalho e estavam precisando de um cara para varrer a loja e fazer serviço de rua, ele aceitou. "Lá o rapaz viu que eu tinha interesse para aprender. Eu ficava perturbando, mexendo nas coisas. Ele resolveu me ensinar. Fui aprendendo com 16 anos já era chaveiro profissional", contou.

Marquinho contou que o filho já faz muita coisa em chaves. E que nunca deixa de aprender coisas novas, estava de viagem marcada para um breve curso, os dois. Disse que vendeu um veiculo para comprar uma máquina mais atualizada e o filho já sabe mexer. "Coisa que eu nunca tive, ele já tem". O mercado de chaves também precisa de inovação. "Todo dia tem uma novidade. É preciso investir direto".

Ser chaveiro exige mais do que vontade, é preciso ter dom, afirma Marquinho. "Não é o cara dizer vou ser chaveiro, tantos que têm aqui na cidade que muito mal fazem cópias. O Italo só tem um cara que pode bater de frente com ele. O resto ele bota no bolso".

Maquinho disse que incentivou mais o Italo aprender a profissão porque ele não pega peso, não fica no sol, na rua, não tem esforço físico nenhum é uma forma de manter o menino debaixo dos olhos. "Ele vem para cá e se diverte, aqui vê televisão, está dentro de casa, faz tudo que um menino faz, porém não fica na rua. Hoje, se a metade desses meninos tivesse uma ocupação, Piúma não estava do jeito que está. Ele brinca, joga bola, joga na internet. O trabalho não interfere na infância dele, é como se eles estivesse brincando".



    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Luciana Maximo    |      Imprimir