Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 26-08-2013

Deu a louca no capitalismo
Imagine uma pessoa solit�ria, daquelas admiradoras de Schopenhauer, segundo quem "a solid�o � a sorte de todos os esp�ritos excepcionais".
Deu a louca no capitalismo

Pois �. Nosso personagem, pessoa de posses, gostava de viver sozinho, distante de todos e de tudo.

Mas eis que um dado dia, subitamente apaixonado, decidiu casar-se! Marcada a data das n�pcias e reservada a igreja, nosso personagem ficou a pensar que poderia ser humilhante comparecer � cerim�nia sozinho - lembrem-se, ele era um solit�rio - enquanto sua futura esposa levaria familiares e amigos.

A solu��o estava em uma empresa indiana da cidade de Jodhpur, chamada "Best Guests Centre", especializada em arrumar convidados para casamentos! Parece inacredit�vel, mas eles contratam atores para se fazerem presentes em qualquer cerim�nia, observando vestu�rio e regras de etiqueta compat�veis com os desejos do cliente. Eles s�o t�o detalhistas que chegam a estudar as fam�lias dos noivos, para evitar qualquer deslize que possa revelar a raz�o de suas presen�as - o dinheiro!

Gra�as a esta empresa o casamento do nosso personagem foi um sucesso de m�dia! Mas ele quis ir al�m. Teve a id�ia de impressionar sua jovem noiva durante a lua-de-mel. Foi quando contratou uma outra empresa, norte-americana, de nome "Celeb 4 a Day", especializada em transformar pessoas an�nimas em celebridades por um dia ou dois. E assim, em sua lua-de-mel, nosso personagem foi seguido por um falso "paparazzi" que tirava fotos dele o dia inteiro, concedeu entrevistas coletivas em restaurantes a falsos jornalistas e at� deu aut�grafos a f�s de mentirinha que o abordavam v�rias vezes ao dia.

Como seria de se esperar, um casamento iniciado nestas bases n�o durou muito. E assim eis nosso personagem de volta � solid�o! Buscando extravasar sua raiva, foi a um bar da cidade espanhola de Cullera, no qual os clientes pagam para ter o direito de ofender os pobres gar�ons das mais variadas formas! Foi assim, ap�s xingar uma meia d�zia deles, que nosso personagem acalmou-se.

Passou-se o tempo, e veio a velhice. Preocupado com o futuro, e mais exatamente com a vida ap�s a morte, decidiu adquirir um ingresso para o para�so. Para tanto, buscou uma empresa norte-americana chamada "Ticket to Heaven", onde, por US$ 19,95 mais as despesas postais, adquiriu esta preciosidade. Segundo a empresa o ingresso, pessoal e intransfer�vel, deveria ser colocado em seu caix�o.

J� muito idoso, e �s portas da morte, nosso solit�rio personagem ficou a pensar que n�o iria ningu�m ao seu vel�rio - o que seria muito desagrad�vel! Assim, procurou ele um servi�o dispon�vel nas cidades espanholas de Campanario, Extremadura, Gal�cia e Can�rias, atrav�s do qual qualquer morto pode ter certeza de que estar� sempre rodeado de pessoas chorando sua morte e rezando por ele.

E foi assim que no vel�rio de nosso ex�tico personagem estavam diversas senhoras das mais distintas, chorando e rezando o dia inteiro a troco de 30 Euros - ele havia contratado somente as melhores na arte do choro e da lamenta��o, desprezando outras menos especializadas cujo pre�o era de apenas 20 Euros.

Nosso personagem � fict�cio. Mas as empresas que citei n�o. Elas existem. S�o reais. E tem prosperado, o que � mais chocante. Fico a pensar, diante desta realidade, naquela frase de Oscar Wilde: "o mundo pode ser um palco, mas o elenco � um horror".

Fonte: Reda��o Maratimba.com
 
Por:  Pedro Valls Feu Rosa    |      Imprimir