Categoria Geral  Noticia Atualizada em 23-05-2012

Favela é plantada por alunos em escola pública dentro do Alemão
Planta deu origem ao nome das áreas carentes do Rio e do país. Autor da ideia quer resgatar a origem e a identidade dos favelados.
Favela é plantada por alunos em escola pública dentro do Alemão
Foto: g1.globo.com

Plantar uma favela dentro da favela. A ideia inusitada, que partiu de um líder comunitário e contou com a adesão da diretoria de um colégio público, foi posta em prática no Conjunto de Favelas do Alemão, Zona Norte do Rio. Alunos da Escola Theophilo de Souza Pinto plantaram uma muda de faveleira, planta que deu origem ao nome favela, que batiza as áreas carentes do Rio e do país.

O objetivo de Marcos Valério Alves, o Marquinhos Pepé, coordenador das associações de moradores do Alemão e autor da ideia, é o resgate das origens dos moradores. "Hoje essas áreas são chamadas de comunidades, porque o morador não conhece a história da favela. Nós queremos resgatar o orgulho de sermos chamados de favelados. Queremos de volta a nossa identidade", afirmou Pepé.

Origem do nome
A origem do nome favela vem da Guerra de Canudos, que deixou milhares de mortos no interior da Bahia e se encerrou em 1897. A faveleira, popularmente conhecida como favela, era uma planta farta na região, como conta a pesquisadora Sônia Zylberberg: "Havia lá o Morro da Favela, que era estratégico em Canudos. Quem conquistasse essa área era um vencedor, porque de cima dele se dominava o arraial", lembra a pesquisadora, que é autora do livro "Morro da Providência: Memórias da Favella"

Os soldados que retornaram da sangrenta batalha se instalaram próximo ao Ministério do Exército com a promessa de receberem acomodações do governo. Como não obtiveram êxito, subiram o morro para construir suas casas. "Um e outro trouxeram o nome favela para cá, como forma de identificar o grupo. Com o tempo a palavra foi se disseminando e transformou-se numa tradição verbal", explicou Sônia Zylberberg.

Foi então criado o Morro da Favela, considerado por muitos historiadores a primeira favela brasileira e depois rebatizado de Morro da Providência, no Centro do Rio.

O resgate da favela
Para o resgate dessas origens, Marquinhos Pepé contou com a ajuda da diretora da Escola Theophilo de Souza Pinto, Tânia Mara Salazar, e da diretora-adjunta, Rosângela Lara. Os três foram até o Jardim Botânico do Rio para comprar as mudas de favela que pretendem espalhar pelo Alemão.

Depois de comprar seis mudas, foram levados pelo agrônomo José Maria Assunção, do Jardim Botânico, para conhecer a planta já como arbusto. Não resistiram e deram um abraço no seu tronco.

Durante o passeio, José Maria Assunção explicou alguns detalhes da faveleira. "Como as sementes e os frutos são secos, chamam de faveira ou faveleira. Essa planta tem um potencial de ocupar, de se espalhar. É também rica em óleo, em proteína bruta e em hidrato de carbono. E pode ser usada na alimentação humana, mas falta ainda explorar o potencial dela", esclareceu o agrônomo, lembrando ainda que suas folhas possuem minúsculos espinhos que provocam irritação ao contato com a pele.

Ao chegarem à escola de 1.300 alunos, que fica na Favela Nova Brasília, dentro do Alemão, Marquinhos e as diretoras Tânia e Rosângela convocaram alguns jovens para o plantio. Estavam também presentes outros líderes comunitários e até um policial militar, representante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) que está instalada no local. O feito foi registrado por câmeras fotográficas e de vídeo.

Um pequeno buraco na estava aberto no gramado em frente à escola para receber a muda de favela, plantada pelos estudantes. "Isso tudo também é um aprendizado para nós", afirmou a professora e diretora Tânia Mara.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir