Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 06-07-2012

Luz del Fuego, despida de preconceitos
De Cachoeiro de Itapemirim para o Mundo. Dora Vivácqua, lá pelos idos dos Anos 30, já estava anos-luz à frente de seu tempo.
Luz del Fuego, despida de preconceitos

Naturista, feminista, transgressora, escritora, bailarina, atriz, ex-vedete? Simplesmente, Luz del Fuego! Talvez tenha sido rotulada de pervertida, libertina, mas ‘despida de preconceitos e ilusões e à luz da verdade’.

Pioneira na criação do naturismo na América Latina, a artista que controlava a Ilha do Sol (Baia de Guanabara, Rio de Janeiro/RJ) não permitia orgia no local. Segundo Cristina Agostinho, em seu livro "Luz del Fuego – a bailarina do povo", era terminantemente proibido levar bebidas alcoólicas, proferir palavrões ou praticar sexo na colônia.

A diferença entre naturalismo e libertinagem era veementemente ressaltada: ‘Aqui não é rendez-vous nem motel. Se querem farra e sexo, fiquem nos seus apartamentos em Copacabana’. Mulher de fibra e coragem, a irmã do senador Atílio Vivácqua chegou a fundar o Partido Naturalista Brasileiro e se candidatou a deputada federal pelo mesmo. "Menos roupa e mais pão! Nosso lema é ação!" foi um slogan criado por Luz del Fuego, que deu o que falar.

Revolucionando os costumes do povo brasileiro nos anos 50, a bailarina se apresentava seminua com Cornélio e Castorina, suas cobras jiboias, enroladas em seu corpo. Luz del Fuego teve muito "peito" para mostrar não somente os "peitos". Toda sua labuta foi contra o falso moralismo e a favor do profundo desejo de viver, segundo sua visão e seus sentimentos, a concreta liberdade.
A famosa frase que retrata o pensamento de Luz Del Fuego é: "Um nudista é uma pessoa que acredita que a indumentária não é necessária à moralidade do corpo humano. Não concebe que o corpo humano tenha partes indecentes que se precisem esconder".

Com apenas 15 anos desfilava pela praia de Marataízes de calcinha e bustiê improvisado com lenços, na década de 30 do século XX, quando o biquíni ainda estava longe de constar do vocabulário nacional.

A artista teve uma adolescência cheia de turbulências, traumas, romances e internações em hospitais psiquiátricos. Desfilava apenas três folhas de parreira presas nos seios e no púbis e duas cobras-cipós como braceletes numa época em que isso tudo no mínimo era indecente e marginal.

Multada e detida várias vezes, alardeava em praça pública que o delegado - juiz ou prefeito - era muito duvidoso para seu gosto, porque "homem que é homem aprecia a beleza do corpo feminino". E era detida outra vez, por desacato à autoridade.
Assassinada em 19 de julho de 1967. Ela e seu caseiro tiveram seus corpos foram amarrados em pedras e depois lançados para o fundo do mar. 45 anos após sua morte, pouco se lê, pouco se divulga, pouco se ouve a respeito desta capixaba que, nua de convencionalismos, marcou a história de um país sem memória!

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  José Geraldo Oliveira (DRT-ES 4.121/07 - JP)    |      Imprimir