Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 05-01-2012

Por falta de leitos em UTI, cirurgia de transplante de rim é restrita em MS
Segundo secretaria de Saúde, rede pública restringiu cirurgia há um ano. Todos os rins de pacientes com morte cerebral foram para outros estados.
Por falta de leitos em UTI, cirurgia de transplante de rim é restrita em MS
Foto: g1.globo.com

O ano de 2011 foi frustrante para as 352 pessoas que, segundo a Central de Transplantes de Mato Grosso do Sul, estão à espera de doação de rim no estado. Foram coletados 22 órgãos de pessoas que tiveram morte encefálica, mas nenhum foi encaminhado a pacientes do estado. Todos foram levados para outras regiões do país.

Segundo a secretaria estadual de Saude, transplantes de rim estão sendo feitos apenas quando envolve doadores vivos. A compatibilidade é um fator de risco e que pode inviabilizar a cirurgia, tornando a espera longa. A secretaria informou que a rede pública não faz transplantes com órgãos de pacientes com morte encefálica há um ano.

O diretor clínico da Santa Casa de Campo Grande, onde os transplantes são realizados, Luiz Alberto Kanamura, disse ao G1 que os procedimentos que envolve doadores com morte encefálica foram interrompidos pela falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

"Antes, as cirurgias em realizadas sem esses leitos, mas depois que perdemos dois pacientes, resolvemos não realizar mais esse tipo de cirurgia", disse Kanamura. Segundo o diretor clínico, as operações não serão feitas enquanto não foram providenciados os leitos.

Kanamura afirmou que, na época em que os transplantes eram realizados, o número de cirurgias desse tipo por ano chegava a 60, incluindo aquelas com rins que chegavam de outros estados. "No passado, quando realizamos o procedimento, chegamos a efetuar 63 transplantes, todos utilizando rins de doadores mortos, nem precisávamos recorrer aos vivos", relata o diretor clínico.

O diretor afirma que a solução do caso é burocrática, já que o hospital tem mão de obra e a infraestrutura necessária para realizar esse tipo de operação. "A solução está nas comissões de saúde municipal de estadual. Eles que podem determinar ou não se poderemos reservar esse leito de UTI para os transplantados. A primeira reunião deve ocorrer em fevereiro. Acredito que no máximo em 60 dias teremos uma posição sobre o caso", explica.

Outra alternativa, que segundo o presidente poderia resolver a situação seria realizar o procedimento no Hospital Regional de Campo Grande, que também está credenciado a realizar os transplantes renais. A secretaria de Saúde informou que o hospital também não está fazendo o procedimento.

O secretário adjunto de saúde do estado, Eugênio de Barros, disse ao G1 que o caso não é mais de responsabilidade da secretaria, pois já foi providenciada toda a documentação necessária para viabilizar esse tipo de cirurgia na Santa Casa.

Espera

O comerciante aposentado José Roberto Ost, de 57 anos, está há sete anos na fila por um transplante de rim em Campo Grande. Ele é presidente da Associação dos Doentes Renais Crônicos e Transplantados (Recromasul) e afirma não ter parentes com compatibilidade de órgão.

Ost passa por três sessões de hemodiálise por semana. Cada uma delas dura quatro horas. Diante da situação, o comerciante aposentado afirma que ele e os outros pacientes só têm duas opções. "Ou ficamos aqui e vamos para o cemitério ou vamos para São Paulo tentar o transplante por lá".

Por causa da dependência em relação ao tratamento, Ost afirma que precisou se aposentar por invalidez. "Com os efeitos colaterais do tratamento e também o tempo que gasto com as sessões, não tinha mais condições de trabalhar. Desde jovem trabalhei com venda de móveis, tinha duas lojas e tive que vendê-las. Hoje a grana é curta", afirma.

A coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Claire Carmen Miozzo, afirma que a redução da fila poderia ser maior se a rede pública em Mato Grosso do Sul fizesse o transplante.

"Não podemos receber rins doados de outros estados e as ofertas são frequentes. Esta semana recebemos a oferta de um rim, mas não pudemos aceitar", explica.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir