Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 04-01-2013

O JORNALISMO LITERÁRIO DE TOMAZELLI E SABADINI
“Os jornalistas são os trabalhadores manuais, os operários da palavra. O jornalismo só pode ser literatura quando é apaixonado", Marguerite Duras.
O JORNALISMO LITERÁRIO DE TOMAZELLI E SABADINI

Tecnicamente, retiro as paixões ou favoritismos, sem dúvida (claro, no meu exclusivo e único ponto de vista) o livro "O Jornalismo Literário de Rubem Braga na Guerra" foi o melhor, dos que li, produzido em Cachoeiro de Itapemirim com patrocínio da Lei Rubem Braga no ano passado. Nada contra os cronistas, até eu mesmo publiquei um, mas sou apaixonado por ensaios, principalmente os bem escritos.

A obra me surpreendeu pelo simples fato de não falar apenas de Rubem, mas de todo um conceito sobre as diferentes formas de escrita jornalística. É uma preciosidade para os acadêmicos, curiosos e profissionais que lidam com a imprensa dia a dia.

O que aconteceu na II Guerra Mundial e os relatos de Braga não me interessam. Porque já há uma série de livros que contam suas aventuras e desventuras. Ele mesmo, o velho, escreveu em "Crônicas da guerra na Itália". Também é de prazerosa leitura a sua biografia "Rubem Braga - Um cigano, fazendeiro do ar", de Marco Antônio de Carvalho. O que me atraiu na obra de Rondinelli Tomazelli e Claudia Sabadini foi o procedimento metodológico de visão e revisão da literatura.

O texto dos dois é uma síntese das "Narrativas da vida real por novos autores brasileiros", organizado pelo jornalista, escritor e professor universitário Sérgio Vilas-Boas.

O jornalista Carlos Ribeiro diz que embora se possa dar o mesmo nome, "reportagem", há uma característica que, na chamada narrativa não-ficcional, hoje quase que restrita à mídia livro, imprime na mente e na sensibilidade do leitor uma marca especial: a experiência. Uma experiência compartilhada com o leitor, não na mera exposição de fatos, mas em textos que incluem personagens reais, vivências, diálogos, pensamentos, histórias, cenários, ambientes, sentimentos e emoção. Enfim, todas essas qualidades que, potencializadas pela linguagem expressiva, convergem na humanização do fazer e do produto jornalísticos. Foi o que esse trabalho me ensinou.

Por atuar com a psicanálise, a citação que eles fizeram de Marques de Melo, dizendo que a crônica se situa na fronteira entre a informação da atualidade e a narração literária, bem como transmite ao leitor os seus estados psicológicos pessoais e coletivos, por aí começou a minha jornada, além, é claro dos belíssimos comentários do professor Fábio Brito e da terapeuta e contadora de histórias, Maria Elvira Tavares Costa.

Gosto de aprender coisas novas, mesmo com a experiência de 15 anos de profissão, sempre me atraiu a forma mais detalhista e opinativa das notícias. Deve ser o DNA cachoeirense que propicia isso aos conterrâneos e também aos escritores capixabas que antes de se aventurarem na literatura optam pelo jornalismo.

As diferenças entre ficção e não-ficção são meras interpretações. Quem não viveu o que o cronista viu pode, ou não, achar que é verdade. Aliás, uma frase de Elvira Vigna é interessante: "Para fazer literatura você tem de ser terrivelmente sincero. E é incrível: se você atinge a verdade, está fazendo ficção, que é mentira".

A bem da verdade é que "O jornalismo literário de Rubem Braga na Guerra" traz um novo estilo de trabalho de conclusão de curso, apesar de nada ser perfeito, e tudo e todos somos imperfeitos. Como professor, dificilmente lerei um TCC como esse e repito a citação de Nietzsche na página 90: "tudo que é reto mente, toda verdade é sinuosa e o próprio tempo é um círculo". E, por isso, como o filósofo, espero o eterno retorno de uma continuação da obra. Excelente!

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Roney Moraes    |      Imprimir