Categoria Economia  Noticia Atualizada em 18-07-2012

Guerra na Síria leva medo e causa prejuízo à economia libanesa
Acostumados com conflitos armados e crises políticas, os libaneses lamentam que a vida no Líbano mais uma vez está sendo afetada por uma crise, desta vez no país vizinho, a Síria, que vive uma guerra civil.
Guerra na Síria leva medo e causa prejuízo à economia libanesa
Foto: noticias.terra.com

A fronteira libanesa com a Síria cada vez mais se torna volátil. No último domingo, dia 15, alguns morteiros foram disparados do lado sírio e cairam em território libanês, na região rural de al-Qaa, no Vale do Bekaa, nordeste do país, causando um breve pânico entre a população.

Por telefone, o agricultor Hashem Zuheir, 42 anos, contou ao Terra que muitos moradores da região temem que o conflito sírio atinja diretamente o Líbano. "Temos conversado e levamos nossas preocupações aos políticos locais. Com mais conflitos armados na Síria, o contrabando de armas deve aumentar do lado de cá. Isso vai tornar a região mais instável", disse.

Zuheir mandou os filhos adolescentes para outro vilarejo mais ao sul, na casa de seus pais, já que eles estão em férias escolares. "Não quero que eles vejam essa tensão. Minha geração passou pela guerra civil no Líbano. Eles não precisam passar pelo mesmo".

O incidente em al-Qaa não foi um caso isolado. Outros já aconteceram em áreas do norte ao longo da fronteira. Na região de Akkar, ao norte de Trípoli, segunda maior cidade libanesa, seguidamente disparos são feitos por elementos não identificados do lado sírio.

O governo do presidente Bashar al-Assad acusa gangues terroristas, incluindo a rede Al-Qaeda, de usar o Líbano para o contrabando de armas. A acusação é rejeitadapelo governo libanês, que declarou não ter encontrado indícios de grupos terroristas operarem em seu território.

O conflito na Síria já dura 16 meses e, segundo as Nações Unidas, já deixou mais de 15 mil mortos. O levante popular, que iniciou com protestos pacíficos para exigir a derrubada do regime sírio, logo se tornou um conflito armado entre o Exército Livre da Síria (ELS) e tropas leiais ao governo.

Tensão
Assim como outros países vizinhos da Síria - Turquia, Iraque e Jordânia -, o Líbano também recebeu milhares de refugiados sírios, o que aumentou as divisões entre facções políticas a favor e contra o regime em Damasco. Trípoli, no norte, é a cidade mais afetada, com confrontos armados entre milícias rivais, especialmente entre sunitas e alawitas (grupo sectário ao qual pertence o presidente Assad).

A cidade, um dos destinos turísticos mais importantes do país, sofre agora com a falta de visitantes e convive com a constante tensão entre os diferentes grupos políticos.

"Eles (facções) brigam por qualquer coisa relativa à Síria. Se um grupo ajuda refugiados sírios, o outro os acusa de ajudarem a oposição. A guerra acontece lá (na Síria), mas nós sentimos aqui também. As pessoas têm medo de vir para a cidade, mesmo quando não há nada na maior parte do tempo", disse o comerciante Mohamed Masri, 55 anos, morador de Trípoli.

Beirute
Mas se as regiões mais próximas da Síria foram as primeiras a serem afetadas, a capital Beirute, distante 100 km de Trípoli e 90 km da fronteira leste com a Síria, também sente o conflito afetando a vida de seus residentes.

As ruas da capital estão pouco movimentadas com os tradicionais turistas da temporada de verão, especialmente árabes do Golfo e europeus. "Batalhas esporádicas entre milícias em outras regiões, protestos a favor e contra do governo sírio, incluindo o fechamento de estradas, e países do Golfo aconselhando seus cidadãos a não visitarem o Líbano, foram alguns dos motivos que assustaram os turistas", disse uma agente de viagens que não quis se identificar.

"Eventualmente ocorrem brigas entre simpatizantes de Assad e aqueles a favor da oposição síria. Alguns são sírios que moram aqui, mas algumas vezes eram libaneses. Os ânimos estão bem quentes", disse Walid, um dono de bar de Hamra, um dos bairros comerciais e de entretenimento, mas também um dos centros de tensão entre prós e contra o regime sírio.

A guerra síria também afetou os preços de produtos básicos, importados de países vizinhos via Síria. Aluguéis de imóveis também subiram e muitos libaneses completam a renda familair com trabalhos informais.

Morador de Beirute, Rana Moussa, 25 anos, trabalha como garçonete em um café da capital para ajudar na renda familiar. "Não é muito, mas a situação, que já era ruim, piorou com a guerra na Síria", disse.

Enquanto o grupo Hezbollah e aliados se mantêm aliados do governo sírio, outros grupos políticos se colocam a favor da oposição, provocando medo de haja uma intensificação de brigas entre simpatizantes dos dois lados, fugindo ao controle e levando a confrontos armados.

O universitário Ahmed Ghobeiry, 22 anos, revelou que já presenciou discussões entre libaneses em seu bairro em Beirute por causa do conflito sírio. "A gente sente a tensão no ar, as pessoas estão impacientes e mais nervosas. Estes dias, vi uma briga entre jovens por causa do Assad. Não sei até quando o Líbano vai conseguir se manter fora da guerra por lá".

Pessimismo
Hotéis e o comércio local sentiram diretamente os efeitos da guerra síria - baixa ocupação de hóspedes e poucos clientes nas lojas.

Segundo Pierre Ashkar, presidente da Associação de Donos de Hotéis, as atividades hoteleiras em Beirute ainda conseguiram se manter estáveis graças às conferências de negócios e atividades corporativas, principalmente do mundo árabe, até os primeiros cinco meses do ano.

"Mas com a temporada de verão, os maiores clientes seriam os turistas, e as pessoas não estão vindo ao Líbano, com medo da guerra síria. Até pessoas de origem libanesa não devem vir em peso. E para completar, o Ramadã (mês sagrado muçulmano) inicia no dia 20 de julho, o que deve esfriar ainda mais o movimento de turistas. Este não será um bom verão no Líbano", disse Ashkar.

Ele ainda explicou que a rede hoteleira fora de Beirute registrou um decréscimo de 50% em relação ao ano passado. "Perdemos os habituais sírios, jordanianos, iranianos e outros que gostavam de se hospedar fora da capital por ser mais acessível em termos de preços".

Recentemente, o governo libanês lançou uma campanha para atrair turistas e assegurar aos estrangeiros que o Líbano não sofre problemas com segurança. Mas a campanha parece não ter surtido o efeito desejado. Paul Ariss, presidente do Sindicato de Donos de Restaurantes, Cafés, Discotecas e Docerias, foi ainda mais pessimista, dizendo que cerca de 40 mil jordanianos, iraquianos, curdos e turcos deixaram de visitar o Líbano todos mês por causa do conflito sírio.

"Eles viajavam por terra via território sírio para chegar ao Líbano. Agora não será possível. Vários festivais de música tiveram baixa venda de ingressos e, é claro, restaurantes, cafés e outros locais de entretenimento apresentam pouco movimento para esta época do ano", falou Ariss.


Fonte: noticias.terra.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir