Categoria Economia  Noticia Atualizada em 13-01-2012

"Falar de desindustrialização no Brasil é exagero", avalia Paul Singer
Para economista e secretário do MTE, cenário é pouco provável. Realidade brasileira é diferente da dos EUA, onde indústria sumiu, avalia.

Foto: g1.globo.com

Apesar de 2011 não ter sido um bom ano para a indústria nacional, que sofreu com fatores como o câmbio desfavorável, a forte concorrência dos importados e a crise internacional, para o economista Paul Singer falar em uma desindustrialização no Brasil, apesar de ser uma possibilidade, ainda é "exagero" e "não parece provável".

No início dos anos 2000, Singer relatou em um artigo que a indústria, à época, havia perdido importância econômica, por movimentar valor menor que os serviços. Também perdera importância social, porque muito menos gente depende dela; e política, pela diminuição do peso eleitoral.

Cerca de dez anos depois, Singer, que atualmente é secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), falou ao G1 sobre o tema.

Segundo o economista, a perda de importância da indústria no país segue ao menos do ponto de vista da força de trabalho. "Do ponto de vista do emprego, a indústria encolheu. Do ponto de vista da sua importância na vida humana, ela continua sendo muito importante. Nós precisamos de bens materiais, desde alimentos, coisa produzida pela agricultura, água, remédio, roupas, casas, meios de transporte, enfim, nada indica que a indústria vá desaparecer", diz.

Para ele, ao longo dos anos houve uma dispersão da indústria no território nacional, mas São Paulo segue como o principal motor. "Eu acho que falar de uma desindustrialização no Brasil é um pouco exagero. Por enquanto não houve nada disso ainda, poderá vir a acontecer, mas não me parece provável".

O economista compara a realidade brasileira com a norte-americana, onde, de acordo com ele, a indústria sumiu. "A indústria [no Brasil] não está estagnada, isso seria uma ilusão. Em um país específico, pode até estagnar. Os EUA literalmente se desindustrializaram porque transferiram grande parte da sua indústria, muito mais da metade, para a Ásia (...). Não é que indústria americana sumiu, ela foi deslocada geograficamente, mas com a mesma propriedade".

Singer sugere que no Brasil a questão da importação atrapalha mais. "Nunca importamos tantos produtos. Houve uma reversão, antes nós substituíamos importações, produtos importados passavam a ser produzidos aqui. Agora estamos importando produtos que eram produzidos aqui porque são mais baratos. (...) Há um parte disso que é do câmbio, o governo não está conseguindo desvalorizar o real em relação ao dólar", diz.

Em sua opinião, contudo, a indústria brasileira não tem se transferido para a China da forma como ocorre nos Estados Unidos. "A indústria brasileira, que eu saiba, não está indo para a China. Pode ter um ou outro caso", diz.

Para ele, porém, até a presença de empresas americanas na China pode não ser definitiva. "Isso [nos EUA] não é definitivo. Como o dono continua sendo americano, em uma reversão eles podem até trazer as indústrias de volta para os EUA. Não é impossível isso. Mas nada indica por enquanto, porque os salários da China estão crescendo, mas ainda são infinitamente menores que no Brasil e muito menos ainda do que nos EUA. Por enquanto, a situação é essa, a China e os países próximos à China se transformaram na oficina do mundo", diz.

Ciência

Para Singer, o grande desenvolvimento dos serviços atualmente é resultado principalmente do avanço da ciência. "Hoje, um dos setores que mais cresceu na economia do mundo inteiro é exatamente a ciência, os cientistas são milhões. Quando eu era mais jovem, eles eram milhares talvez, e muito menos. (...). A variedade da ciência tornou-se muito grande e a demanda pelo conhecimento cientifico cresceu muito. Não virou banalidade. A ciência continua importante, é complexa etc., mas não é coisa só de elite mais".

Para o especialista, o acesso ao conhecimento é outro fator dessa mudança. "Inclusive, as pessoas estão hoje estudando para a vida inteira, antes você estudava para se formar para depois trabalhar, depois formar família. Eu diria que hoje a educação para a vida inteira não é um sonho, não é um absurdo (...). O mundo vai mudando, para melhor até", sugere.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir