Categoria Politica  Noticia Atualizada em 24-11-2012

Oposição diz que não deixará Tahrir até revogação do decreto de Mursi
Cerca de 20 tendas ainda estão instaladas no local neste sábado (24). Na quinta (22), Mursi anunciou medidas que concentram poderes.
Oposição diz que não deixará Tahrir até revogação do decreto de Mursi
Foto: g1.globo.com

Os partidos laicos e liberais, assim como os movimentos revolucionários, asseguraram neste sábado (24) que não vão deixar a Praça de Tahrir, no Cairo, até conseguir que o presidente do Egito, Mohamed Mursi, revogue as medidas que concentram os poderes políticos na figura do presidente.

O anúncio foi realizado em um comunicado assinado por 15 partidos, entre eles o Partido da Constituição, encabeçado por Mohamed el Baradei, que já ganhou o Prêmio Nobel da Paz, a Corrente Popular Egípcia, liderada pelo ex-candidato presidencial Hamdin Sabahi, o Movimento Juvenil 6 de Abril e o Partido Social Democrata.

"Essas forças começaram um acampamento na Praça Tahrir até que a declaração constitucional caia. Ela deve ser rejeita por todo revolucionário patriótico e nobre que tema por seu país e por sua liberdade, que foi alcançada pelos mártires com o seu sangue", diz a nota.

Com o ato constitucional promulgado na quinta-feira (22), Mursi está acima da lei para declarar todas as suas decisões como "finais e definitivas" e reivindicar o poder para tomar "qualquer decisão necessária para proteger a revolução" de 2011, quando Hosni Mubarak foi derrubado.
Manifestações

Opositores do presidente do Egito, Mohamed Morsi mantêm cerca de 20 tendas instaladas na Praça Tahrir, no Cairo, e dão continuidade a vigília contra o presidente egípcio, Mohamed Mursi.

Os manifestantes, que ontem (23) saíram às ruas aos milhares, protestam pela decisão de Mursi de blindar seus poderes perante a Justiça, graças a uma declaração constitucional promulgada na quinta-feira que declara todas suas resoluções "inapeláveis e definitivas".

A praça foi cenário de duros enfrentamentos entre parte dos manifestantes e a Polícia até a noite, incidentes também registrados em diferentes cidades do país, especialmente em Alexandria, onde foram incendiadas três sedes do Partido Liberdade e Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana.

A vigília começou na sexta contra as medidas anunciadas pelo islamita na véspera, e que concentram poderes políticos na figura do presidente.

"Todas as forças políticas revolucionárias concordaram em começar uma vigília nesta sexta", disse em comunicado a Corrente Popular, de Hamdin Sabahi, terceiro colocado nas eleições presidenciais de junho.

A polícia usou gás lacrimogêneo contra manifestantes. O confronto ocorreu em uma rua que liga a praça ao gabinete presidencial e ao Parlamento.

País dividido
Ao mesmo tempo, milhares de simpatizantes do islamita, eleito presidente em junho, aclamavam seu herói em frente ao palácio presidencial no bairro Heliópolis.

Pouco antes, Morsi, em discurso, garantiu que o Egito está no caminho "da liberdade e da democracia", apesar das acusações lançadas por opositores e das cobranças da União Europeia e dos Estados Unidos.

"A estabilidade política, a estabilidade social e a estabilidade econômica, é o que desejo e é o motivo pelo o qual trabalho", declarou em um longo discurso proferido para seus partidários reunidos perto do Palácio Presidencial, no dia seguinte ao anúncio de medidas que reforçam seus poderes.

"Eu sempre estive, ainda estou e sempre estarei, se Deus quiser, com o povo, é o que o povo quer, com uma clara legitimidade", insistiu.

"Ninguém pode deter nossa marcha adiante (...) Estou cumprindo minha função para servir a Deus e à nação e tomo as decisões depois de consultar todos", disse o presidente, citado pela agência oficial Mena.

A chegada do presidente a um palanque arrancou aplausos: "O povo apoia o presidente!", "Morsi, te amamos!", gritava a multidão.

Alguns manifestantes vestiam camisetas com a foto de Morsi e agitavam bandeiras egípcias.

Em resposta, a União Europeia pediu ao presidente que respeite o processo democrático do país.

"Nós estamos cientes das recentes declarações do presidente Morsi. É da maior importância que o processo democrático seja conduzido até o final, em conformidade com os compromissos assumidos pelas autoridades egípcias sobre a separação dos poderes, a independência da justiça, a proteção das liberdades fundamentais e a organização de eleições legislativas democráticas", indicou em um comunicado um porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.

O aumento dos poderes do presidente foi chamado pela oposição de medida ditatorial.

Durante o dia, manifestantes incendiaram a sede do Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ), da Irmandade Muçulmana, em três cidades do Egito, informou a rede de televisão pública.

Os escritórios do PLJ, partido de Morsi, foram incendiados nas cidades de Suez, Ismailiya e Port Said, segundo o canal. Um funcionário do partido islamita também disse que escritórios do partido foram tomados na cidade de Alexandria, onde ocorreram confrontos entre manifestantes favoráveis e contrários a Morsi.

Na quinta-feira, Morsi, primeiro presidente civil e islamita do país mais populoso do mundo árabe, concedeu a si mesmo em uma "declaração constitucional" o direito de tomar qualquer decisão ou medida para proteger a revolução de 2011.

"As declarações constitucionais, decisões e leis emitidas pelo presidente são definitivas e não podem ser apeladas" à espera de uma nova Constituição, prevista para meados de fevereiro, segundo esta declaração.

Morsi acumula os poderes Executivo e Legislativo (da Câmara dos deputados, eleita em junho) e mantém relações tensas com uma parte do judiciário. Em agosto, já havia reforçado seus poderes ao afastar o ex-ministro da Defesa, Hussein Tantaui.

A oposição fala de "um golpe de Estado contra a legalidade" e convocou manifestações em todo o país.

Após a grande oração muçulmana de sexta-feira, opositores, em sua maioria liberais e laicos, se reuniram na Praça Tahrir, epicentro da revolta que provocou a queda do presidente Hosni Mubarak em fevereiro de 2011.

A eles, devem se juntar Amr Moussa, ex-chefe da Liga Árabe, e Mohamed ElBaradei, e ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que acusou Mursi de se auto-proclamar "o novo faraó".

Morsi pediu "novos julgamentos" nos processos sobre as mortes de centenas de manifestantes durante a revolta, o que fez crescer a ameaça sob chefes militares e policiais, e que pode até resultar em novo julgamento para Mubarak, já condenado a prisão perpétua.

O islamita também destituiu o procurador-geral, Abdel Meguid Mahmud, que assumiu o cargo durante o regime de Mubarak, e decidiu que nenhuma instância judicial pode dissolver a comissão encarregada de redigir a futura Constituição, uma entidade criticada por liberais, laicos e a Igreja copta, que a acusam de ser dominada por islamitas.

Essas decisões têm por objetivo "limpar as instituições" e "destruir as infraestruturas do antigo regime", explicou o porta-voz da presidência, Yasser Ali.


Morsi discursa nesta sexta-feira (23)




Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir