Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 07-05-2012

Sobre a atuação da prática psicanalítica
"Se você entendeu, você provavelmente está errado", Lacan.
Sobre a atuação da prática psicanalítica

No domingo passado (06 de maio) comemorou-se o Dia do Psicanalista. A data escolhida em homenagem a Sigmund Freud que nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiberg, Moravia (atualmente Pribor, Checoslovaquia). Por isso a questão abordada será sobre o papel da Psicanálise Clínica junto aos demais trabalhadores da saúde mental que, de alguma forma, nos hospitais psiquiátricos e nos serviços substitutivos instituídos pela reforma psiquiátrica, lidam com a saúde.

Em artigo publicado no meio psicanalítico, Doris Rinaldi, nos faz questionar sobre o desejo do psicanalista em ampliar seu campo de atendimento, principalmente no ambiente hospitalar. Para isso, ela utiliza os discursos de Freud e Jaques Lacan, outro famoso psicanalista que tomou por base os estudos da linguagem, para embasar sua tese.

Lacan diz respeito ao lugar do psicanalista frente aos trabalhadores da saúde mental (psicólogos, psicoterapeutas, psiquiatras) que, "nas bases e na dureza aguentam toda a miséria do mundo".

Em sua resposta, ao mesmo tempo irônica e enigmática, ele se vale da noção de discurso, ao apontar para o fato de que "aguentar a miséria" é participar do discurso que a condiciona, mesmo que protestando contra ele.

Quanto ao psicanalista, deparados com esta "miséria", não podemos esquecer as observações de Freud em 1919 que, reconhecendo o reduzido âmbito de atuação da prática psicanalítica, limitada aos consultórios privados, por isso há uma necessidade clara de extensão dessa clínica para atingir outras camadas da população. A assistência pública seria uma via para este acesso.

"O que o motiva a fazer esta consideração é a existência de uma imensa miséria neurótica no mundo, que ameaça a saúde pública tanto quanto as doenças orgânicas, exigindo, portanto, uma ação do psicanalista na instituição pública", diz Doris.

Tudo isso nos leva a refletir sobre o lugar da psicanálise naquilo que Lacan designou como "extensão", que diz respeito não apenas à transmissão da psicanálise por via das instituições psicanalíticas, seja pelo ensino ou pelo testemunho que os analistas aí podem dar de seu percurso, mas também pela prática da psicanálise no âmbito das instituições públicas de assistência, onde, através de laços sociais múltiplos, ele se defronta com outros discursos que sustentam diferentes práticas no campo da saúde mental.
Hoje, além dos consultórios privados, para a população mais carente apenas a iniciativa de alguns profissionais tem o objetivo de dar acesso, mesmo que superficial, a comunidade mais carente. Os atendimentos sociais, mesmo que precários nos quesitos material, conforto, tempo e continuidade, ainda sim são exemplos de insistência para que a psicanálise aumente seu campo de atuação.

Para que este acesso (da população menos favorecida) continue é necessária vontade política e também privada. Se por um lado, a via pública seria provocar confronto com outros profissionais psi, a ‘clínica social’ deve ser estimulada tanto pelos poderes constituídos democraticamente quanto pela iniciativa privada.

*Psicanalista, jornalista e teólocgo.

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Roney Moraes    |      Imprimir