Categoria Policia  Noticia Atualizada em 12-08-2013

Corregedoria indicia seis policiais da Core por ação na Favela do Rola, Rio
Eles foram indiciados por fraude processual. Policiais alteraram cenários de crime e de confronto 3 vezes em operação.
Corregedoria indicia seis policiais da Core por ação na Favela do Rola, Rio
Foto: g1.globo.com

Seis agentes da Polícia Civil foram indiciados por fraude processual na ação da Favela do Rola, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, em agosto de 2012. O inquérito que investigou a ação de policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) na comunidade foi concluído pelo delegado Glaudiston Galeano, da Corregedoria Interna da Polícia Civil. De acordo com o delegado, o crime foi configurado em razão de os policiais terem alterado os cenários de crime e de confronto em três momentos da operação.

O primeiro quando um dos baleados é arrastado numa rua; o segundo quando um dos feridos é retirado de dentro de uma casa e levado em um lençol para a rua e o terceiro quando alguns dos agentes não preservam o local de crime dentro de um bar, onde havia três pessoas baleadas. A pena para o crime de fraude processual é de seis meses a quatro anos de detenção.

Durante as investigações foram ouvidas 55 pessoas (entre policiais, testemunhas e moradores) e realizada a reprodução simulada na comunidade, com a participação de peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) e de parte dos policiais envolvidos.

Todos os depoimentos, assim como a exumação de dois corpos e a reprodução foram acompanhados pelo núcleo de diretos humanos da Defensoria Pública Geral do Estado do Rio.

O relatório da conclusão do inquérito, com 325 páginas, foi entregue nesta segunda-feira (12) ao 1º Tribunal do Júri, do Tribunal de Justiça. A pedido da chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, os seis policiais também vão responder a Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na Corregedoria Geral Unificada (CGU), por eventual infração disciplinar.

Entenda o caso

Um vídeo, divulgado no dia 13 de maio no Jornal Extra, mostra bandidos fortemente armados na comunidade do Rola, que foi alvo de uma operação da Polícia Civil, em julho do ano passado, quando o traficante, conhecido como DG, era procurado após ter sido resgatado de dentro de uma delegacia. A operação aconteceu um mês antes da incursão, revelada em outro vídeo, em que cinco homens foram mortos e os policiais aparecem forjando um auto de resistência.

O helicóptero dava apoio a um blindado da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). As imagens mostram o poder de fogo dos traficantes, que são flagrados em uma boca de fumo.

Depois, eles entram em um beco e um deles faz três disparos em direção ao blindado, fugindo, em seguida, de moto.

As primeiras imagens mostrando irregularidades em operações da Polícia Civil foram mostradas pelo Fantástico no domingo (5). O helicóptero faz cerco ao traficante Matemático na favela da Coreia, na Zona Oeste. Os casos estão sendo investigados pela corregedoria da corporação.

Ministra cobra providências

A ministra da Igualdade Racial Luiza Bairros defendeu, no dia 13 de maio, que o Governo do estado do Rio investigue a fundo os vídeos divulgados pela imprensa, que mostram a execução do traficante Matemático na favela da Coreia, na Zona Oeste da capital, e policiais civis forjando um auto de resistência na comunidade do Rola, também na Zona Oeste.

Nos dois vídeos, policiais atiram do helicóptero durante operações em comunidades carentes.

"É importante que haja espaços para essas denúncias, para que não haja possibilidade de que o governo, com seu aparato de segurança, fuja da sua responsabilidade de investigar profundamente esses casos", disse a ministra.

A declaração foi dada durante evento no Palácio Guanabara em comemoração aos 125 anos da abolição da escravatura no Rio, quando foi lançado o plano estadual da igualdade racial.

Em discurso, Luiza Barros que defendeu a regulamentação pelo Congresso Nacional de projeto que regulamenta autos de resistência — mortos em confronto com a polícia — e cria mecanismos de investigação dos casos. De acordo coma ministra, a maioria dos mortos são jovens negros.

"Premiado por não matar", diz Cabral

Durante a solenidade, o governador Sérgio Cabral não comentou diretamente os casos recentes, mas afirmou que a Secretaria de Segurança está trabalhando para reduzir o número de autos de resistência no estado.

"Estabelecemos política de meritocracia, temos meta para reduzir homicídios, latrocínios e autos de resistência. Antigamente, o policial no estado era premiado por matar. Hoje, ele é premiado por não matar. É claro que muito ainda tem que ser aperfeiçoado nesse processo", afirmou em discurso o governador, que não quis dar entrevista.

Protocolo em 30 dias

A delegada Martha Rocha, chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, disse durante entrevista coletiva, também no dia 13 de maio, que a corporação iria criar um protocolo para análise de imagens das operações.

"O órgão vai estabelecer um protocolo para analisar as imagens das operações com o interesse de avaliar o passado e de projetar o futuro. Como não havia essa rotina, permitia que a decisão de analisá-las fosse algo pessoal" declarou a delegada, após o vazamento de imagens de duas operações da Polícia Civil.

A comissão terá 30 dias para criar um protocolo para analisar os equipamentos e será presidida pelo delegado Glaudiston Galeano, da Corregedoria Interna (Coinpol), e composta por subchefia relacional, corregedoria, divisão de tecnologia, polícia técnica e assessoria jurídica.

A Corregedoria da Polícia também fez uma inspeção na manhã desta segunda na sede Saer (Serviço Aeropolicial) no equipamento que grava e armazena as imagens. "Desde a chegada deste equipamento na polícia, em 2010, não havia um protocolo", afirmou.

Operação na Favela do Rola

Martha Rocha disse que "efetivamente houve a operação, que tinha como objetivo prender o traficante DG, que havia sido resgatado na sede da 25ª DP (Engenho Novo). Ao término da operação, o caso foi apresentado à 36ª DP (Santa Cruz) e, diante das últimas notícias com o não cumprimento da portaria 053, que determina o que deve ser feito com os autos de
resistência, acoplamos o fato ao inquérito."

As imagens da operação na Favela do Rola mostram cinco pessoas mortas. Douglas Vinicius da Silva, de 22 anos, e Silas Rosa Guimarães, de 26 anos, não tinham passagem pela polícia. Ewerton Luís da Cruz Neves, de 25 anos, tinha passagem por tráfico. Paulo César de Souza Caetano, de 44 anos, respondia por furto qualificado, e Adalberto santos da Silva, de 27 anos, era suspeito de homicídio.

O delgado Glaudiston disse que vai precisar analisar as imagens com profundidade. "Acho muito apressado da minha parte dizer se [os que não tinham passagem pela polícia] eram inocentes ou não. Vamos buscar informações com os familiares".

Vídeo

No dia 11 de maio, um vídeo exibido pelo jornal "Extra" mostrou a ação da polícia durante uma operação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) em 2012, na Favela do Rola, em Santa Cruz, Zona Oeste da cidade, onde policiais aparecem forjando um auto de resistência.

A ação deixou cinco mortos.

No dia 7 de maio, o Fantástico exibiu imagens gravadas durante a operação que matou o traficante Márcio José Sabino Pereira, conhecido como Matemático. No vídeo, policiais aparecem "caçando" o traficante por cerca de nove quarteirões. Um trecho de aproximadamente um quilômetro de extensão virou uma praça de guerra. Depois da caçada, o traficante foi encontrado morto.

Na ação da polícia na Favela do Rola, uma das vítimas, que estava desarmada, teve o corpo carregado para um bar onde estavam as armas e outros mortos pela operação. A Corregedoria assumiu as investigações sobre a ação. Na noite de domingo (12), a delegada emitiu um comunicado oficial sobre o caso. No texto, ela promete punir "erros e excessos".

Leia a nota na íntegra:

"Todas as providências para apurar as circunstâncias da operação da Coordenadoria de Recursos Especiais na Favela do Rola foram tomadas tão logo tomei conhecimento do caso. A Chefia de Polícia Civil não compactua com erros nem excessos que terão punição exemplar, a partir do trabalho da Corregedoria Interna da Polícia Civil. Para dar agilidade ao caso, a Corregedoria também assumiu a investigação dos cinco homicídios provenientes de auto de resistência. Laudos periciais e depoimentos serão analisados com rigor, assim como o tipo de armamento utilizado, o socorro aos feridos e a não preservação do local do crime. A Polícia Civil tem o mesmo interesse da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que é a busca pela verdade. O papel do policial é proteger vidas e agir dentro da lei. O princípio da Polícia Civil é prender e não matar. "

Operação

Em 16 de agosto de 2012, dois helicópteros sobrevoavam a Favela do Rola em busca de traficantes. Durante a operação, os criminosos se refugiaram no interior de um bar e começaram a atirar em direção à aeronave. Os policiais revidaram. Um dos helicópteros era pilotado pelo comandante Adonis.

O tiroteio durou cerca de seis minutos. O helicóptero desceu e os policiais continuaram a gravar a ação com uma câmera colocada no capacete de um deles. Três corpos foram encontrados em um bar. Contudo, havia um homem morto em outra localidade. No vídeo, o policial confirma que ele não estava armado e os policiais do Core carregam o corpo deste homem por cerca de 70 metros e o deixa no bar em que estavam os outros mortos e as armas.

Em nota, a chefia da Polícia Civil afirmou que o caso foi registrado como homicídio proveniente de auto de resistência e não fez distinção entre os criminosos armados e o homem encontrado na casa. No dia 16 de agosto do ano passado, a nota da polícia, entretanto, não mencionava mortes, dizia apenas que cinco suspeitos haviam sido baleados.

A Polícia Civil afirmou, na noite de sábado (11), que três dos cinco mortos na operação tinham antecedentes criminais, contudo, declarou que não era possível confirmar, neste mesmo dia, se o homem arrastado estaria entre estes três homens.

Disputa

Segundo o Jornal Nacional, o vídeo é exposto em um momento de disputa interna na Polícia Civil. A briga envolve o subchefe operacional da Polícia Civil, Fernando Veloso, o piloto Ronaldo Ney Barbosa Mendes e Adonis Lopes de Oliveira, ex-comandante do SAER, que é o setor responsável pelas operações aéreas da Polícia Civil.

Desde julho de 2012, Ney está afastado por Adonis devido a excesso de faltas ao trabalho.

A Corregedoria abriu sindicância para apurar essas faltas.
Ronaldo Ney também é investigado pelo Ministério Público por supostamente ter ficado com R$ 120 mil de um grupo de alunos que pagou por aulas de pilotagem, que não foram dadas. Procurado, Ney não foi encontrado para comentar as acusações.

O subchefe operacional da Polícia Civil, Fernando Veloso, disse que só viu as imagens da operação na Favela da Coreia, que buscava prender o traficante Matemático, quando elas foram ao ar no Fantástico.

"Eu vi as imagens [anteriormente] porque os policiais me trouxeram. Elas eram diferentes, editadas.". Ele também disse que não tece curiosidade em assistir porque sua rotina não o permite.

Veloso se defendeu das informações de que estaria envolvido em uma disputa dentro da Polícia Civil.

"Eu desconheço ter envolvimento em desavenças. Eu tomei conhecimento a partir da reportagem. Sei que há desavenças entre policiais e tenho que tomar decisões em função da minha posição. Eu nao tomei partido nem de um policial, nem de outro", disse.

Armas de fogo

Quanto às sete armas de fogo utilizadas na operação na Favela do Rola, a polícia afirma que elas foram apreendidas logo após a ação.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir