Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 23-03-2013

Ilha dinamarquesa é inspiração para a Hora do Planeta
Quando o restante do mundo desligar as luzes pela conscientização na Hora do Planeta, neste sábado, os 4 mil habitantes de Samso, uma pequena ilha da Dinamarca, podem até navegar pela internet e assistir à televisão.
Ilha dinamarquesa é inspiração para a Hora do Planeta
Foto: noticias.terra.com.br

Em produção energética, pelo menos, a consciência deles está tranquila. A ilha gera toda a energia que consome a partir de fontes renováveis, como o sol e o vento. E até sobra para a exportação. Fora dali, 80% da energia mundial é "suja", gerada a partir de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, cuja queima contribui para o aquecimento global e o efeito estufa.

A ideia não é nova. Samso venceu um concurso em 1997 para se tornar a ilha de energia renovável da Dinamarca. Em 10 anos, passou de importadora de energia suja para exportadora de energia limpa. A mudança ocorreu devido a cortes no consumo, aumento de eficiência na utilização dos recursos de biomassa, expansão dos sistemas individuais de aquecimento, implantação de painéis solares e a construção de turbinas eólicas em terra e em água.

Para que o plano desse certo, a população inteira, diminuta, foi convidada a participar. Haveria um investimento de US$ 90 milhões do governo dinamarquês, a mesma contrapartida do governo local e ainda capital privado de quem decidisse embarcar no projeto.

Aos poucos, os fazendeiros, inicialmente desconfiados, compraram a ideia. Hoje os cidadãos da ilha são sócios do parque eólico, formado por 21 turbinas, 11 em terra e 10 em alto mar. De cada 10 casas de Samso, sete usam vento ou sol para produzir sua energia. Em 2007, foi inaugurada até uma universidade, a Academia de Energia de Samso, para a pesquisa, o treinamento e a educação na área.

Inspiração
​O exemplo de Samso inspira a Dinamarca. Até 2050, o país inteiro quer utilizar apenas energia de fontes renováveis. "É possível, mas ainda não dispomos de toda a tecnologia necessária. Sabemos que energia eólica, solar, biomassa e hidrogênio fazem parte da solução. Mas é necessária maior pesquisa e mais avanços nos próximos 37 anos", confessa Erik Kristofferson, diretor de imprensa da Energinet, que administra a rede de eletricidade do país.

​De acordo com Kristofferson, a energia eólica responderá por uma larga parcela da composição da matriz energética da Dinamarca no futuro. "Será seis vezes maior em 2050 do que hoje", prevê. Um dos entraves, no entanto, é o seu armazenamento. "O vento provê ótima eletricidade, mas não se sustenta sozinho. Nós precisamos ter condições de armazenar a energia eólica e a energia solar e criar um sistema energético flexível".

Thomas Dalsgaard, vice-presidente executivo da maior empresa energética da Dinamarca, a Dong Energy, também mira a energia eólica. "O vento é abundante e limpo, e o vento marítimo sozinho poderia prover 80% da demanda de eletricidade da União Europeia até 2030", afirma.

O objetivo de obter a totalidade de sua energia de fontes renováveis foi traçado pelo parlamento, mas seu custo total pelos próximos 37 anos não foi estimado. "Haverá um investimento massivo", diz Kristofferson. Porém a Energinet sabe que, embora os custos sejam elevados, podem ser compensados futuramente, afinal "a energia renovável é um bom negócio".

Líder na construção de parques eólicos marítimos, a Dong Energy concorda. A empresa já instalou 1,7 Gigawatts de capacidade eólica marítima, o suficiente para fornecer energia para 1,6 milhão de residências. A meta da companhia é diminuir o uso de carvão, uma fonte fóssil. Desde 2006, o consumo foi reduzido em 60%. Além da energia eólica, a empresa pretende aumentar o uso da biomassa - responsável por 21% da geração de calor e eletricidade para a Dinamarca em 2012. Até 2020, esse número deve ser elevado para 50%.

Energia suja?
Combustíveis fósseis são formados por compostos de carbono e originam-se da decomposição de materiais orgânicos. O problema é que esse processo leva milhões de anos. Por isso, são considerados não renováveis, ao contrário, por exemplo, do vento e do sol.

A economia global, contudo, ainda depende de gasolina, óleo diesel, gás natural e carvão, todos combustíveis fósseis. Sua queima gera energia, mas também produz alto índice de poluição atmosférica. São associados diretamente ao efeito estufa e ao aquecimento global.

Exemplo
​O Brasil não pode copiar plenamente o exemplo da Dinamarca, pois é muito maior, se situa em outra região geográfica e dispõe tanto de recursos quanto de desafios próprios nessa área. Atualmente, o País depende de suas hidrelétricas, mas dá passos em direção a energias menos limpas, como usinas de gás natural e termelétricas. De 2001 a 2011, a participação de combustíveis fósseis em sua matriz energética passou de 6% para 15%. Entre 2010 e 2020, estão previstos investimentos de mais de R$ 1 bilhão na expansão energética. Desse valor, 63% se destinam à área de petróleo e gás, 22% à área de energia elétrica e 15% à área de bioenergia.

O Brasil não teria condições de arcar com um projeto como o da Dinamarca. "Não teria dinheiro para pagar. Acabaria sobrando para o consumidor", afirma Marcos Aurélio Vasconcelos de Freitas, coordenador do Programa de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ. Para ele, o País utiliza apenas 25% de seu potencial hidráulico e poderia investir mais nesse modelo, mais barato, se não fosse a legislação ambiental.

Por outro lado, conforme Freitas, regiões mais isoladas, como Fernando de Noronha e partes da Amazônia, têm amplo potencial para projetos de energias renováveis. "Fernando de Noronha vive do diesel, que tem que ser transportado até lá. Noronha tem um potencial eólico impressionante, que poderia gerar energia para torna-la autossuficiente. No meio da Amazônia também".

A energia solar é a aposta de Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. "Eólica, biomassa e centrais hidrelétricas nós até temos algumas coisas a serem corrigidas, mas já temos uma participação. Já a energia solar ainda não saiu do chão. E os preços estão caindo: daria para investir".

E como tudo isso exige investimento, neste sábado, na Hora do Planeta, boa parte das luzes do mundo serão apagadas. Pelo menos por 60 minutos será possível fazer o caminho inverso, economizando minimamente, mas aumentando a reflexão sobre o meio ambiente e as fontes de energia da Terra.

Fonte: noticias.terra.com.br
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir