Categoria Geral  Noticia Atualizada em 20-04-2012

Multidão de egípcios faz protesto pela retirada de militares do poder
Dezenas de milhares voltaram a ocupar a Praça Tahrir, no centro do Cairo. Dois principais candidatos islâmicos foram desclassificados esta semana.
Multidão de egípcios faz protesto pela retirada de militares do poder
Foto: g1.globo.com

Dezenas de milhares de egípcios exigiram nesta sexta-feira (20) que seus governantes militares mantenham o compromisso de entregar o poder até o meio do ano, depois de uma disputa sobre quem poderia concorrer na eleição presidencial ter levantado dúvidas sobre o compromisso do Exército com a democracia.

Os dois principais candidatos islâmicos, um deles representando a Irmandade Muçulmana, que era visto como o favorito, estavam entre os desclassificados esta semana da eleição que começa em 23 e 24 de maio, o que provocou críticas dos partidários e dos candidatos.

Khairat al-Shater, ex-candidato da Irmandade, disse que sua desqualificação mostrou que os generais que governam desde que Hosni Mubarak foi deposto no ano passado não tinham intenção séria de desistir. O movimento está agora preparando um candidato substituto.

"Estamos todos aqui para proteger a revolução e completar as suas exigências", disse Sayed Gad, de 38 anos, um farmacêutico e membro da Irmandade. Ele se juntou ao protesto que atraiu islamistas e liberais para a Praça Tahrir, no centro do Cairo.

Um conselho de generais assumiu o poder 14 meses atrás, depois de manifestações em massa na Tahrir e outros lugares derrubarem Mubarak, e vem liderando o Egito durante a turbulenta transição, pontuada por atos de violência e protestos frequentes contra a maneira com que eles lidam com a mudança para a democracia.

O Exército diz que vai cumprir o seu calendário para entregar o poder a um novo presidente até 1 de julho e prometeu fiscalizar uma votação justa. Mas alguns comentários de militares sugerindo que o Exército também pode tentar impor uma nova Constituição antes de entregar o poder aumentou as preocupações populares sobre as ambições dos militares.

Diplomatas ocidentais esperam que o calendário para a transferência de poder seja mantido, mas afirmam que o Exército, de onde vieram os presidentes do Egito nas últimas seis décadas, incluindo Mubarak, e que criou interesses comerciais ao longo desse tempo, continuará tendo influência nos bastidores durante anos.

Manifestantes gritavam "Abaixo a ditadura militar" e "O povo quer a execução do marechal", em uma referência ao marechal de campo Mohamed Hussein Tantawi, ministro da Defesa de Mubarak durante duas décadas, que agora lidera o conselho militar governante.

Ordem antiga

Alguns manifestantes estavam abrigados sob toldos e guarda-sóis para se proteger do sol do meio-dia. Muitos agitavam bandeiras egípcias.

Milhares também se reuniram em Alexandria e em algumas outras cidades. As horas que se seguem às orações semanais nas mesquitas nas sextas-feiras tradicionalmente são aproveitadas para protestos.

Outro candidato, Omar Suleiman, ex-chefe de espionagem de Mubarak e vice-presidente por breve período, também foi eliminado da disputa eleitoral. Sua candidatura havia levantado temores de que o Exército queria reverter os progressos alcançados desde o levante do ano passado, mas ainda há outros na disputa vistos como remanescentes da antiga ordem de Mubarak.

"Não aos que são remanescentes (do antigo governo). Não ao regime militar", dizia uma faixa que trazia imagens do último primeiro-ministro de Mubarak, Ahmed Shafiq, um ex-comandante da força aérea, e de Moussa, um ex-chanceler. Ambos são candidatos fortes, especialmente agora que Shater, da Irmandade, foi desclassificado.

A manifestação desta sexta-feira foi a primeira em meses a reunir islamistas e liberais. Embora amplamente unidos em criticar o Exército, suas exigências não estão totalmente alinhadas.

Os liberais também se preocupam com a força do Islã político, depois que islâmicos - especialmente a Irmandade e o movimento Salafi, que é menor e mais radical - conquistaram vitória ampla em uma votação parlamentar em dezembro.






Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir