Categoria Geral  Noticia Atualizada em 11-01-2012

Após perder filhas em chuva na serra do RJ, mãe comemora nova gravidez
Há um ano, Perla Oliveira perdeu casa, três filhas e outros oito parentes. Outras vítimas da tragédia ainda encontram desafios para reconstruir vida.
Após perder filhas em chuva na serra do RJ, mãe comemora nova gravidez
Foto: g1.globo.com

Há um ano, a chuva levou a casa, as três filhas e outros oito parentes de Perla Oliveira. Mas a correnteza não destruiu a esperança da dona de casa de Teresópolis, uma das cidades mais castigadas pelo temporal que atingiu a Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011. Agora, grávida, ela tenta reconstruir a família que a chuva deixou apenas na lembrança.

A catástrofe provocada pelas chuvas provocou a morte de mais de 900 pessoas. As principais cidades da região foram devastadas e 30 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas. Somente em Nova Friburgo, mais de 400 pessoas morreram.

Na noite de 11 de janeiro de 2011, Perla conta que abrigou as três filhas, com idades entre 3 e 15 anos, em sua cama. Ela acreditava que ali era o local mais seguro para proteger a família da chuva. No entanto, na madrugada, uma tromba d´água destruiu sua casa, no bairro de Campo Grande, o mais afetado do município.

Filhas desaparecidas

A dona de casa relata que ficou agarrada ao colchão junto com as meninas e foi arrastada por alguns quilômetros, em meio a pedras e árvores caídas. Após o pesadelo, Perla se lembra apenas de acordar na manhã de 12 de janeiro, com a lama encobrindo seu corpo, e sem as filhas ao lado. Em um ano, apenas o corpo de Nathally, de 15 anos, foi encontrado. Mayara, 3, e Maria Eduarda, 5, ainda continuam desaparecidas.

"Mesmo após um ano, ainda não consigo encaixar na minha cabeça que perdi todas as minhas filhas. Ainda sonho que as outras duas estão vivas, talvez em algum orfanato. Eu não tive culpa de nada, tentei protegê-las. Agora vou ser mãe de um menino, que com certeza vai trazer muita felicidade a minha família", desabafou Perla, que ainda continua morando em Campo Grande.

Perla explica que foi nascida e criada no bairro marcado pela tragédia, e optou em continuar morando lá por acreditar que dessa maneira está mais perto das filhas. O baixo valor do aluguel dos imóveis também ajudou na escolha. Ela paga R$ 350 por uma casa de dois quartos.

"Acho que minha casa não está em área de risco. Com os R$ 500 do Aluguel Social, não consigo nada muito melhor que isso. Aqui no bairro todos me ajudam, inclusive já ganhei carrinho e algumas roupinhas para o meu bebê", falou Perla, que divide o pequeno espaço do quarto com um cilindro de oxigênio, já que sofre de uma doença crônica no aparelho respiratório.

Mulher salva por corda

A chuva também marcou a vida de Ilair Pereira, 53 anos, conhecida pelas imagens em que aparece sendo salva por uma corda, após sua casa desabar em São José do Vale do Rio Preto. Daquele dia, ela ainda guarda a roupa que usava e o esforço de seus vizinhos que a socorreram. Além do imóvel, ela também perdeu o cãozinho de estimação, Beethoven.

As cenas do resgate de Ilair correram o mundo e comoveram pessoas, que doaram casa, animais e móveis para a vítima. Desde abril de 2011, ela vive em uma nova residência presenteada pelo programa "Caldeirão do Huck", da TV Globo. Como companhia, ela ganhou dois cães. Um deles recebeu o mesmo nome do morto na enchente.

"Naquela hora, eu me ajoelhei na laje, e coloquei minha vida nas mãos de Deus", relembra Ilair, que acredita que o bairro onde morava, Santa Fé, nunca mais voltará a ser o que foi antes.

Em 9 de janeiro deste ano, o ex-marido de Ilair, o pedreiro Moisés da Costa, perdeu a casa durante a chuva. No ano anterior, ele abrigou a antiga companheira em seu lar. Em 2012, ela é quem abriga Moisés.

Desafio no recomeço

Para o comerciante Rodrigo Esteves, 33 anos, o recomeço após as chuvas de 2011 também é um desafio. Com o transbordamento do Rio Preto, que cerca São José do Vale do Rio Preto, a água chegou ao teto de sua oficina mecânica. No local estavam 15 carros. Todos ficaram destruídos.

Rodrigo diz que ficou sete meses com a loja fechada. No período, ele contou com a ajuda de amigos e parentes para limpar o local, consertar as máquinas, e retirar os veículos soterrados. Após um ano, apenas metade da oficina funciona. Nas paredes ainda está uma mancha marrom, resquício da água barrenta.

"Recomecei do zero. Enquanto limpávamos a loja, encontramos um corpo debaixo da lama. Ainda não consegui um empréstimo, infelizmente é muita burocracia, e acaba que quem precisa fica sem o dinheiro", argumentou o comerciante.












Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir