Categoria Geral  Noticia Atualizada em 16-08-2012

Preconceito é principal causa de crimes contra travestis, diz psicóloga
Nesta quarta-feira, duas travestis foram mortas a tiro em Rio Preto. Para especialistas, agressão é por não saber lidar com as diferenças.
Preconceito é principal causa de crimes contra travestis, diz psicóloga
Foto: g1.globo.com

Os crimes contra homossexuais têm crescido em todo o Estado de São Paulo e, nesta semana, chamou atenção da população de São José do Rio Preto (SP) com a morte de duas travestis nesta quarta-feira (15). Um homem atirou em quatro travestis, sendo que duas morreram e as outras duas ficaram feridas. O preconceito e a intolerância podem ter motivado os crimes.

Para especialistas, a dificuldade em lidar com determinadas situações e traumas pessoais podem levar uma pessoa a atitudes extremas. "Aquilo que uma pessoa não consegue lidar, ela tira de dentro dela e joga em outras pessoas. Fora dela, ela pode xingar, agredir e até matar por não ter condições de lidar com este medo. Ela tem medo que esta coisa aconteça dentro dela, no caso da homofobia, ser homossexual", afirma a psicóloga Tina Zampieri.

A psicóloga explica ainda que a sociedade tem que aprender a lidar com as diferenças. "Se as pessoas compreenderem que a homossexualidade não é uma questão escolha, ninguém tem culpa de ser homossexual, isso pode ser uma contribuição importante", diz.

A situação de preconceito é vivida pela auxiliar de serviços gerais Mila Cardoso Novaes."Em alguns lugares onde entro, as pessoas olham atravessado, de cima para baixo. Essas pessoas também fazem comentários, dá para ver que estão falando de você", afirma Mila.

O crime brutal que resultou na morte das travestis chama a atenção para o tema da violência e do preconceito contra homossexuais. Para entidades de apoio, a aprovação do projeto de lei que define homofobia como crime seria um grande avanço na luta contra a discriminação.

O projeto está parado no senado. A lei enfrenta forte resistência da bancada conservadora. "Enquanto não tipificar como crime de ódio a homofobia não vamos avançar, assim como foi com a descriminação de raças. O Brasil precisa de uma legislação específica para estes crimes", diz Júlio Caetano, conselheiro do Gada, Grupo de Amparo ao Doente de Aids, que também presta atendimento às travestis.

No início deste ano, outro caso chamou a atenção das autoridades de Rio Preto, quando uma travesti de 22 anos foi morta a facadas no bairro Jardim Paraíso. Em 2011, 280 gays foram mortos no Brasil. Desde janeiro, foram 165, sendo 19 só em São Paulo. O estado é o que registra o maior número de assassinatos. Os dados são da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

O delegado que está cuidando dos ataques aos travestis de Rio Preto disse que vários policiais estão trabalhando no caso, mas ainda não há pistas do suspeito. A polícia pede para que a população ajude, caso tenha alguma denúncia. O telefone é o 197, a ligação é de graça e anônima.

Como aconteceu o crime

O motociclista atirou e matou a primeira vítima, de 30 anos, em uma estrada de terra que segue para a Fonte Santa Terezinha. Segundo a PM, trata-se de um ponto de prostituição. Testemunhas disseram que o motociclista combinou um programa e foi até o local com a travesti. Como a vítima não voltou, colegas foram a procurar e encontraram o corpo. A travesti estava ajoelhada no momento do disparo. O carro dela estava estacionado na Avenida Cenobelino.

O homem atirou e matou a segunda vítima, de 24 anos, nas proximidades de um restaurante que também fica na Avenida Cenobelino. Após os disparos, ele desceu da moto que pilotava e seguiu até a esquina da Rua São João, onde atirou na mão e no ombro da terceira vítima, de 21 anos. O motorista, segundo testemunhas, acenou e mandou beijos para outras travestis que também estavam no local.

O homem ainda seguiu para o centro da cidade, na esquina da Rua General Glicério com a Prudente de Moraes, onde atirou na quarta travesti, de 25 anos, que foi atingida na mão. Testemunhas que presenciaram os disparos disseram que o motociclista já havia passado várias vezes pelos locais antes de cometer os crimes. As câmeras que ficam na área central da cidade serão analisadas e podem ter flagrado os crimes.



Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Caroline Costa    |      Imprimir