Categoria Economia  Noticia Atualizada em 09-09-2011

Garimpeiro artesanal abre buraco em casa para tentar achar ouro
Mina foi fechada em 1992, mas método artesanal persiste em Serra Pelada. Acordo com empresa deverá permitir extração mecanizada em 2012.
Garimpeiro artesanal abre buraco em casa para tentar achar ouro
Foto: www.g1.com

Lauro Ernesto Frota, 53 anos, é quase uma lenda na região de Serra Pelada, no Sul no Pará. Maranhense, chegou ao local em 1980 para trabalhar na antiga cava, que foi o primeiro garimpo artesanal aberto no local. Foi dono de 22 barrancos no garimpo, mas perdeu tudo quando o governo federal extinguiu as atividades no local, em 1992.

Acordo da cooperativa local com uma empresa canadense deverá dar início em 2012 à extração mecanizada de minério em Serra Pelada, mas Frota é um dos que ainda resistem, na tentativa de conseguir achar ouro por meio do garimpo artesanal.

Em 17 e 18 de agosto, o G1 esteve em Serra Pelada e mostra em uma série de reportagens o projeto e a estrutura da nova mina, o cotidiano da localidade e a esperança dos que ainda não desistiram do sonho de encontrar ouro.

Em 2003, Lauro Frota recebeu a visita de um "amigo", que trouxe um aparelho que, segundo ele, indicou a presença de ouro no terreno onde está instalada sua casa, na vila de Serra Pelada.

Desde então, Frota cava manualmente um buraco próximo à cozinha. O buraco já tem 84 metros de profundidade. Para evitar desmoronamento, ele utiliza pedaços de madeira como forma de contenção da mina artesanal.

"Eu ainda não fui embora porque gosto de garimpo. Às vezes, acho que teve um engano ao dizerem que tem ouro aqui, mas agora que comecei não vou desistir", diz o garimpeiro.

Para abrir a estreita cava, Frota conta com a ajuda de outros dois garimpeiros. Uma espécie de elevador artesanal leva os homens até o subterrâneo da cava, onde não há sistema de ventilação.

Os garimpeiros também não usam máscaras de oxigênio. A comunicação improvisada é feita por meio de um cano de PVC. Três galerias internas já foram abertas, segundo Frota, com cerca de 20 metros cada. As cavas já invadiram o espaço embaixo da sala da casa. Mas ouro, por enquanto, não foi encontrado.

"Nos tempos da cava antiga, cheguei a tirar 40 quilos de ouro. Comprei restaurante, dormitório, investi o dinheiro que ganhei em Serra Pelada aqui mesmo. Com o tempo, perdi tudo. Agora, espero ainda voltar a encontrar ouro aqui neste buraco. Desta vez, se achar ouro, não vou investir aqui. Quero sair de Serra Pelada", afirma.

Na lama
Coberto de lama, Benedito Soares de Andrade, conhecido como "Papagaio", passa mais de oito horas por dia em um garimpo artesanal. Aos 71 anos, ele carrega diversas vezes ao dia, de segunda a sábado, cerca de 80 quilos de entulho em um carrinho de mão.

Garimpeiro artesanal, Papagaio chegou a Serra Pelada em 1984. Veio sozinho do Ceará, com a esperança de ficar rico. O garimpo manual fechou em 1992, mas ele não desistiu.

Ainda hoje, segue na busca artesanal pelo ouro de Serra Pelada, no terreno próximo ao local onde a nova mina subterrânea está sendo aberta, em parceria com a cooperativa dos Garimpeiros e a empresa canadense Colossus.

"Eu nasci para isto aqui. Enquanto tiver saúde vou trabalhar. Ave Maria! Cara novo nem chega aqui. Não agüenta nem carregar um carrinho destes de 80 quilos", disse Papagaio, enquanto transportava um carrinho de cascalho.

O trabalho do garimpeiro, que atuou na antiga Serra Pelada, não difere muito do que era realizado na grande cava que ficou conhecida como "formigueiro humano".

Manualmente, Papagaio e outros dois garimpeiros passam horas por dia lavando os rejeitos que sobraram da antiga cava em busca de ouro. Eles usam mercúrio, um produto altamente tóxico, para auxiliar na separação do minério.

Nos meses em que o trabalho é mais intenso, o trio chega a retirar dos entulhos 30 gramas de ouro. Em Serra Pelada, o ouro pode valer até R$ 70 a grama. No mercado internacional, pode chegar a R$ 94.

"A gente trabalha direto para tirar R$ 1 mil ao mês. A ilusão de enricar acabou, mas eu acho que sou um homem de sorte. Sempre acho um pouquinho de ouro para viver aqui", diz o garimpeiro Paulo Lopes, 63 anos, que está na região de Serra Pelada desde 1983.

O barranco onde os três trabalham apresenta rachaduras. O risco de desmoronamento aumenta a cada quilo de entulho lavado, segundo eles próprios.

Em um barranco próximo, Delsivaldo Marinho Amaral, 30 anos, mostra a rachadura na cava onde ele ajuda a lavar os rejeitos. Seu pai, que também era garimpeiro, morreu soterrado em um desmoronamento na antiga cava.

"Vontade de sair daqui a gente tem, mas não tem condições. O medo está sempre presente, mas não tem o que fazer. É preciso estar aqui", diz o garimpeiro.

Sem recursos para deixar Serra Pelada, os garimpeiros artesanais improvisam a exploração na região, em locais próximos onde a nova mina subterrânea está sendo construída.

Desde que chegou ao local em 1982, José Chaves Farias só conseguiu retornar ao Maranhão duas vezes para ver a família. A primeira visita demorou 27 anos para ocorrer.

Apesar das dificuldades, Farias diz que só admite sair do garimpo morto ou com dinheiro. Sócio da Cooperativa de Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), ele espera receber o pagamento pelo ouro que começar a ser explorado pela parceria com a empresa canadense.

"Ou vou encaixotado ou vou com dinheiro. Estou quase cansado, só falta morrer. Mas espero que Deus me dê um pouco mais de tempo para ter a oportunidade de ver o resultado disso tudo aqui. Todo o tempo e a vida que deixei aqui, acredito que não foi em vão", diz Farias.

Fonte:

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Por:  José Rubens Brumana    |      Imprimir