Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 11-05-2012

SILÊNCIO E PALAVRA
“No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos”
SILÊNCIO E PALAVRA

Estou lendo o romance Quarto, de Emma Donoghue (Verus editora), que narra o drama de uma mulher há anos mantida em cárcere privado por um explorador sexual. Ela engravida, dá à luz e vê crescer o seu filho, que pensa que o mundo é apenas aquele quartinho. Seu único contato com o que chama de "Lá Fora" é o televisor. A mãe, aos poucos, começa a explicar ao menino que as imagens da TV não são fictícias; que elas existem de verdade fora daquele quarto. O menino vai entrando em estado de choque diante das descobertas. É clara a referência ao mito da caverna, de Platão.

Um dia, o maníaco resolve cortar a energia. O menino diz: "Meus ouvidos estão doendo. Tem silêncio demais neles". A mãe explica: "Ah, é porque não estamos ouvindo todos os barulhinhos a que estamos acostumados, como o do aquecimento entrando ou o zumbido da geladeira" (p. 92).

Penso que essa explicação que a mãe dá ao seu filho, atordoado com o completo silêncio do cativeiro, fala um pouco da nossa condição de agentes comunicativos nesta época de tanta poluição audiovisual. Estamos tão habituados aos barulhos que nos cercam, que acabamos associando erroneamente o silêncio a tristeza, vazio. E fugimos dele. Em geral, falamos demais, ouvimos sons muito altos, julgamos que uma pessoa calada está com algum problema.

Trabalho diariamente com rádio. E ali, silêncio é chamado de "ruído na comunicação". Quer dizer: quando acontecem alguns segundos de completa ausência de barulhos (músicas, palavras, sons em geral), é sinal de que alguma coisa deu errado. De certa forma, nossa vida inteira ficou meio assim. Precisamos tomar consciência dos riscos que esse estilo de vida comporta.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais é uma iniciativa da Igreja católica, mas como proposta a toda a sociedade, para que se reflita sobre esta dimensão humana tão central no mundo contemporâneo. Neste ano, será comemorado a 20 de maio. Bento XVI escolheu como tema Silêncio e palavra: caminho de evangelização.

Diz o papa em sua mensagem para esta ocasião: "No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos". "Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório".

É por isso que nas liturgias presididas por Bento XVI sempre há momentos de silêncio, depois das leituras bíblicas e da comunhão eucarística. Os editores não gostam, os comentadores os preenchem com exaustivas explicações. Mas o papa insiste em nos propor: para um pouco, aquieta-te, ouve o teu interior, aprende a escutar o próximo se queres ser um bom comunicador.

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Juliano Ribeiro Almeida    |      Imprimir