Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 03-06-2013

A PSICANÁLISE E O BARROCO
“Não é à toa que dizem que meu discurso participa do barroco. De tudo que se desenrolou dos efeitos do cristianismo, principalmente na arte (é nisto que encontro o barroquismo com o qual aceito ser vestido) tudo é exibição de corpo evocando o gozo”, Lacan
A PSICANÁLISE E O BARROCO

"Qual é a relação entre a psicanálise e o barroco? É o que questiona e revela a autora da obra "Torções – A Psicanálise, o Barroco e o Brasil", a psicanalista, membro do Corpo Freudiano do RJ, Doutora em Filosofia pela Universidade de Paris XII e pela PUC/RJ, Denise Maurano.

O barroco (estilo de arte que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVII) não é linear. Ele consegue misturar as polaridades: o claro e o escuro, a paixão e a razão, o sagrado e o profano... E a psicanálise, em se tratando de estudo do inconsciente, também lida com o paradoxo. No livro, encontramos no país um solo fecundo, tanto para a expressão artística, quanto para a criação de Sigmund Freud, isso por causa de nossa diversidade cultural.

Quando se fala em barroco logo pensamos em religião, porém, numa visão mais profunda do cotexto histórico, notamos que tanto a igreja quanto os artistas utilizaram esta forma para seus fins específicos. a primeira para apoderar-se da novidade e o segundo como meio de propaganda.

Na obra, o barroco é tomado como forma de orientação do psiquismo. Uma maneira, (pós-maneirismo) de trabalhar as ideias com a integração das divergências. Somos mais do que esse "eu" narcísico que vemos no espelho do banheiro. O inconsciente, a subjetividade ultrapassa a fronteira de nós mesmos.

A normalidade é uma ilusão. Subjetiva para a psicanálise e concretizada nas formas do barroco. Por exemplo: o que é normal para uma aranha é um caos para a borboleta. Numa sobreposição podemos muito bem encontrar uma lagarta com asas antes da metamorfose ou os deuses Eros (amor) e Thanatos (morte) sincronizados sob a mesma ótica. Podemos amar e odiar a mesma pessoa.

O barroco é o precursor da modernidade. Antes havia métodos que ele veio contradizer, por isso há uma ruptura e nova visão de valores, nas artes, na filosofia, na ciência, na religião, enfim, em toda estrutura vigente a partir de então. Não é à toa que o barroco ganha dimensão na reviravolta. O mundo não era do tamanho que se pensava e, se pensarmos que finda num período específico, estamos cometendo grave engano.

A autora diz que a pós-modernidade retoma elementos do barroco. Ele é puro movimento e a cultura brasileira é um palco para esta afirmação. Exatamente por isso, a psicanálise e o barroco têm uma relação de afinidade. O psiquismo não opera linearmente, nem na contradição. A gente é capaz de odiar e amar, ao mesmo tempo, a mesma coisa. Quando sonhamos podemos voar e caminhar. Ser adulto e criança. A gente pensa e fantasia soluções sem que necessariamente o projeto ou a ideia passe por um esboço padronizado.

Mesmo se os críticos e estudiosos disserem que Freud era fascinado pelas obras clássicas, que ele as tenha colecionado, a atmosfera cultural vienense onde ele cresceu permitiu este contexto contraditório em uma dimensão a qual, com sua obra, ultrapassou a ciência tocando o campo das artes.

Em se tratando de barroco, como forma manifestação do psiquismo, podemos dizer que ele é o paradoxo que utilizamos para obter a possibilidade de envolver dois polos da mesma questão sem que um precise excluir o outro para a realização do ato.

Nós somos a cultura do paradoxo, a psicanálise opera com o conflito e o barroco dá visibilidade a isso por meio da arquitetura, artes plásticas e, de forma mais ampla e esclarecedora, na literatura, como na obra de Denise.

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Roney Moraes    |      Imprimir