Categoria Automóveis  Noticia Atualizada em 09-08-2011

Motorista leva carro zero e descobre falhas
Produtora rural de MS só resolveu o caso ao recorrer ao Procon. Série do G1 dá dicas sobre compra e venda de carro.
Motorista leva carro zero e descobre falhas
Foto: g1

A produtora rural Maria Auxiliadora Guimarães Corrêa, de 51 anos, pagou R$ 35 mil à vista por um Volkswagen Gol zero quilômetro em maio de 2009, com um ano de garantia. Um mês depois, problemas nos freios, no painel, na suspensão e nas portas do carro fizeram a motorista enfrentar uma peregrinação em busca dos direitos de consumidora.

(Série Compra e venda de carros: o G1 publica nesta semana reportagens com exemplos de pessoas que tiveram problemas com esse tipo de negociação e dicas para evitar ou solucionar essas questões.)

Maria Auxiliadora, que vive em Campo Grande, contou ao G1 que sempre compra carros novos para evitar transtornos. Ela decidiu trocar o Fiat Palio que tinha por um Gol naquele ano, para aproveitar a redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Para garantir um preço ainda menor também usou um desconto especial, concedido a produtores rurais.

O veículo demorou, segundo ela, cerca de 20 dias para ser entregue e teve que ser levado de volta à concessionária cerca de quatro semanas depois, por conta de dois defeitos.

"Você batia a porta e ela não fechava direito. E também teve um problema na suspensão. O carro batia muito. Era como andar de carroça", conta a produtora. Ao voltar para buscar o carro, um dia e meio depois, "senti novamente o problema", relata Maria.

Além do defeito na suspensão, a motorista percebeu ainda, ao estacionar o carro na fazenda, que fica na zona rural da cidade, que o freio "endurecia" quando estava em baixa velocidade. "Eu tive que puxar o freio de mão e fiquei sem saber o que aconteceu. À noite, quando fui contar ao meu marido, ele disse já tinha sentido o problema."

Painel apagou
Maria Auxiliadora entrou em contato novamente com a loja e agendou um novo conserto. "Cheguei lá e eles não tinham marcado. Tentei convencê-los a me atender naquele dia, mas tive que remarcar. Enquanto isso, andei com o carro cheio de problemas", lembra a proprietária do Gol.

Nesse período, ela diz que percebeu mais um defeito: "O painel apagou. Relógio, quilometragem, tudo. Parou de um dia para o outro", relata.

Quando retornou à concessionária, esperando ter os problemas solucionados de vez, recebeu a notícia de que uma das peças para o conserto não estava disponível em Campo Grande e teria que esperar mais cinco dias até que o objeto chegasse. "Passaram vinte e poucos dias e acabei indo ao Procon", lembra Maria Auxiliadora.

Após a reclamação, uma audiência de conciliação foi agendada entre ela e um representante da fábrica, que veio de São Paulo. "Ele me disse que o calor daqui, de Cuiabá e do interior de São Paulo davam problemas no computador interno que regula o painel. Até o freio ele disse que falhava por causa do calor", lembra a motorista. "Eu só queria que resolvessem a minha situação. Eu viajo muito, pego a BR-163 direto e preciso de segurança."

Defeito voltou
Os problemas do carro foram então consertados e depois disso o veículo retornou à concessionária somente para as revisões. Contudo, o carro, que é utilizado por toda a família, tem apresentado novamente falha nos freios e agora já está fora do prazo de garantia.

Maria Auxiliadora espera livrar-se do veículo e diz que somente não o fez "por falta de verbas". Depois dos transtornos, ela declara: "Essa fábrica está riscada da minha vida e podem fazer o carro mais lindo do mundo. Meu carro foi um risco que eu ainda estou correndo".

Procurada pelo G1, a Volkswagen informou, por meio de assessoria, que não tem mais comentários sobre o assunto.

Cuidados na hora da compra
"Se o carro zero apresenta defeito [dentro do prazo de garantia], é necessário acionar o fabricante", explica Renata Reis, do Procon-SP. Ela recomenda não recorrer primeiro ao lojista, principalmente se a garantia estiver perto de expirar, porque pode haver demora na solução do problema e o carro poderá perder a garantia nesse tempo.

A compra de um carro zero é regida pelo Código de Defesa do Consumidor, que determina garantia de ao menos 90 dias para qualquer produto. No caso de veículos, esse prazo costuma ser de 1 ano, mas algumas marcas oferecem até 6 anos.

A manutenção da garantia, no entanto, é atrelada a condições como o cumprimento de prazos para revisão e o veto à serviços realizados fora da oficina autorizada. "Por isso é importante ter cuidado ao instalar acessórios", lembra Renata. "Tem que verificar se não prejudca a garantia do fabricante. É comum haver problemas com alguns dispositivos de segurança, por exemplo."

Desistência
Se quiser desistir da compra de um carro zero, sem que tenha sido constatado algum defeito ou descumprimento da oferta, o consumidor deve estar ciente do percentual que a loja se propõe a devolver, que não será 100% do valor pago. Se o veículo ainda não tiver sido retirado, pode ser cobrada uma taxa de rescisão e, se for financiado, pode haver multa pelo rompimento do contrato. "O direito de arrependimento só é aplicável a compra feita fora do estabelecimento, como por telefone", explica Renata.

Registre a proposta
Outro passo fundamental para não ter dor de cabeça na compra do carro zero é registrar a proposta feita pela loja: no papel deve constar a descrição completa do carro (marca, modelo, cor, ano/modelo, equipamentos), além do valor, de como será o pagamento e a data de entrega, ensina o Procon.

O descumprimento de qualquer ponto da proposta dá ao cliente o direito de cancelar a compra sem ônus, diz Renata. "Não há tolerância para prazo de entrega", lembra. "Se ele não for cumprido, o consumidor pode optar pelo cancelamento, com devolução do que foi pago, corrigido."

A especialista alerta para ofertas anunciadas em panfletos e meio de comunicação, como IPVA grátis: elas têm de ser cumpridas. "O cliente deve imprimir o anúncio e fazer isso constar na proposta", explica. Renata lembra ainda que um estande de uma marca ou concessionária é, perante o Código do Consumidor, uma extensão da loja. "Valem os mesmos direitos."

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Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir