Categoria Ciência e Saúde  Noticia Atualizada em 24-08-2013

"Peço que não me recebam mal", diz médico espanhol que chegou a PE
Três espanhois do programa Mais Médicos desembarcaram no Recife. Cremepe diz que não vai emitir registro para quem não fizer revalidação.

Foto: g1.globo.com

O médico espanhol Rafael de Quinta Fruto, 59 anos, selecionado na primeira etapa do Mais Médicos, desembarcou no Aeroporto Internacional do Recife, na noite desta sexta (23), dizendo que se sente constrangido com a posição contrária da classe médica brasileira ao programa. "O governo do Brasil pediu ajuda e eu vim. Peço que não me recebam mal", disse o profissional, bem carismático, falando um "portunhol" inteligível. Boa parte do português aprendeu com a esposa, que é brasileira e motivo da vinda dele ao País. "Ela morou 12 anos comigo na Espanha e, agora, quis retribuir o favor, mesmo ganhando menos dinheiro. Vim por amor", comentou.

Quinta chegou ao Recife com mais dois médicos espanhóis, Bladimir Quintan, 49 anos, e Domingo Gonzalez, 56. Eles serão levados para um alojamento do Exército em Tejipió, Zona Oeste do Recife. Outros 16 médicos portugueses, espanhóis, argentinos e brasileiros com formação no exterior chegam até domingo (25), quando iniciam o módulo de avalição sobre saúde pública brasileira e língua portuguesa.

Após a aprovação nesta etapa, 12 serão encaminhados para Recife, Cabo de Santo Agostinho e Goiana, todos municípios da Região Metropolitana, e o restante para outros municípios do Nordeste e Minas Gerais. Eles começam a atender a população a partir de 16 de setembro.

Médicos cubanos devem chegar também neste fim de semana, por meio de um acordo do governo brasileiro com Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), e vão passar pela mesma avaliação. A quantidade de cubanos que chegarão ao Recife não foi informada.

Os médicos foram recebidos pelo secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mozart Sales, que garantiu que todos poderão trabalhar legalmente no Brasil. "Existe uma medida provisória que estabelece o registro provisório, e uma autarquia [os conselhos regionais de medicina] não está acima da lei. Pode haver algumas situações de arroubo, como os conselhos do Rio Grande do Sul e Brasília que tentaram se recusar a emitir o registro aos estrangeiros e foram derrotados na Justiça", afirmou.

Sem revalidação, Cremepe não dará registro

A presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Helena Carneiro Leão, citou a Lei nº 3.268/1957, que criou os conselhos de fiscalização profissional, como impedimento. "Nenhum profissional médico pode exercer a profissão sem estar registrado nos conselhos. Eu não posso sair daqui com o meu CRM de Pernambuco e ir trabalhar em São Paulo, porque isso é exercício irregular da medicina, quanto mais vir de outro país para trabalhar aqui", comentou.

Para ela, a situação é bastante delicada. "Não vamos fazer registro de estrangeiro ou brasileiro formado no exterior sem que ele se submeta à prova de revalidação. Estamos diante de um impasse. Como esse médico vai poder preencher receituário para remédio controlado, por exemplo, sem CRM, ou fazer solicitação de exames? Como ele vai ser responsabilizado eticamente, se tiver um erro?", questionou.

A presidente do Cremepe afirma que a fiscalização regular da entidade continuará sendo realizada. "Vamos fiscalizar inclusive as condições de trabalho, como sempre fazemos, mas não pretendemos encaminhar [os estrangeiros] para as autoridades policiais competentes", assegurou.

Motivações diferentes

Rafael de Quinta Fruto é natural de Sevilha e tem 59 anos, 38 deles dedicados a medicina.

É especialista em cirurgia geral. Ele viu o chamado do Mais Médicos na internet e se interessou pela proposta por conta da esposa brasileira. "Eu sabia que ela queria voltar, apesar de nunca ter cobrado isso. Ela mora comigo na Espanha há 12 anos. Então surgiu a oportunidade de devolver esse favor, foi por amor", comentou.

O espanhol escolhou trabalhar na Baía da Traição, na Paraíba. "Minha mulher morou lá um ano, e eu gostei muito do lugar", explicou. O médico afirmou que não conhece ainda a realidade do atendimento básico no Brasil, acha que vai se acostumar com o sotaque em pouco tempo e disse que não se importará em ganhar menos - na Espanha, como cirurgião, ganhava, sem benefícios, 3,5 mil euros, cerca de R$ 10.990. Aqui, receberá R$ 10 mil. "Eu trago coisas diferentes e acho que o cruzamento de cultura e ideias é muito enriquecedor", defendeu.

O também espanhol Bladimir Quintan é natural de Madri e tem 26 anos de experiência profissional. É especialista em medicina da família. Apesar de citar que há chamadas para trabalhar em vários países da Europa, ele optou por trabalhar no Brasil e escolheu a cidade do Recife. "O que me motivou foi a decisão do governo brasileiro de fazer um programa de saúde para a população. Conheço um pouco da situação das áreas pobres, posso aprender português rápido. A Europa também passa por uma crise. Hoje, o médico ganha um quinto do que ganhava", falou.

Domingos Gonzalez é espanhol das Ilhas Canárias, especialista em emergência e saúde da família, trabalhando na área há 32 anos. Ele irá trabalhar em Água Branca, também na Paraíba. "Acredito que atingi uma maturidade profissional e quero me aposentar aqui no Brasil, sei que ainda posso contribuir", disse.

Avaliação

O módulo de acolhimento e avaliação tem carga horária de 120 horas (três semanas) com aulas expositivas, oficinas e simulações de consultas e de casos complexos. Também serão realizadas visitas técnicas aos serviços de saúde. Haverá aulas de língua portuguesa e os conhecimentos linguísticos e de comunicação na prática médica no Brasil serão testados. A capacitação será realizada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no campus de Vitória de Santo Antão, na Mata Norte do estado.

Os médicos aprovados receberão um registro profissional provisório, restrito à atenção básica e às regiões onde serão alocados pelo programa, e bolsa federal de R$ 10 mil, paga pelo Ministério da Saúde, mais ajuda de custo. Também farão especialização em Atenção Básica. O governo brasileiro também custeará até dois dependentes dos médicos.

As prefeituras que receberão esses profissionais serão responsáveis pela alimentação e moradia dos médicos durante todo o período do programa. Todos os profissionais serão supervisionados por uma instituição de ensino e também pelas secretarias estaduais e municipais de saúde.

Seleção

A segunda seleção de médicos estrangeiros foi aberta nesta segunda-feira (19) para adesão de novos municípios e médicos brasileiros e estrangeiros, que podem se cadastrar até o dia 30 de agosto. Os profissionais selecionados nesta etapa iniciarão as atividades ainda na primeira quinzena de outubro.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir