Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 25-03-2013

A rotina do absurdo
H� alguns dias li uma interessante reportagem sobre os cuidados que todos temos que tomar diante dos altos n�veis de criminalidade que envergonham o Brasil.
A rotina do absurdo

Mostrava-se, na mat�ria, uma s�rie de flagrantes de condutas ditas "de risco", ou seja, de atitudes perigosas para a seguran�a, que todos dever�amos evitar. O primeiro desses flagrantes foi o de um senhor que conversava imprudentemente ao celular em um estacionamento, ao lado de seu ve�culo.

A que ponto chegamos! Um pacato cidad�o n�o pode sequer dar um simples telefonema ao lado de seu ve�culo, em um estacionamento, pois corre o risco de ser assaltado, sequestrado ou at� morto! Sim, esta a reflex�o que a reportagem induz: um ato banal, parte da rotina de muitos outros povos, no Brasil j� � algo temer�rio. Aqui, o neg�cio � entrar correndo no carro, olhando para os lados nervosamente, e sair �s pressas do local.

O fato � que, em uma total invers�o de valores, as v�timas passaram a ser culpadas pelos crimes dos quais foram... v�timas! Frases como "quem mandou dar bobeira" ou "vacilou, pediu para ser roubado" j� fazem parte desta nossa absurda rotina.

� assim que vamos nos transformando em uma sociedade amarga - basta dar uma olhada nas ruas e ver as pessoas andando apressadas, segurando seus pertences junto ao corpo. Nos restaurantes, qualquer barulho mais forte e todos olham assustados para a porta, imaginando um assalto. Nossas resid�ncias mais parecem pres�dios, dada a quantidade de grades que ostentam.

O brasileiro, com a sua resigna��o cabocla, vai sempre buscando ref�gio em argumentos do tipo "n�o tem jeito, crime tem no mundo todo", tratando de se adaptar carneiramente a esta verdadeira rotina do absurdo. Conforta-nos pensar que "outros povos est�o como n�s"!

Mas a verdade � que n�o est�o. Segundo dados divulgados pela ONU atingimos em 2006 o �ndice de 25 homic�dios por cada grupo de 100 mil habitantes - pasme, mas a m�dia mundial � de apenas 8,8. Se considerarmos alguns pa�ses espec�ficos, a vergonha ser� ainda maior: mata-se aqui umas 20 vezes mais que na Noruega, Irlanda ou Espanha.

Vamos a um exemplo s�rio: segundo consta, 44.663 brasileiros morreram assassinados em 2006. O chocante � que no mesmo per�odo a Guerra do Iraque ceifou a vida de 18.655 seres humanos, bem menos que a metade! A conclus�o � simples: d� para andar mais tranquilo em Bagd� do que pelas ruas de muitas cidades brasileiras.

Outro exemplo: na Guerra Civil do Timor Leste, que durou 24 longos anos, foram mortas umas 200 mil pessoas. J� aqui, a cada dez anos morrem assassinados 350 mil brasileiros. O c�lculo � simples: l�, uma guerra produziu 8,3 mil mortes a cada ano. E aqui, onde reina a paz, uns 35 mil seres humanos foram assassinados no mesmo per�odo.

Diante destes n�meros, o h�bito brasileiro de buscar consolo nos problemas enfrentados por outros pa�ses ou achar que tudo isso "� assim mesmo" me faz lembrar a exclama��o de Victor Hugo: "as ilus�es sustentam a alma como as asas a um p�ssaro". Ou de Wieland: "a mentira que me alegra � prefer�vel a uma verdade que me entriste�a".

O fato � que j� passou da hora de ser discutido a s�rio este vergonhoso �ndice de viol�ncia! Talvez seja o momento de pensarmos em considerar as v�timas de crimes n�o como algu�m que "vacilou", mas sim pelo que elas realmente s�o: pobres v�timas.

Fonte: Reda��o Maratimba.com
 
Por:  Pedro Valls Feu Rosa    |      Imprimir