Categoria Politica  Noticia Atualizada em 21-09-2011

Oposição viu "cinismo" nas palavras de Passos
Ao optar por não deixar cair expressamente a confiança política em Alberto João Jardim, Pedro Passos Coelho deixou patente, na entrevista da noite de terça-feira à RTP, “uma atitude dúbia”, considera o Partido Socialista, que fala ainda de uma “submissão
Oposição viu
Foto: tv2.rtp.pt

Ao optar por não deixar cair expressamente a confiança política em Alberto João Jardim, Pedro Passos Coelho deixou patente, na entrevista da noite de terça-feira à RTP, "uma atitude dúbia", considera o Partido Socialista, que fala ainda de uma "submissão total ao programa da troika". Entre os demais partidos da Oposição, a prestação do primeiro-ministro também não convence. À esquerda dos socialistas, denuncia-se mesmo "um exercício de cinismo" e a ausência de "uma ideia" para "os principais desafios do país".

Nos primeiros instantes da entrevista à RTP, Pedro Passos Coelho invocou os "custos de reputação" decorrentes da omissão de dívidas nas contas públicas da Madeira para afastar qualquer possibilidade de aparecer ao lado de Alberto João Jardim na campanha para as eleições regionais de 9 de outubro.

"Nas atuais condições", vincou Passos Coelho, "não seria compreensível que o primeiro-ministro fizesse qualquer confusão de caráter partidário". Ao mesmo tempo, repetiu a tese de que o caso "tem, em primeira instância, de ser avaliado quer pelos eleitores da Madeira, quer pelos militantes do PSD-Madeira". Para o PS, fica demonstrada "uma atitude dúbia".

"Reconheço que o primeiro-ministro fez uma análise correta do dano que o comportamento do Governo Regional provocou a todos os portugueses, mas é inexplicável o facto de continuar a apoiar a candidatura de Alberto João Jardim", reagiu ontem à noite o líder do grupo parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, em declarações citadas pela agência Lusa.

Na opinião de Zorrinho, Passos Coelho "foi corajoso enquanto primeiro-ministro, ao reconhecer o forte dano que o comportamento de Alberto João Jardim está a provocar, mas muito fraco enquanto líder do PSD, porque se sente desconfortável em ir fazer campanha à Madeira, mas fica confortável com o facto de este ser o candidato apoiado pelo PSD".

O dirigente socialista argumentou que só uma revogação da confiança política em Jardim daria ao primeiro-ministro a "autoridade moral para continuar a exigir unidade de todos os portugueses nesta altura de sacrifícios".

Carlos Zorrinho sustentou ainda que Pedro Passos Coelho "deixou muito por esclarecer" durante a entrevista, tendo apenas indiciado "que este Governo não tem nenhum programa económico": "A única política económica é a submissão total ao programa da troika".

"Um exercício de cinismo"
Para o PCP, as respostas de Passos Coelho à estação pública podem ser resumidas como "um exercício de cinismo" de quem demonstrou estar "comprometido com os interesses dos grandes grupos económicos". Foi com esta avaliação que Jorge Cordeiro, da Comissão Política dos comunistas, reagiu às declarações do primeiro-ministro.

Passos Coelho, afirmou o responsável do PCP, fez prova da "intenção de manter o rumo da vida política nacional que condena o país à recessão e ao declínio económico e milhões de portugueses ao empobrecimento". Por isso, "o que se impõe é não apenas exigir o abandono deste caminho sem saída para o país, mas uma mobilização de indignação e protesto por parte dos portugueses".

Quanto às respostas do primeiro-ministro sobre o buraco orçamental da Madeira, Jorge Cordeiro criticou "posicionamentos inúteis" e assinalou que "o percurso de desgoverno regional, ao longo destes mais de 35 anos, é inseparável das responsabilidades do PSD". E "não há nenhum posicionamento tático de Passos Coelho que iluda esse problema".

Pelo Partido Ecologista "Os Verdes", a deputada Heloísa Apolónia fez uma leitura semelhante e lamentou que os madeirenses, já "enganados pelo Governo Regional", sejam agora confrontados com a "promessa de mais sacrifício por parte do Governo da República".

"Lavar as mãos como Pilatos"
Do Bloco de Esquerda saíram críticas igualmente ásperas à postura adotada pelo primeiro-ministro no dossier insular. No entender do deputado João Semedo, Pedro Passos Coelho mostrou-se "muito contido". Isto porque "nunca censurou explicitamente Alberto João Jardim e nunca disse que lhe retirava a confiança política".

Semedo considerou que o primeiro-ministro "não pode lavar as mãos como Pilatos do que o próprio PSD e Alberto João Jardim fizeram ao longo destes anos", acrescentando que "a prova dos nove sobre a intenção do Governo" vai ficar clara "no que for o plano de resgate da dívida pública da Madeira".

De resto, o deputado bloquista concluiu que, "durante uma hora", Passos Coelho "não teve uma ideia, uma proposta para os principais desafios do país, que são o crescimento da economia e a criação de emprego": "Sobre isso nada disse e o que disse foi preocupante. Foi anunciar venda ao desbarato das empresas públicas, admitindo vendê-las, se necessário fosse, por apenas um euro, anunciando redução da Taxa Social Única, que terá como inevitável consequência o aumento do IVA".

Na entrevista à estação pública, o primeiro-ministro admitiu como "uma possibilidade" a eliminação da taxa intermédia do IVA. Contudo, descartou um agravamento da taxa normal, reafirmando a intenção de avançar com "uma reclassificação de bens e de serviços, de produtos que hoje estão taxados ou à taxa intermédia ou à taxa reduzida".

Fonte: tv2.rtp.pt
 
Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir