Categoria Economia  Noticia Atualizada em 09-08-2011

Novatos da bolsa enfrentam 1ª crise com sangue frio
G1 conversou com investidores no dia em que Bovespa caiu 8,08%. Para eles, crise é oportunidade de comprar ações baratas e se planejar.
Novatos da bolsa enfrentam 1ª crise com sangue frio
Foto: g1

Eles assistiram à crise internacional de 2008 longe do mercado de ações. Usam as lembranças de números despencando como lição e, talvez por isso, demonstrem certo sangue frio diante da crise financeira que parece chegar. Enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caía tanto que quase tinha as negociações interrompidas no pregão de segunda-feira (8), os novatos da área seguravam o frio na barriga pensando nas ações baratas que poderão comprar.

O G1 conversou com quatro investidores que passaram a operar na Bovespa em 2009 ou 2010. Com conhecimento de quem acompanha o mercado, eles seguem a cartilha dos especialistas: não aplicar todo o dinheiro disponível em ações, ter paciência e pensar no longo prazo.

O universitário Roberto Fleck, por exemplo, até que poderia ficar se lamentando, mas cita o mantra de quem entende do assunto para mirar o futuro. "Meu foco é longo prazo. Se você olhar um gráfico de 10 a 20 anos, essa crise vai ser um buraco pequeno num gráfico ascendente. Procuro olhar como oportunidade", diz.

Fleck, de 21 anos, entrou na bolsa em 2009, quando o mercado se recuperava. Aproveitou o período e chegou a ter ganhos de 30%. Mas manteve o dinheiro aplicado e viu a valorização ir embora.

"Não vendi nada quando estava na alta. O que tive de ganho agora volta para o zero a zero. É meio frustrante ver o que você já poderia ter ganho ir embora. Mas mantenho o sangue frio", diz ele.

Ao conversar com o G1 durante o pregão da Bovespa de segunda, ele disse que, diante da queda na bolsa, procura manter em mente outro princípio básico do mercado de ações.

"A gente olha com mais frequência, mais por curiosidade, para ver como o mercado está reagindo às notícias. No meio da crise não tem muito o que fazer, é aguardar com paciência e ver qual é uma boa hora de entrada. Não dá para sair correndo da bolsa, agora é a pior hora", aconselha.

O administrador de empresas Gilberto Júnior Fernandes, de 26 anos, também procura manter a calma quando vê os índices caírem. "Não é nada bom ver o preço das suas ações diminuindo e você pensar "nossa, está muito baixo". Por outro lado, vejo o seguinte: não vou vender, vou esperar o momento certo para comprar mais e, assim, vou evitando a angústia", relata.

Antes de entrar na bolsa, em 2009, ele procurou livros, sites especializados e simuladores. Mesmo assim, cometeu erros e teve que repensar os investimentos.

"Fui um pouco descontrolado no início, seduzido a comprar, só que perdi um pouco de dinheiro e readequei minha estratégia. Agora, tenho a estratégia focada em longo prazo. Não vendo mais minhas ações. Pode cair, subir, oscilar bastante", diz. Fernandes acompanha o noticiário no dia a dia e, nos finais de semana, lê o balanço das empresas em que investe.

Apartamento investido na bolsa
Não é de hoje que a Bovespa tem caído. Passada a crise internacional que afetou os mercados de todo o mundo em 2008, a Bovespa voltou a subir em meados de 2009 e teve um bom desempenho ao longo de 2010. Mas, este ano, a trajetória da bolsa brasileira tem sido de queda.

O desenhista-projetista Thiago Barros, de 25 anos, diz que se acostumou com as altas e baixas da bolsa e conta que aprendeu muito ao observar como fatos da economia repercutem no mercado.

O rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos e a queda das bolsas no mundo nesta segunda, por exemplo, foram lições para ele.

"Gosto desse movimento de alta e baixa, acho que faz parte. Então, procuro me manter inteirado, independente de estar caindo ou descendo. Acho que é importante saber o que faz uma ação subir, mas também o que faz ela cair."

Barros aplica outra orientação dos especialistas: diversificar os investimentos. Ele entrou na bolsa brasileira no ano passado, inspirado pelo best seller "Pai Rico, Pai Pobre". Começou investindo o dinheiro das férias. Depois, percebeu uma valorização no mercado imobiliário, vendeu o apartamento e aplicou 80% do valor no mercado acionário.

Passado um tempo e alguma perda, interrompeu a maneira "agressiva" de aplicar. Não olha mais apenas os gráficos que mostram o comportamento das ações, mas também os fundamentos das empresas. Não investe mais "dinheiro novo" na Bovespa, só utiliza o lucro que obtém nas operações para fazer novos investimentos ali mesmo. E o que sobra de seu salário agora vai para prestações de novos apartamentos.

‘Pulo do gato’
Poupar para poder investir mais é outra estratégia dos novatos. Após dois anos de "vacas magras", com estratégias consideradas arriscadas até para investidores experientes, o estatístico Davi Casale Aragon, de 32 anos, não vê a hora de se recuperar do prejuízo.

"Comecei em janeiro de 2009. Como a grande maioria, não me preparei. Entrei com R$ 40 mil e acabei [o ano] com uma desvalorização de quase 30%. Depois, segurei 2010 inteiro só perdendo. Com o que sobrou, fui pulando de galho em galho, de operação em operação. No começo deste ano, resolvi fazer um curso de ações que abriu a minha cabeça. Meus R$ 40 mil diluíram para R$ 2 mil, estou em posição comprada e agora estou dando risada. Poupei bastante em renda fixa todo esse tempo. Estou me preparando para dar o pulo do gato e comprar ação barata. Sei que vou recuperar os R$ 40 mil perdidos e ganhar mais um pouco. Posso falar que R$ 40 mil foi um preço razoável para eu ter buscado conhecimento. Foi um curso barato", diz.

Se antes de fazer o curso ele tentava obter lucro no curto prazo, comprando e vendendo em intervalos de semanas, agora Aragon pensa em se aposentar daqui a 20 anos com a mesma renda.

A forma de operar também mudou: hoje, o estatístico diz que dorme tranquilo administrando uma carteira formada por ações de 15 empresas reconhecidas no mercado.

"Todo dia 5, compro a mesma quantia em reais de um papel. Vou alternando entre 15 papéis na carteira. Então, a cada ano, acabo rodando a carteira duas vezes. Compro, por exemplo, R$ 500 de cada uma. Esse dinheiro vai comprar mais ou menos papéis de acordo com o mercado. Com isso, a carteira vai sendo balanceada em termos de preço, do valor das empresas, e de mercado, porque tem horas em que as comoditties vão estar mais caras ou mais baratas", explica.

Como só opera uma vez por mês, Aragon não fica vidrado no noticiário.

"Leio porque gosto, mas não passo nem uma hora por dia lendo. Acompanhar pregão, essas coisas, é só quando quero me divertir. Fico vendo ‘a Bovespa caiu 8%, meu Deus’. Não estou ligando para isso porque minha estratégia é entrar no home broker uma vez por mês e pronto. Em época de crise, uso um gráfico ou outro para analisar tendências e ver quando vou dar o pulo do gato para comprar. Mas é bem tranquilo, nada estressante", acrescenta.

Fonte:

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Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir