Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 17-07-2013

A ARTE DA TRANSFERÊNCIA DE CARGO
É chavão, eu sei, mas ninguém é insubstituível. Chico Anysio discordou quando afirmou que os humoristas o são.
A ARTE DA TRANSFERÊNCIA DE  CARGO

Talvez tivesse razão. Provavelmente ele estivesse pensando em Charlie Chaplin, Jerry Lewis, Zé Trindade, Mazzaropi, Costinha, Dercy Gonçalves... e nele mesmo, por que não?

Não é tão simples deixar um cargo. E eu me refiro a cargos que são deixados por vias normais e não por defenestramento. Mesmo sabendo-se que cargos têm data de validade, não é simples, repito. Isto vale também para os ditadores, que, obviamente, não são eternos. Alguns bem que almejam isso. Nas Repúblicas, os mandatários cumprem os seus períodos, mas querem se perpetuar através de seus sucessores por eles indicados. Preciso dar exemplos?

É por essa e por outras que a admiração por líderes que deixam o cargo de forma natural, conscientes de que deixaram um legado honroso aos seus representados, deve ser cultivada sempre. E nessa linha de pensamento, quem conhece a História de Israel, aprende muito com Josué, o sucessor do legislador Moisés.

Josué tinha uma biografia isenta de prevaricações e malversação do patrimônio público. A maior desgraça de um povo é não poder contar com exemplos que vêm de cima: O que mais vemos hoje, em todo o mundo, são líderes que se servem dos cargos que lhes foram confiados quando deveriam utilizá-los para servir.

Esse líder transferia o seu cargo mostrando que continuava interessado nos destinos do povo a quem servira com real dedicação ao longo de seu mandato. E se quisermos entender com profundidade o seu discurso de despedida ( Josué 24 ), diríamos que havia uma preocupação com a vida ético-espiritual do povo. "Escolhei hoje a quem vocês irão servir." Os antepassados, por vezes, estiveram focados neles mesmos e nos ídolos... Nas celebrações havia adoração, havia emoção... Contudo, não se buscava uma vida pautada pela ética, pelos bons costumes. Que exigências morais tem um ídolo a fazer? Nenhuma! No caso deles, havia uma agravante: eram divindades estranhas aos ensinamentos de Yaveh. Alguns ídolos exigiam até sacrifícios humanos. Sem dúvida: o líder deixava o cargo desejando dias melhores para a nação.

Esse chefe de Estado passava o bastão para o seu sucessor, oportunizando ao povo a que usassem o direito sagrado de escolher, mas que o fizessem com firmeza e com seriedade. Foi por isso que quando o povo afirmou que seguiria o exemplo dele e de sua família, Josué os instigou a pensar duas vezes no que estavam dizendo. É como se filosofasse: o futuro de uma nação está atrelado definitivamente às escolhas feitas, às decisões tomadas; e nem sempre há caminho de volta. Responsabilidade, pois, nas escolhas! Reflitam! Não sejam precipitados! E na prática, sabemos da veracidade desse pensamento. Não nos faltam urnas, falta-nos, quem sabe, um pouco mais de seriedade na escolha de nossos representantes. O que é sagrado não pode ser usado com leviandade.

Por último, esse comandante deixa a sua função para outro, e o faz com humildade própria de quem tem a noção exata de sua finitude em relação a um Deus Infinito. Reconhece a presença soberana de um Ser Inteligente que reina acima dos reis, governa acima dos governantes, mesmo que esses não levem em conta a Sua existência. Deus, para esse governante em final de mandato, era mais que uma referência supersticiosa impressa numa moeda, mais que um símbolo religioso ostentado na sala de reuniões. Era Alguém com vontade soberana, revelada através dos oráculos, seus profetas. Mais do que isso: Um Deus pessoal. Um Deus que aplica a lei da semeadura, lei esta que não dá margem para desculpas esfarrapadas: "Deus não se deixa escarnecer; tudo o que semearmos haveremos de colher." (Gálatas 6.7)

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir