Categoria Geral  Noticia Atualizada em 02-02-2012

"Nasci de novo", diz funcionário que sobreviveu à intoxicação em MS
Cícero Mendes foi uma das 28 vítimas da intoxicação em curtume. Em nota, empresa disse que está apurado as causas do acidente.

Foto: g1.globo.com

Durante cerca de três horas, o auxiliar de serviços gerais Cícero Mendes de Andrade, de 44 anos, permaneceu inconsciente depois de sofrer intoxicação no acidente ocorrido em um curtume em Bataguassu, a 335 km de Campo Grande, na última terça-feira (31). Segundo médicos que fizeram o atendimento às vítimas de reação química na unidade do Marfrig. "Nasci de novo", contou, nesta quarta-feira (1º) ao G1

O trabalhador relata que, por volta das 12h30 (horário de Brasília), colegas de setor começaram a gritar e diziam que havia um incêndio na unidade.

Andrade diz que os trabalhadores entraram em pânico e tentaram fugir às pressas do local. O auxiliar saiu do galpão sem ser afetado pelo gás. Mas ele diz que um sentimento de solidariedade o fez voltar à unidade.

"Foi um momento difícil, todo mundo sufocado. Vi pelo menos umas 15 pessoas caídas no pátio da empresa. Pensei em ajudar e voltei. Arrastei para fora a primeira pessoa que estava mais próxima da porta. Quando tentei carregar outro, andei uns poucos metros. Caí no chão e não vi mais nada", conta.

O trabalhador lembra que sentiu a garganta se fechar, impossibilitando a respiração. Andrade foi hospitalizado e, inicialmente, o caso foi considerado grave, mas ele recebeu alta no fim do dia. Agora, já recuperado, o auxiliar diz sentir-se como se nada o tivesse afetado. "Minhas forças estão normais e não sinto irritação nenhuma para respirar", afirma.

O auxiliar afirma que ainda tem vontade de continuar no emprego. "Quero continuar trabalhando, é com ele [emprego] que eu trago o pão para a minha família

O acidente

O curtume foi interditado após o acidente, na terça-feira (31) em que uma reação química causou a morte de 4 funcionários e intoxicação de outros 28 trabalhadores. Do total, 21 foram internados e apenas três permanecem em um hospital de Presidente Prudente (SP). Os outros 19, que estavam em uma instituição em Bataguassu, foram liberados na manhã desta quarta-feira (1º).

Logo após o acidente, a equipe entrou na unidade. Ontem, o vídeo desta vistoria foi divulgado pelo Corpo de Bombeiros. (Veja o vídeo ao lado).

O curtume de propriedade da empresa Marfrig Alimentos não passou por vistoria do Corpo de Bombeiros em Mato Grosso do Sul, sendo considerado irregular pela entidade. Segundo o tenente-coronel Joilson de Paula, relações públicas dos bombeiros, a vistoria é obrigatória e faz parte dos procedimentos que permitem o início da atividade.

O coronel explicou que, nesta vistoria, os bombeiros fiscalizam o funcionamento dos equipamentos de segurança, como extintores, iluminação de emergência e outros dispositivos de prevenção e combate a acidentes. Segundo o Corpo de Bombeiros, sem esse aval da corporação, a situação hoje é de irregularidade.

Segundo o Corpo de Bombeiros, essa situação não estaria diretamente ligada ao acidente. A empresa será notificada a regularizar a situação em prazo de 30 dias, podendo ser prorrogado por 90 dias.

Interdição

Ontem à noite, o Corpo de Bombeiros informou que a área do curtume já não está mais isolada e as equipes já finalizaram o trabalho de coleta de material. Em nota, a assessoria do Marfrig informou que irá manter a interdição.

A empresa informou ainda, por meio da assessoria, que está prestando apoio aos funcionários e na investigação que apura as causas do acidente.

A Polícia Civil abriu inquérito para averiguar as causas do acidente. A Polícia Militar Ambiental (PMA) aplicou multa de R$ 1 milhão, em decorrência da poluição que causou a morte e intoxicação dos funcionários.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir