Categoria Ecologia  Noticia Atualizada em 13-06-2012

Índia se mobiliza para salvar o rio Ganges
A Índia se mobilizou para limpar o rio Ganges, em uma campanha de caráter nacional que tem o objetivo de proteger e garantir o futuro do rio sagrado na cultura hindu.
Índia se mobiliza para salvar o rio Ganges
Devotos hindus se banham no Rio Ganges, em Varanasi

Depois de governo, ONGs e grupos da sociedade civil, o principal partido da oposição foi o último a se somar ao empenho diante da enorme quantidade de sujeira de toda origem, tanto química como orgânica, que corre pelo leito fluvial.

Em comunicado, o partido nacionalista Bharatiya Janata Party (BJP) atribuiu "à industrialização e ao urbanismo descontrolados" o elevado nível de contaminação tóxica no rio, que, assegurou, causa a morte de "várias pessoas" todos os anos.

Fora obter um leito fluvial livre de resíduos, o propósito do BJP é conseguir um "Ganges contínuo", ou seja, sem grandes represas que "obstruam seu leito", e substituir esses diques por outros de menor tamanho.

O ativista indiano Rajendra Singh, conhecido como "homem-água" no país, se mostrou pessimista quanto à iniciativa do BJP, "porque nos cinco anos em que esteve no governo não fez nada pelo Ganges". No entanto, Singh disse compartilhar a opinião de que as represas "matam o rio".

O interesse pelo Ganges, que nasce no Himalaia e desemboca no Golfo de Bengala, está em que ao longo de seus 2.510 quilômetros vivem 400 milhões de pessoas - um terço da população indiana -, que dependem das águas deste "ícone nacional".

Além disso, se trata mais do que um rio: os hindus o consideram sagrado e a ele acodem em peregrinação milhões de pessoas todos os anos, encorajadas pela crença de que suas águas não só lavam os pecados, como também libertam do ciclo das reencarnações.

Mas, como amostra de seu atual estado de conservação, vale lembrar que em uma das cidades mais sagradas do hinduísmo, Benarés, o Ganges contém 60 mil coliformes fecais por cada 100 mililitros, 120 vezes acima do limite considerado seguro para o banho.

Esse alto nível de poluição não dissuade, no entanto, os peregrinos de entrar em suas águas para se purificar, aparentemente mais preocupados com as represas que com a contaminação.

Prova disso são os pronunciamentos do sacerdote Shri Kant Mishr, que vive na cidade sagrada e que não centrou tanto suas críticas nos resíduos tóxicos como no plano de construir os diques.

"O Ganges é como uma deusa para nós e, se não correr livremente, será uma deusa morta", sentenciou Mishr em contato por telefone com a Agência Efe desde Benarés.

O pedido vai de encontro ao plano do Governo, revelado pela televisão local IBN, de construir 300 represas ao longo do Ganges para "alimentar uma nação faminta de eletricidade".

Em 2009, o Governo de Nova Délhi já criou a Autoridade Nacional da Bacia do Ganges (NGRBA, na sigla em inglês), com a qual pretendia eliminar totalmente os resíduos sem tratamento em um prazo de 11 anos.

O projeto contou há um ano com o aporte financeiro de US$ 1 bilhão por parte do Banco Mundial, mas seus resultados estão longe de ser os previstos.

O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, reconheceu em abril que o Ganges recebe todos os dias um volume de resíduos de 2,9 bilhões de litros, muito acima da capacidade das centrais purificadoras existentes em sua margem. "O tempo não está a nosso favor", admitiu Singh, de acordo com a agência indiana Ians, durante a terceira reunião da NGRBA.

A reunião aconteceu pelo impulso de um ativista de 80 anos, G.D. Agarwal, que recorreu a uma greve de fome para protestar pela falta de compromisso do Governo com a conservação do Ganges. Um final de história diferente ocorreu no ano passado com outro ativista que protestava pelo Ganges, o guru Nigamanad, que ao não receber resposta das autoridades levou seu jejum até o final e acabou morrendo.

Fonte: terra.com.br
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir