Categoria Geral  Noticia Atualizada em 09-08-2012

Após a perda das filhas, pais fundam instituto para superar a dor
Entidade no Amazonas dá apoio a crianças diagnosticadas com câncer. Experiência paterna no tratamento da doença é repassada aos assistidos.
Após a perda das filhas, pais fundam instituto para superar a dor
Foto: g1.globo.com

Alegria para muitos, o Dia dos Pais é um momento de sofrimento e recordação para quem carrega a dor de ter perdido um filho. É o caso do engenheiro eletricista Marcos Varella e de Paulo Wallace, que passarão o segundo ano do Dia dos Pais sem a demonstração de afeto das filhas, respectivamente, Ana Luíza e Giulia Wallace. Mesmo após a perda das filhas, vítimas precoces do câncer, os dois são exemplos de pessoas que vencem diariamente a dor se dedicando a causas sociais.

Apesar de não ser pai biológico da Ana Luiza, que morreu aos 7 anos, em julho de 2011, Varella foi escolhido pela menina como pai de coração. Ao G1, Varella contou como é a experiência de passar a data sem a presença e carinho da filha."É muita saudade, porque no Dia dos Pais ela sempre fazia cartãozinho, fazia questão de me dar um presente e era o dia que ela não me deixava fazer nada. Trazia refrigerante, perguntava o que eu queria comer de diferente. Era o meu dia, e eu era tratado como rei. Essas ações dela fazem muita falta, principalmente no Dia dos Pais, quando sentimos mais ainda", diz Varella.No ano passado, foi muito duro, achei que iria ser mais tranquilo, mas não foi nenhum pouco. A dor é maior por ser padrasto de Ana Luíza, porque ela me escolheu como pai", afirma.

Para Marcos Varella, no momento da dor, o pai tem o papel de sustentação da família e de suporte à mãe, que demonstra ainda mais a perda do filho. "Até o último suspiro da Ana Luiza, eu fiz a parte do pilar, mas depois não dá para esconder a dor. O pai normalmente guarda o emocional no momento da crise para tomar uma atitude, mas depois não fica muito diferente da dor da mãe, apesar de não saber mensurar a dor da mulher que carregou durante nove meses o filho no ventre", diz.

Dor sempre presente
O funcionário público estadual Paulo Wallace também vivenciou o sofrimento doloroso durante o tratamento do câncer da filha e a perda precoce da criança. Ele era pai da Giulia, que depois de lutar por três meses morreu com apenas 1 ano e 9 meses de vida, em maio de 2011.

Ele revelou que a dor da perda está presente todos os dias, mas há datas como, por exemplo, Dia dos Pais e Natal, em que o sofrimento torna-se mais perceptível. "O Natal foi terrível para mim, uma coisa absurda porque tínhamos uma expectativa da confraternização da família com todos reunidos. E quando a irmã da Giulia, que tem 9 anos, colocou o sapatinho dela em baixo da árvore eu desmontei realmente. Foi um período de muita lembrança e sofrimento. Só quem ama verdadeiramente os filhos sabe como é esta dor. Uma música e uma criança da mesma idade durante um passeio no shopping nos fazem lembrar a dor, não só datas comemorativas", diz Paulo.

Ao longo do tratamento da filha contra o câncer, o funcionário público muitas vezes teve o amparo da esposa, uma tentativa de controlar o desespero dele perante o sofrimento da Giulia. "Eu era conhecido como o pai que chorava muito no hospital, tanto nos dias de alegria como nos de abatimento pelo tratamento doloroso e longo, mas eu colocava para fora tudo que eu estava sentindo. Em muitos momentos minha esposa que me acalmava em vários momentos difíceis", contou o pai. Dor transformada em amor
Estes dois homens tiveram as vidas transformadas depois que perderam as filhas. A partir da dor, recomeçaram a vida em prol das famílias que estão vivenciando as dificuldades e aflições da batalha contra o câncer dos filhos.

Os pais da Ana Luiza, juntamente com pais da pequena Giulia, fundaram em outubro de 2011 o ‘Instituto Alguem: Ana Luiza e Giulia Unidas Em Missão’, que oferece suporte no tratamento e auxílio financeiro às crianças portadoras de câncer em Manaus.

De acordo com Paulo Wallace, o Instituto Alguem surgiu da necessidade de ambas as famílias fazerem um trabalho de apoio para quem enfrenta a mesma situação e que também fosse motivo de orgulho para as filhas. "Tínhamos a necessidade e aquela vontade de mostrar para nossas filhas, que não estavam fisicamente ao nosso lado, mas na mente, no coração e espírito, o que podemos fazer por outras crianças. Dando condições para os pais terem uma oportunidade, fomentar a garra e otimismo na luta tão difícil contra essa doença. Um instituto que desse uma luz, o caminho e melhor tratamento ao filho, mais digno possível, com os melhores meios para enfrentar o câncer, esse era o nosso desejo."

Retribuição

Marcos Varella, que é presidente da entidade, explicou que 25 crianças já receberam o apoio do Instituto Alguem. "Um pai e uma mãe numa situação dessas é importante ter alguém que fale é complicado, mas o caminho é esse e vamos ajudá-los. É uma sensação de dever cumprido. A Ana Luiza e a Giulia estão vivas nessa empreitada por meio dessa ajuda", disse.

O pai da Ana Luiza ressalva que embora não substitua a dor, existe uma satisfação muito grande em ajudar pais e mães que passam pelo desespero do diagnóstico do câncer e não sabem por onde começar. "Muita gente nos ajudou, então é uma retribuição e isso nos dá certo conforto de saber que os nomes delas estão vivos na causa, que já ajudou tanta gente", destacou Varella.

Para contribuir com o trabalho social do Instituto Alguem, as pessoas interessadas podem acessar o site da entidade para se cadastrar como sócio. Além disso, o Instituto oferece a possibilidade dos interessados atuarem como voluntários no apoio às famílias.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Renato Alves    |      Imprimir