Categoria Pop & Art  Noticia Atualizada em 23-03-2012

Chico Anysio morre aos 80 anos
Comediante estava internado em hospital no Rio de Janeiro. Ele come�ou no r�dio, fez sucesso na TV e atuou em filmes.
Chico Anysio morre aos 80 anos
Foto: g1.globo.com

Morreu nesta sexta-feira (23), aos 80 anos, o humorista Chico Anysio. Ele estava internado no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, havia tr�s meses. Ao longo de seus 65 anos de carreira, Chico Anysio criou mais de 200 personagens e foi um dos maiores humoristas do Brasil com destaque no r�dio, na TV, no cinema e no teatro (abaixo, nesta reportagem, relembre sua trajet�ria). Ele deixa oito filhos.

Anysio apresentou uma piora nas fun��es respirat�rias e renal na quarta-feira (21) e voltou a respirar com ajuda de aparelhos durante todo o dia. Ele estava no CTI do hospital carioca desde 22 de dezembro do ano passado por conta de um sangramento. O comediante chegou a ter o problema controlado, mas apresentou uma infec��o pulmonar e retornou � interna��o. Ele seguia em sess�es de fisioterapia respirat�ria e motora diariamente, somadas a antibi�ticos.

O ator tamb�m j� foi submetido a uma laparotomia exploradora, procedimento cir�rgico que serve para revelar um diagn�stico. Essa cirurgia fez com que Chico Anysio tivesse um segmento de seu intestino delgado retirado.

No final de 2010, ele foi levado ao mesmo hospital com falta de ar. Ap�s uma obstru��o da art�ria coronariana ser encontrada, passou por uma angioplastia, procedimento para desobstru��o de art�rias. Ap�s 110 dias, teve alta em mar�o do ano passado.

Com fortes dores nas costas, o humorista foi novamente internado em novembro. Ficou no hospital durante cinco dias, para receber medica��o intravenosa devido a problema antigo nas v�rtebras que provocava dor. No fim de novembro, teve febre e os m�dicos descobriram uma contamina��o por fungos, tratada com antibi�ticos. No come�o de dezembro, retornou ao hospital com infec��o urin�ria e ficou internado por 22 dias. Um dia depois, voltou ao Hospital Samaritano.

Nos momentos mais cr�ticos, quando esteve no hospital entre dezembro de 2010 e mar�o de 2011, Chico necessitou da ajuda de aparelhos para respirar e se comunicava com m�dicos e familiares por meio de m�mica. Durante o per�odo p�s-operat�rio, houve o diagn�stico de um tamponamento card�aco, que acontece quando o sangue se acumula entre as membranas que envolvem o cora��o (peric�rdio).

Durante o per�odo de interna��o, que alternou momentos no CTI e em unidades intermedi�rias, Chico Anysio apresentou quadros de pneumonia e passou por sucessivas broncoscopias. As infec��es foram tratadas com uso de antibi�ticos.

Antes, em agosto de 2010, o humorista precisou ser internado para a retirada de parte do intestino grosso ap�s ser constatado um quadro de hemorragia no aparelho digestivo. Em maio de 2009, outra pneumonia o levou ao hospital.

R�dio e TV

Foi no R�dio Guanabara, ainda nos anos 50, que os seus tipos c�micos come�aram a surgir. At� o "talento para imitar vozes", como o proprio Chico descreveria em seu site, evoluir para a televis�o. A estreia aconteceu em 1957, na extinta TV Rio, no programa "A� vem dona Isaura". Foi l� que o Professor Raimundo teve sua primeira apari��o no v�deo, como o tio da protagonista que vinha do Nordeste � at� ent�o o programa s� havia sido veiculado pelo r�dio.

"At� tinha uma coisa de sentar para criar, mas uns nasceram pela voz, outros pelo tipo, pela personalidade, pela caracteriza��o. Sempre fiz quest�o de que eles fossem encontrados sem que eu estivesse presente. Que algu�m dissesse: "Na minha terra, tem um Pantale�o. No Rio tem muito Azambuja", explicou o humorista ao "Estado de S. Paulo", em 2009.

Num tempo em que ainda n�o existiam contratos de exclusividade, Chico p�de fazer participa��es especiais em programas de outras emissoras e em chanchadas da Atl�ntida.
O "Chico Anysio Show", seu primeiro programa de humor, foi lan�ado no in�cio da d�cada de 60. Foi ao ar pela TV Rio, depois pela Excelsior e em 1982 voltou a ser exibido pela Rede Globo � onde o humorista j� trabalhava desde 1969.

Mas foi na Globo que teve seus programas humor�sticos de maior sucesso e onde desenvolveu a maioria de seus personagens. Entre as atra��es, destaque para "Chico city" (1973-1980), "Chico total" (1981 e 1996) e "Chico Anysio show" (1982-1990).

Alguns desses personagens quase que se misturam � hist�ria da televis�o brasileira, como o ator canastr�o Alberto Roberto, o p�o-duro Gast�o Franco, o coronel Pantale�o, o pai-de-santo V�io Zuza, o velhinho ranzinza Pop�, o alco�latra Tavares e sua mulher Biscoito (Zez� Macedo) e o revoltado Jovem.

Com o passar dos anos, novos tipos eram criados e incorporados ao programa: o funcion�rio da TV Globo Boz�, que tentava impressionar as mulheres por conta de sua condi��o; o mulherengo e bonach�o Nazareno, sempre de olho nas servi�ais; o pol�tico corrupto Justo Ver�ssimo; e o pai de santo baiano e pregui�oso Painho s�o alguns dos mais populares.

Apresentada como quadro em outros programas desde a d�cada de 1980, a "Escolinha do Professor Raimundo" tornou-se uma atra��o independente em 1990. No ar at� 2002, o humor�stico lan�ou toda uma gera��o de comediantes. Entre os "alunos" revelados pelo "professor Chico" est�o Claudia Rodrigues, Tom Cavalcante e Claudia Gimenez.

Chico tamb�m atuou em novelas e especiais da Globo, como "P� na jaca" (2007), "Sinh� Mo�a" (2006), "Guerra e paz" (2008) e "A diarista" (2004). Chico Anysio tamb�m teve um quadro fixo no Fant�stico por 17 anos (de 1974 a 1991), e supervisionou a cria��o no programa "Os Trapalh�es" no in�cio dos anos 90.

Cinema

A incurs�o mais recente de Chico Anysio no cinema foi como dublador. � dele a voz do protagonista da anima��o "Up - Altas aventuras", anima��o do est�dio Pixar. Antes disso, o humorista fez uma participa��o especial no recordista de bilheteria "Se eu fosse voc� 2" (2008), de Daniel Filho. "Nos cr�ditos finais fiz quest�o de colocar �senhor Francisco Anysio�. Ele � um astro, merece ser tratado com toda rever�ncia", explicou o diretor em entrevista ao G1 durante o lan�amento do longa.

Em 1996, o humorista interpretou o personagem Z� Esteves, pai da personagem-t�tulo, em "Tieta", de Cac� Diegues. O trabalho coincidiu com o anivers�rio de 25 anos da estr�ia de Chicono cinema, na pornochanchada "O doce esporte do sexo". Antes havia participado de com�dias como "Mulheres � vista" e "Cacareco vem a�".

Em 2011, em sua �ltima apari��o p�blica, recebeu o pr�mio especial do J�ri do Festival do Rio pelo seu desempenho no longa "A hora e a vez de Augusto Matraga", do diretor Vin�cius Coimbra.
"O filme � important�ssimo, a obra � linda. Vin�cius realizou algo quase inacredit�vel. � um filme que, tenho certeza, Sergio Leone assinaria com alegria", destacou o bem humorado Chico, que fez quest�o de receber o Trof�u Redentor pessoalmente, mesmo de cadeira de rodas.

Literatura e artes pl�sticas

Al�m de se dedicar ao humor, Chico tamb�m foi artista pl�stico. Apaixonado pela pintura, retratou paisagens ao redor do mundo a partir de fotografias que tirava dos pa�ses que visitava. Realizou exposi��es de seus quadros em diversas galerias do Brasil e chegou a afirmar que gostaria de ter dedicado mais tempo � atividade.

"Porque teria tido mais tempo para aprender, para melhorar. Teria mais tempo para me tornar conhecido e aceito, para vender meus quadros por um pre�o melhor. Cheguei a admitir que a pintura seria meu emprego da velhice, mas n�o vai ser, porque ningu�m est� comprando nada de obra de arte, e pintar para guardar � terr�vel", disse em entrevista � "Folha de S. Paulo", em 2007. Foi autor de 21 livros, tendo publicado v�rios best-sellers na d�cada de 70, como "O Batizado da vaca", "O telefone amarelo" e "O enterro do an�o". Sua �ltima publica��o foi "O canalha", lan�ada em 2000.

"� a hist�ria do cara que participou de todos os governos, desde Eurico Gaspar Dutra at� o primeiro mandato de Fernando Henrique. Foi ele o respons�vel por todas as canalhices que ocorreram de l� para c�, como dar um rev�lver de presente a Get�lio Vargas", explicaria o escritor Chico Anysio em entrevista � revista "�poca", no mesmo ano.

Outra de suas obras de destaque na literatura � o bem humorado manual "Como segurar seu casamento", tamb�m de 2000. Na �poca, advertiu os leitores: "N�o dou conselhos, transmito os erros que cometi e foram cometidos em cinco casamentos. Conviver � a arte de conceder. Essa troca de concess�es gera a conviv�ncia harm�nica", comentou.

Carreira esportiva

Ca�ula de oito irm�os, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nasceu no dia 12 de abril de 1931, no munic�pio de Maranguape, no Cear�. A cidade constantemente era citada de forma saudosa pelo humorista � seu personagem mais popular, o Professor Raymundo, era de l�.
"Maranguape, cidade de que tanto falo, representa uma grande saudade. Foi um pequeno para�so, o �den da minha inf�ncia durante gloriosos anos. Foi l� que aprendi a ler sozinho", escreveu o humorista em seu site oficial.

Aos 7 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, ap�s a fal�ncia da empresa de �nibus da fam�lia. Morador do Catete, contrariou a vontade do pai e do irm�o mais velho � botafoguenses convictos � e se tornou vasca�no. Sonhava em ser jogador de futebol.

Mas a carreira esportiva logo foi esquecida, quando Chico passou em testes para ser locutor e ator da R�dio Guanabara. Ele ficou em segundo lugar, perdendo apenas para Silvio Santos.
Nos anos 50, tamb�m trabalhou nas r�dios Mayrink Veiga, Clube de Pernambuco e Clube do Brasil. Foi na primeira que criou o programa que se tornaria um de seus maiores sucessos, "Escolinha do Professor Raymundo", inicialmente composta por tr�s alunos: Afr�nio Rodrigues (o que sabia tudo), Jo�o Fernandes (o que n�o sabia nada) e Z� Trindade (o que embromava o professor).

Apesar da tentativa de se tornar um gal� de radionovelas, sua veia humor�stica se destacava desde o in�cio. "A r�dio Guanabara descobriu meu jeito para imitar vozes. Neste dia perdi minha chance de ser um Tarc�sio Meira", contou o comediante em seu site. Foi assim que come�ou a compor os mais de 70 tipos c�micos que marcariam sua carreira.

Casamentos e filhos

O primeiro de seus casamentos foi aos 22 anos, com a atriz Nancy Wanderley. Depois foi a vez de Rose Rondelli. Sobre a uni�o com a cantora e ex-fren�tica Regina Chaves, dizia mal se lembrar. J� com Alcione Mazzeo, rompeu a rela��o por conta de um ensaio nu. Mas foi seu matrim�nio com a ex-ministra da Economia do governo Collor, Z�lia Cardoso de Mello � com quem teve dois filhos � que provocou mais pol�mica. "Passou a ser uma pessoa de meu desagrado total. Fui um biombo para ela", disse Chico � revista "Isto �", em outubro de 2000.

Antes, por�m, teve seis filhos, entre eles os atores Lug de Paula (famoso por interpretar o Seu Boneco, da "Escolinha do Professor Raimundo"), Nizo Neto (o Seu Ptolomeu, do mesmo programa, tamb�m dublador) Bruno Mazzeo (ator e roteirista). Chico tamb�m era tio do ator Marcos Palmeira, filho do cineasta Zelito Vianna, irm�o do humorista; e da atriz Maria Maya, filha de Cininha de Paula, sobrinha do humorista.


Em novembro de 2009 foi agraciado com a Ordem do M�rito Cultural, a mais alta comenda do governo brasileiro na �rea. Da vida, dizia levar apenas um arrependimento: "Me arrependo enormemente de ter fumado durante 40 anos."















Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir