Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 05-09-2011

PROFESSOR GENTIL – O INEVITÁVEL DIA
Sábado último fui surpreendida com a morte do meu querido e já saudoso professor Gentil Soares, homem que marcou a minha vida como a de muitos estudantes de Marataízes e Itapemirim.
PROFESSOR GENTIL – O INEVITÁVEL DIA

Sábado último fui surpreendida com a morte do meu querido e já saudoso professor Gentil Soares, homem que marcou a minha vida como a de muitos estudantes de Marataízes e Itapemirim. Aprender história com ele era uma aventura gostosa, ele ensinava com entusiasmo, com determinação, andando pela sala com as mãos entrelaçadas e colocadas atrás das costas e com um português impecável, coisa rara se ouvir.

Por sua postura, inspirava grande respeito entre os alunos, mas não deixávamos de dar boas gargalhadas em suas aulas como quando ele perguntava em tom professoral: Quem foi que trouxe as primeiras cabeças de gado para a capitania do Espírito Santo? E Creuza de Leonel respondia de prontidão: Foi Seu Argemiro Mon. Ou ainda quando era dia de vacina na escola e ele era o primeiro a comandar a retirada, pois morria de medo de agulha. O desfile do dia 7 de setembro não era o mesmo se o professor Gentil não fizesse um lindo e orgulhoso discurso, falando sobre a Independência do Brasil.

Ninguém fazia esse momento ficar tão grandioso quanto ele. Gentil era um homem grandioso, ético, trabalhador, casado por 55 anos com Nilza, companheira de todas as horas. Mas das muitas peculiaridades do professor Gentil, uma era conhecida de todos nós: Ele não entrava em cemitério, independente do grau de importância do defunto. Ele acompanhava o cortejo até a porta, e ficava parado embaixo de um pé de flamboyant, apavorado. E, por mais que fosse convidado a entrar, recusava veementemente o convite, balançando o dedo indicador de um lado para o outro, reforçando a sua recusa. Mas há um dia em nossa vida em que já não podemos escolher, um inevitável dia em que tudo é feito à nossa revelia e, onde, inertes, já não sentimos mais medo, pavor ou dor.

O dia 3 de setembro foi o seu dia inevitável, aquele em que você não pode mais ficar embaixo do pé de flamboyant e teve que ser carregado para o lugar que você tanto temia. Fiz questão de acompanhar bem de perto este momento e caminhei ao seu lado. Não sei se é coisa da minha cabeça mas percebi um quê de desistência em seu rosto e depois de paz. No final das contas entendi que também era de alegria, porque você estava indo para ficar bem pertinho do seu amado neto Vítor. Quer motivo maior do que este para se perder o medo de entrar em cemitério?

    Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Ivilisi Soares Azevedo    |      Imprimir