Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 15-05-2013

“VAIS BEM, MEU IRMíO?”
Com essas palavras carinhosas e fraternais um personagem bíblico, fez uma carícia com a mão direita no rosto de um outro homem, aproximou os seus lábios para um beijo e enquanto praticava esses gestos tão bonitos
“VAIS BEM, MEU IRMíO?”

, com a mão esquerda cravava-lhe impiedosamente uma espada no ventre. (II Samuel 20. 9-10).

Quanta violência! Violência agravada pela dissimulação e pela traição perpetradas contra um ser humano colocado em uma condição tão indefensável que sequer pode imaginar as intenções de seu agressor. E nem poderia. Afinal, eram do mesmo povo, do mesmo exército, sob a direção de um mesmo chefe...

O leitor, escandalizado, deve estar se perguntando, a essa altura, qual a razão ou quais as razões para um ato tão brutal, e tão covarde? O que se passava na mente de Joabe (era esse o seu nome) para um gesto tão ignóbil, tão sórdido contra o seu semelhante? Já lhe digo.

Por trás daquela morte havia um motivo familiar. A vítima vinha a ser filho de um homem que seduzira, no passado, a tia do seu agressor. Era um motivo forte? Para um espírito vingativo, sim. O espírito vingativo não conhece a palavra perdão. O espírito vingativo não entendeu ainda o que Jesus quis dizer com "vai com ele duas milhas", "Oferece-lhe também a outra face". Esse espírito fica na espreita, até encontrar ocasião oportuna. É a sanha da vingança que se aninha no coração como as raízes de um câncer. Isso é terrível.

Mas havia também um motivo político. A pobre vítima trazia em seu histórico o fato de ter se aliado ao filho do rei que se rebelara contra o próprio pai usurpando-lhe o trono. Era motivo forte? Poderia até ser. Entretanto, o próprio rei, como bom político, vencida a questão, havia perdoado e readmitido o seu ex-inimigo em suas fileiras. A política, para Joabe, deixava de ser "a arte do possível" para se deixar conduzir pelas inimizades, pelas altercações, pelas difamações, pelas traições e mortes em nome do poder. Isso é trágico!

Finalmente, é preciso dar destaque a um motivo muito particular que talvez tenha sido o carro chefe nas motivações do agressor. Um sentimento que nós bem conhecemos porque, sorrateiramente, ocupa espaço no coração mal intencionado e no bem intencionado. É esse pecado mortal chamado inveja. O rei não apenas perdoou ao seu inimigo político, mas lhe afiançou o cargo que, não por coincidência, pertencia a Joabe. Foi a gota d’água. A inveja tem feito vítimas desde os tempos de Abel. E não é tão fácil vencê-la. Só lhe impingem derrota aqueles com um mínimo de alteridade e altruísmo. Aqueles com maturidade suficiente para enxergar no seu semelhante mais do que um eterno concorrente, ou uma ameaça constante. A palavra aqui é tolerância. É a coexistência. É o "Viva e deixe viver!"

Esta é uma história que nos leva a erguer mais uma vez a bandeira da não-violência. Da violência gratuita motivada por questões que poderiam ser reconsideradas. A vida humana tem chegado a um estado de banalização que amedronta. Tememos chegar a uma situação de insensibilidade, de embrutecimento tal que não nos importemos mais com notícias de assassinatos por mais hediondos que se apresentem. Isso é macabro!

Finalizo, lembrando John Donne (1572-1631), poeta e pregador inglês: " A morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim". Ele viu a humanidade como um tecido. A morte de um ser humano, para ele, é parte arrancada de um todo. Quando se tira a vida de um semelhante, tira-se um pouco de cada um de nós:

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir