Categoria Politica  Noticia Atualizada em 31-07-2013

A sentença pode ser hoje e Berlusconi corre o risco de ser expulso da política
Está em jogo a sorte do homem que domina a política italiana há 20 anos, mas também a estabilidade da coligação e do Governo.
A sentença pode ser hoje e Berlusconi corre o risco de ser expulso da política
Foto: www.portugues.rfi.fr

A Itália está ansiosa. O Supremo Tribunal anunciará hoje, ou amanhã, a sentença de Silvio Berlusconi, condenado no tribunal de segunda instância a quatro anos de prisão e cinco de interdição do exercício de funções públicas por fraude fiscal no caso Mediaset. A ser confirmada a condenação, perderá o mandato parlamentar e não se poderá candidatar. A defesa pede a absolvição integral e garantiu não querer adiamentos.

Não está apenas em jogo a sorte do homem que domina há 20 anos a cena política italiana. Está também em jogo a estabilidade do Governo. E, em última análise, o risco de "implosão" dos dois maiores partidos, Povo da Liberdade (PdL), de Berlusconi, e Partido Democrático (PD), do primeiro-ministro Enrico Letta.

O tribunal reuniu-se ontem. Apenas se pronunciará sobre matéria de direito e não sobre os factos. O processo Mediaset diz respeito à compra e venda de direitos televisivos pelas estações do Cavaliere em 2003. Segundo a acusação, ele teria embolsado ilegalmente 280 milhões de euros, através de sociedades fictícias, defraudando o fisco e os acionistas. Segundo a defesa, Berlusconi era na altura primeiro-ministro, não fazendo parte dos órgãos administrativos do grupo, pelo que não assinou as suas contas.

Berlusconi, com 76 anos, não irá para a prisão. Três dos quatro anos de reclusão serão anulados graças a um indulto de 2006. Mas a interdição de cargos públicos não seria afetada. No caso de o tribunal decidir adiar a sentença ou devolvê-la ao tribunal de segunda instância, o processo prescreveria a 13 de Setembro.

"Desta vez, é diferente"

Não é fácil, como o passado mostra, desfazer-se de Berlusconi, anota o historiador Giovanni Orsina. "Ele demitiu-se e regressou sempre. Desta vez, é diferente, pois o que conta é saber se será expulso dos cargos políticos." A sentença é definitiva. Mas ele tem um direito de vida ou morte sobre a coligação. "O Governo é muito frágil e não há alternativa. Mas é muito difícil dizer se Berlusconi decidirá fazê-lo cair ou decidirá sustentá-lo", conclui.

O Cavaliere declarou há dias que não será ele a derrubar o executivo, mas o PD. Este cenário é verosímil. Vários dirigentes advertem que o PD não pode fazer parte de uma coligação com um partido dirigido por um condenado por fraude fiscal. Outros calculam que será vantajoso precipitar eleições enquanto o PdL se debate com a "orfandade". O PdL é um "partido patrimonial" que dificilmente resistirá ao desaparecimento do fundador. Mas também o PD corre o risco de ruptura, sobretudo no ambiente de uma implacável disputa pelo poder no seu interior. Letta assegura que prevalecerá a estabilidade.

Imprevisíveis serão os "efeitos emotivos". A ex-ministra Daniela Santaché, um "falcão" do PdL, proclama que uma condenação de Berlusconi significará a "condenação de 10 milhões de italianos" que ficam sem representação. Também no PD poderá ser irresistível uma reação emotiva da base, estimulada por mais de duas décadas de "antiberlusconismo". Beppe Grillo espicaça o PD: "Berlusconi está morto e é o PD que o mantém vivo."

O jornalista e ensaísta Marco Travaglio, paladino do "antiberlusconismo", lamentou ontem no Il Fatto Quotidiano: "Paradoxalmente, [Berlusconi] parece ser o menos preocupado. Quem treme são os outros. Porque, se o absolvem, será a prova de que era um inocente perseguido; se o condenam, será a prova de que é um inocente perseguido."

Fonte: www.publico.pt
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir