Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 14-05-2012

Entre a leitura e a literatura
�Deito-me um pouco para ler, mas deixo o livro, fico a olhar pela janela (...)�, Rubem Braga � Os Trov�es de Antigamente.
Entre a leitura e a literatura

Existe outro sujeito entre esses dois fen�menos, o da leitura e a literatura. O escritor. A produ��o, liter�ria ou n�o, est� entre o leitor e a escrita. Mas, afinal, qual o papel de cada um nessa hist�ria toda? Tudo! � claro que todos t�m sua finalidade distinta e fazem parte de uma "ponte" para que a arte seja o objeto final da uni�o das tr�s situa��es.

O leitor n�o teria necessariamente uma liga��o essencial com o fen�meno da linguagem, ao contr�rio do agente mediador entre a literatura, digo o escritor. Mesmo assim � reconhecidamente importante para o processo de cria��o liter�ria.

Para um escritor � imprescind�vel ter o h�bito da leitura de obras que o inspirem para sua produ��o, seja ela cr�nica, conto, poesia, romance, novela... A literatura deve ser algo, para o produtor de texto, como respirar. N�o d� para viver sem ler e vivenciar a boa literatura. A ruim tamb�m, pois com ela aprendemos como n�o devemos agir. Escrever.
S�o in�meras as formas de o homem expressar-se, mas � pela arte que ele consegue de forma mais sublime. A pr�pria arte pode se apresentar de v�rias maneiras: pintura, escultura, m�sica, teatro, arquitetura ou, ent�o, a literatura. Cabe � literatura ser a arte da palavra.

Gosto da defini��o do poeta amazonense R. Samuel que diz: "a arte n�o pode se identificar com utens�lio. A arte � gratuita, isto �, sua finalidade � quase a pr�pria arte. A arte n�o deve ter finalidade porque � finalidade em si mesma. � uma atividade l�dica, isto �, n�o tem finalidade fora de si mesma". Ent�o, o artista, portanto, � aquele que se preocupa com o objeto da arte; aquele que produz emo��o; que faz do comum algo diferente; tamb�m transforma a realidade refletindo seu tempo e condi��o. Neste ambiente, para mim familiar, entram tamb�m, como o pr�prio poeta, os escritores.

Pois bem, o ato de escrever, principalmente para um cronista, �, em primeiro lugar, a forma de reunir os conhecimentos pr�vios, conhecer sobre o assunto e (imprescind�vel) estar atento �s coisas do mundo. O seu meio ambiente... E colocar no papel, sem d�vida, como Rubem Braga na cr�nica "Os Trov�es de Antigamente" relata que deita, abre um livro, l�, deixa de ler e vai para a janela observar o cotidiano, as galinhas, as trovoadas, a tempestade, a enchente...

Deu para notar que escrevo basicamente sobre a cr�nica, pois � o g�nero que me fascinou. Ele vem despertando, nos iniciados literalmente, desde o in�cio, essa curiosidade. A cr�nica � liter�ria ou n�o? Bem, acredito que as duas coisas.

Sendo, em minha opini�o, e digo isso desde outros carnavais (textos), a forma mais importante do Brasil, a cr�nica tem os dois lados, o liter�rio com recria��o de linguagem mais conotativa, que possibilita v�rias interpreta��es, como a jornal�stica (n�o liter�ria) que se associa mais a um coment�rio. O bom cronista passeia pelos dois g�neros.
Na realidade, quem utiliza deste estilo funciona como um radar e rastreia no universos not�cias e assuntos que atinjam a sensibilidade do leitor. Ele vai adaptar essa hist�ria sob formato de conto. Pequeno, porque vive esse espa�o de tempo. Feito no modo confessional, pois vai ter que mostrar a sua cara de forma transparente para aquele que o l� interaja com ele. Quando o leitor ler a cr�nica ele meio que conversa com o cronista.
Uma compara��o seria com um filme de curta metragem, porque ele tem uns sete minutos para transmitir a sua mensagem. Se isso n�o acontece o p�blico fica decepcionado. � o mesmo caso do cronista.

A m�dia veicula not�cias que nem sempre se det�m numa an�lise que os assuntos merecem. O cronista pin�a esses assuntos e vai dissecar de uma de uma forma sucinta de modo a atingir o leitor.

Escrever tamb�m � para mim uma atividade prazerosa. Quando fa�o uma gra�a ou utilizo textos c�micos ent�o... Uma com�dia... � como se a subjetividade driblasse a objetividade. Um exemplo matem�tico: se 4 - 4 = 0 e 5 � 5 = 0 ent�o 4 � 4 = 5 - 5 onde 4x(1-1) = 5x (1-1). Corta as igualdades e d�-se 4 = 5 ent�o 4 = 2+2 que � igual 5! Me divirto muito durante a escrita. E n�o pensem que a piada � um g�nero menor. Wood Allen, que � uma autoridade no assunto, j� disse que acha mais dif�cil fazer com�dia do que um drama.

Numa entrevista que fiz ao cronista, poeta e professor Adriano Sp�nola, na primeira Bienal Rubem Braga, ele me confidenciou que "(...) nenhum povo consegue ter escritores com esse grau de liberdade, beirando at� a irresponsabilidade. Muitas vezes o cronista deixa para escrever sua cr�nica na �ltima hora, como j� fiz tamb�m, e isso n�o aconteceria, jamais, em pa�ses da Europa ou Estados Unidos. Ent�o nenhum outro povo do mundo, pelo menos nos lugares onde passei, � capaz de dar um drible desconcertante no futebol e tamb�m na cr�nica". E digo mais, pedalada at� na matem�tica se for necess�rio.
Enfim n�o h� um bom escritor que n�o seja um leitor voraz com fome de informa��o, forma��o e viv�ncia. Um escritor precisa ler bons textos para escrever bons textos. Um bom escritor � sempre um bom leitor, e a experi�ncia � adquirida com esses h�bitos: o de ler, escrever e viver.

Fonte: Reda��o Maratimba.com
 
Por:  Roney Moraes    |      Imprimir