Categoria Geral  Noticia Atualizada em 03-07-2012

Golpes e democracia: a pedagogia do Mercosul
Ao decidir suspender o Paraguai e incorporar a Venezuela como membro pleno do Mercosul, Brasil e Argentina sinalizaram para o aprofundamento do conceito de democracia na Am�rica Latina.
Golpes e democracia: a pedagogia do Mercosul
Foto: pt.wikipedia.org

Uma decis�o que nos compromete no fluxo da vida, pela responsabilidade que criamos em rela��o a novas possibilidades de presente e futuro. Os donos de colunas fixas na grande imprensa costumavam � e ainda costumam � invocar o Protocolo de Ushuaia, assinado em 1998, pelo Mercado Comum do Sul e por seus pa�ses associados, que define o regime democr�tico como condi��o indispens�vel para a exist�ncia e para o desenvolvimento dos processos de integra��o. A isso supostamente se aferravam � e ainda se aferram � para protelar a aprova��o da Venezuela como membro pleno do bloco.

Usam o argumento de que o "impeachment" de Lugo foi executado dentro das normas legais previstas na Constitui��o paraguaia, esquecendo-se do que todos sabem: nem sempre legalidade � sin�nimo de licitude. O mundo jur�dico � especialista em romper com o esp�rito da lei dentro da letra da lei. N�o houve tempo para o exerc�cio da defesa. O golpe ruralista foi perpetrado e calculado num tempo que impedisse qualquer articula��o nacional em defesa do governo democraticamente constitu�do.

O mesmo vale para o suposto d�ficit democr�tico da Venezuela. Nunca � demais lembrar que Hugo Ch�vez chegou � Presid�ncia numa elei��o, em 1998, em que obteve 56,2% dos votos. Dois anos depois resistiu a uma tentativa de golpe de Estado orquestrada pelas velhas oligarquias em conluio com o baronato midi�tico. Em 2004, venceu o referendo revogat�rio da oposi��o para, dois anos a seguir, renovar seu mandato presidencial com quase 60% dos votos. Em 2008, o secret�rio-geral da OEA (Organiza��o dos Estados Americanos), Jos� Miguel Insulza, n�o poupou elogios ao processo democr�tico venezuelano quando se referiu �s elei��es regionais.

Na ocasi�o, Insulza parabenizou o governo da Venezuela pela "situa��o de normalidade" e destacou a participa��o maci�a da popula��o no pleito. Destacou tamb�m o comportamento dos partidos e agradeceu pelos "tempos de paz e tranquilidade". Em que pa�s os cidad�os participaram mais ativamente de processos decis�rios que os 16 milh�es de eleitores venezuelanos?

� chegada a hora de os historiadores e os bons jornalistas cumprirem o seu papel em um continente marcado por uma institucionalidade constru�da por estruturas de depend�ncia entre as oligarquias e os interesses do imperialismo. Comparar o que �ramos com o que somos � imperativo. � fundamental que n�s, latino-americanos, nos reconhe�amos nas culturas e hist�rias que moldaram o mundo como o temos, vemos e vivemos hoje. Precisamos confrontar os que � detendo o monop�lio da narrativa � impedem o di�logo t�o necess�rio entre sociedades, tempos, hist�rias, gera��es e sujeitos, para continuarmos lutando por um mundo justo e democr�tico.

Nessa tens�o dial�tica, a vida e seus atores s�o mobilizados por for�as centr�petas e centr�fugas, por meio, principalmente, de discursos que se reproduzem no cotidiano social. No sentido dessas for�as, refletindo sobre o momento hist�rico, os presidentes Jos� Mujica, Cristina Kirchner e Dilma Rousseff n�o tomaram uma decis�o meramente conjuntural. O ingresso da Venezuela no Mercosul sinaliza para um processo pedag�gico inequ�voco.

A luta pela hegemonia s� � eficaz quando governar � educar para a mudan�a, desfazendo n�s sem�nticos sobre golpes e democracia.

Fonte: jb.com.br
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir