Categoria Geral  Noticia Atualizada em 31-08-2011

Governo não investiu o necessário em bondes no Rio, diz secr
"Ninguém podia imaginar que uma tragédia pudesse acontecer", afirma Lopes. Mais cedo, governador Cabral afirmou que veículos são sucateados.
Governo não investiu o necessário em bondes no Rio, diz secr
Foto: www.g1.com

O secretário estadual de Transportes do Rio, Júlio Lopes, afirmou no fim da manhã desta quarta-feira (31) que faltaram investimentos nos bondes de Santa Teresa. No sábado (27), cinco pessoas morreram e mais de 50 ficaram feridas quando um bondinho tombou nas ruas do bairro.

"De fato o que acontecia é um processo que tínhamos muitas prioridades no governo e não se fizeram os investimentos no bonde no montante que era necessário. Nós investimos recursos significativos, mas não no montante que se poderá investir agora em função dessa trágica ocorrência. O que estou dizendo é que os investimentos que foram feitos precisam ser muito ampliados", disse ele, pouco antes de se encontrar com o presidente do Detro, Rogério Onofre, que foi nomeado pelo governador Sérgio Cabral como interventor de bondes.

Segundo Júlio Lopes, o valor investido, apesar de significativo, não foi suficiente: "isso é uma opção do governo. O que foi investido foram R$ 14 milhões, que foi um valor significativo, porque ninguém podia imaginar que uma tragédia pudesse acontecer", afirmou.

Mais cedo, no entanto, Cabral afirmou que não houve falta de investimento no sistema. "Foram R$ 14 milhões em investimentos para a recuperação de bondes e trilhos, isso foi feito. Mas me parece que houve problema de gerência", acrescentou em evento pela manhã.

Interventor
O trabalho com o novo interventor de bondes, Rogério Onofre, começou nesta quarta-feira durante reunião com engenheiros e o próprio secretário de Transportes, Júlio Lopes, no prédio da Secretaria de Transportes, em Copacabana.

"Reuni uma equipe 15 interventores do Detro e começamos a fazer um trabalho de levantamento do bonde da parte legal, do Tribunal de Contas, da parte de manutenção para depois desse levantamento nos fazermos um diagnostico o mais rápido possível para apresentar para o governador as soluções", disse.

Onofre admitiu ser a favor da privatização do serviço. "Pessoalmente eu sou favorável que a iniciativa privada opere aquilo lá (o sistema de bondes). O Detro tem uma facilidade maior porque temos recursos próprios, em caixa. E o governador disse que se existir necessidade o Detro vai injetar recurso para modernizar os bondes", disse ele.

E concluiu: "O que o governador quer é o que o povo do Rio exige, é ação. A missão é fazer um diagnóstico, e a partir disso resolver. Acabou a época do blá blá blá. Nós temos que fazer acontecer", prometeu.

Cabral afirma que bondes são sucateados
"A verdade é que a frota dos bondinhos é uma frota sucateada. Ela é uma frota onde foram reformados alguns bondes e outros não. A verdade também é que não há controle de passageiros. (...). Me parece que era um problema de gerência. De gerência desse tipo de controle", afirmou o governador Sérgio Cabral, na manhã desta quarta-feira (31).

O governador lamentou o acidente no sábado e disse que o estado não fugirá de suas responsabilidades. "Nossa manifestação de consternação e solidariedade aos familiares e vítimas dessa situação. O estado se coloca à disposição e não vai fugir das duas responsabilidades", disse.

Sobre o fato do bondinho estar com capacidade de passageiros além do permitido no dia da tragédia, Cabral confirmou que houve negligência. "Que ele (o bonde) não é um transporte de massa, não é. Que há um descontrole na entrada (de passageiros), há. Havia um excesso de passageiros absurdo na hora da tragédia, havia", acredita.

"Eu não vou me precipitar, já ouvi muitas opiniões a respeito. Eu estou colocando o Rogério Onofre para me dar um diagnóstico verdadeiro, para relatar de fato quais são as condições para que nós possamos juntos, com a sociedade e autoridade, decidirmos o que queremos para o bonde de Santa Teresa", disse. Perguntado pelos jornalistas sobre a possível exoneração do secretário de Transportes, Júlio Lopes, Cabral preferiu não se pronunciar.

Treze revisões em um mês
O bonde envolvido acidente no sábado (27) foi para a manutenção 13 vezes em agosto, cinco para consertar o freio. As informações são de um relatório distribuído pela Central, companhia que administra os bondes.

Segundo o documento, no dia 21, o bonde deixou de sair por problemas no freio, e só voltou a operar no dia 25, com a substituição da sapata, uma peça que trava a roda.

Para os especialistas, a quantidade de reparos seguidos indica problemas no bondinho: "Existia pelo menos alguma coisa normal, porque ele trocou as sapatas, um dia depois ele troca outra, um dia depois o ‘cara’ reclama da roda. Isso foi assim até chegar a véspera do acidente", disse o engenheiro de transportes Fernando Macdowell.

O engenheiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Moacyr Duarte, disse que o relatório é uma declaração de falta de planejamento. Para o engenheiro de transporte, Sérgio Beluciê, foi uma irresponsabilidade liberar o bonde para o transporte de passageiros, depois de tantos consertos seguidos nos freios.

A Central informou que possui sete bondes antigos e outros sete reformados. Dos antigos, de acordo com a companhia, apenas um estaria em condições de circular.

Medidas
Os bondes de Santa Teresa vão continuar fora de circulação até que sejam implementadas as medidas de segurança que o governo do estado promete tomar. A principal delas foi a transferência da gestão dos bondinhos, que deixa de ser da Secretaria de Transportes e passa para o presidente do Departamento de Transportes Rodoviários (Detro), Rogério Onofre.

"Vamos procurar inicialmente fazer um trabalho de levantamento, de auditagem, saber dos problemas para a gente poder apresentar para o governador o mais rápido um diagnóstico com as soluções", disse Onofre.

O presidente do Detro vai se reunir nesta quarta-feira (31) com envolvidos no sistema de bondes de Santa Teresa para discutir a segurança do transporte. De acordo com o Detro, a intervenção não tem prazo para acabar, e o transporte por bondes continuará suspenso por prazo indeterminado.

Fonte:

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Por:  José Rubens Brumana    |      Imprimir