Categoria Policia  Noticia Atualizada em 26-03-2013

Agressões policiais levam imigrantes a viver em túneis no México
Centenas de imigrantes deportados pelos Estados Unidos foram forçados a buscar refúgio debaixo da terra em Tijuana devido ao abuso da policia, do assédio de traficantes e pela impossibilidade de voltar para suas cidades natais.
Agressões policiais levam imigrantes a viver em túneis no México
Foto: noticias.terra.com.br

Os "pocitos" - túneis de 2 a 15 metros de comprimento e um metro de profundidade escavados na terra fofa que as chuvas trouxeram ao longo dos anos para perto das margens do rio Tijuana - são as casas improvisadas por estes cidadãos que, depois de serem expulsos dos Estados Unidos, optaram por se esconder.

Calcula-se que existam 30 túneis onde vivem cerca de 200 pessoas. Dentro dos "pocitos", a única certeza que eles têm é que qualquer dia poderá acontecer uma tragédia. Para entrar nos refúgios é necessário pular para dentro dos buracos; não há escadas, e as entradas estão cobertas de lixo e tábuas de madeira como forma de camuflagem.

Nos últimos anos, Tijuana se transformou no lugar do México onde é realizado o maior número de deportações por parte dos Estados Unidos: 100 mil por ano. O leito do rio Tijuana, conhecido como "El Bordo", foi transformado em refúgio para 3 mil imigrantes mexicanos centro-americanos que lá ficaram retidos após terem sido expulsos dos EUA.

"El Bordo" - um canal de águas residuais que se estende por 4,5 mil metros - é uma fronteira entre o México e os Estados Unidos, feita apenas com uma cerca de metal, e tinha até pouco tempo atrás centenas de casas nas suas margens.

Há pouco mais de um ano começaram as operações para tirar os imigrantes de lá. O método escolhido pela polícia foi queimar seus "ñongos", construções precárias feitas de lixo, plástico e papelão. Delfino López, um imigrante mexicano de 33 anos, lembrou uma dessas operações: "Disseram-nos Já acabou o tempo de vocês, agora vão ver o que é bom! E queimaram e nos levaram tudo".

"Eles tentaram queimá-los vivos, encharcando-os de gasolina e ateando fogo, alguns sofreram queimaduras", denunciou Micaela Saucedo, ativista e diretora do refúgio para imigrantes "Elvira Arellano".

Ismael Martínez, original de Oaxaca, um dos Estados mais pobres do México, viveu durante quase 20 anos no Estado americano Califórnia. Foi deportado e não conseguiu juntar dinheiro suficiente para voltar à sua terra natal.

Ismael lembra que chegou a Tijuana apenas com sua mochila. Quando as agressões dos policiais começaram, ele teve a ideia de se enterrar "como uma toupeira" para se proteger de ser queimado ou detido.

Para reduzir o risco de desabamento de seu túnel, ele forrou o interior com madeiras arrastadas pelo rio. Mas seus reforços improvisados não dão segurança aos que lá vivem; pelo contrário, dormem com medo de que as máquinas do governo municipal os matem.

A ativista Saucedo lembrou que, no final de 2012, quando a prefeitura fazia obras para limpar a região, uma máquina escavadeira tirou o corpo de um imigrante que estava dormindo em um "pocito".

Os deportados não só têm que se esconder debaixo da terra para escapar das autoridades e também dos traficantes que vendem heroína e a droga chamada "cristal" sob ordens do cartel dos Arellano Félix, uma das organizações criminosas que operam na fronteira. "Roubam nossos pertences. Querem que compremos drogas à força", conta um imigrante que pediu anonimato.

Onésimo Gómez contou que na primeira vez que entrou em um "pocito", teve a impressão de ter sido sepultado vivo. Ele disse que sentiu frio e a respiração pesada. "Tinha que abrir muito a boca" para inalar o máximo possível de ar, afirmou. "Me senti muito mal, mas tive que fazer isso para evitar a polícia e para poder voltar a ver meus filhos e esposa, que me esperam nos Estados Unidos. Em dias de conflitos, fecho os olhos e penso neles", acrescentou.

Fonte: noticias.terra.com.br
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir