Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 29-02-2012

Médico testa eficácia de 3 minutos de exercícios semanais
Sessões semanais de exercícios intensos, com duração de apenas alguns minutos cada uma, seriam suficientes para obter muitos dos benefícios alcançados com horas de ginástica convencional, segundo concluíram estudos recentes.
Médico testa eficácia de 3 minutos de exercícios semanais
Foto: cristianaarcangeli.com.br

Mas esses efeitos benéficos sobre a sua saúde e forma física são condicionados consoante a sua configuração genética, ou seja, os especialistas dizem que apenas indivíduos com determinados genes conseguem beneficiar do programa.

"Quando li pela primeira vez estudos que diziam que poderia melhorar a minha forma física de maneira significativa e mensurável fazendo apenas três minutos de exercícios intensos por semana, fiquei incrédulo", segundo uma testemunha que decidiu testar a eficácia da nova técnica.

"Mas essa alegação, aparentemente absurda, tem como base muitos anos de pesquisas feitas em vários países, incluindo a Grã-Bretanha. Resolvi testar a teoria", acrescentou.

A "cobaia" foi acompanhada pelo especialista Jamie Timmons, professor de Biologia do Envelhecimento na Birmingham University, em Birmingham, Inglaterra.

O programa de exercícios chama-se High Intensity Training (Treinamento de Alta Intensidade ou HIT, na sigla em inglês).

Timmons assegurou-lhe que fazer apenas três minutos de HIT por semana durante quatro semanas consecutivas notaria mudanças consideráveis em vários indicadores da sua saúde.

O primeiro indicador era a sensibilidade à insulina. A insulina remove o açúcar do sangue e controla a gordura no organismo. Quando deixa de produzir efeito, desenvolve-se diabetes.

"O meu pai era diabético e morreu por complicações decorrentes da doença", disse.

Timmons foi enfático. Segundo ele, pesquisas feitas por vários centros mostram que três minutos de HIT por semana produzem uma melhoria de em média 24% na sensibilidade da pessoa à insulina.

De acordo com o especialista, a segunda melhoria que provavelmente seria notada seria um aumento na resistência aeróbica - medida da capacidade dos pulmões e do coração de bombear oxigénio pelo corpo.

A resistência aeróbica é considerada um excelente indicador da saúde futura de uma pessoa, embora os especialistas não saibam explicar por que.

"O que se sabe é que trata-se de um indicador muito poderoso da sua saúde futura", disse Timmons.

Então, se a «cobaia humana» melhorasse a sua sensibilidade à insulina e resistência aeróbica, a saúde de forma geral ficaria melhor.

Mas Timmons disse que existia um problema em potencial. Segundo ele, havia uma pequena hipótese de não haver melhorias na saúde. Não porque o programa HIT não funcione, mas por causa herança genética.

Cada pessoa reage a exercícios de forma diferente. Num estudo internacional feito com mil pessoas, investigadores pediram a participantes que fizessem quatro horas de exercícios por semana durante 20 semanas consecutivas.

A resistência aeróbica dos voluntários foi medida antes e depois do programa de exercícios. Os resultados foram impressionantes. Embora 15% das pessoas tenham conseguido grandes avanços, 20% não apresentaram qualquer melhoria.

Os cientistas disseram que não havia indícios de que o grupo que não obteve avanços não tivesse exercitado adequadamente. A equipa concluiu que o exercício simplesmente não produziu efeitos sobre a resistência aeróbica daquele grupo.

Timmons e os seus colaboradores investigaram as razões por trás dessas respostas variadas e descobriram que muitas das diferenças podem estar relacionadas com um pequeno grupo de genes.

Com base nessa descoberta, desenvolveram um teste genético para prever quem tem mais probabilidades de responder bem ao programa e quem não tem.

"Fui convidado a fazer o teste, mas para evitar que a minha resposta ao programa de exercícios fosse influenciada, Timmons só revelaria os resultados do teste genético após eu completar o programa de HIT."

"Concordei. Foi recolhida uma amostra do meu sangue. Também fui submetido a alguns outros testes para avaliar como estava a minha aptidão física antes de começar o programa. Depois, comecei o meu HIT", explicou.

O HIT é muito simples. Sobe-se numa bicicleta ergométrica, aquece-se fazendo exercícios moderados por dois minutos, depois pedala-se a toda velocidade - o mais rápido possível - por 20 segundos.

Nova sessão a pedalar por dois minutos para recuperar o fôlego e, depois, outros 20 segundos a pedalar com força máxima.

Uma terceira sessão de dois minutos a pedalar moderadamente e mais 20 segundos a todo vapor. Pronto, está encerrada a sessão semanal de HIT.

Mas como é que o HIT funciona? Timmons e outros cientistas consideram que provavelmente esse tipo de exercício usa muito mais tecido muscular do que exercícios aeróbicos convencionais.

Quando se faz HIT, não se está a usar apenas os músculos da perna, mas também da parte superior do corpo, incluindo os braços e ombros. Como resultado, 80% das células musculares do organismo são activadas em comparação com exercícios como andar, correr ou andar de bicicleta moderadamente - onde estariam a ser activadas de 20% a 40% das células musculares.

Exercícios também parecem ser necessários para quebrar os stocks de glicose do organismo. Eles ficam armazenados na forma de uma substância chamada glicogénio. Se são destruídos esses stocks, abre-se espaço para mais glicose que é retirada do sangue e armazenada.

Um tanto quando céptico, "a cobaia" segui o programa de HIT durante quatro semanas, fazendo um total de 12 minutos de exercício intenso e 36 minutos de exercício moderado nesse período. Depois, voltou ao laboratório para ser submetido a novos testes.

Os resultados foram ambíguos. A sensibilidade à insulina melhorou significativamente - 24% - o que o deixou muito satisfeito. Mas a resistência aeróbica não melhorou.

"Fiquei decepcionado, mas Timmons não se surpreendeu."

"É que o exame genético que haviam feito tinha revelado que eu não responderia aos exercícios", sustentou.

"Vou continuar a fazer o HIT porque consigo ver os benefícios. O programa não é adequado a qualquer pessoa porque, embora seja curto, é extremamente intenso", prosseguiu.

O médico Michael Mosley apresentou o programa "Horizon: The Truth About Exercise", transmitido pela BBC na Grã-Bretanha na terça-feira.



Fonte: diariodigital.sapo.pt
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir