Categoria Geral  Noticia Atualizada em 30-08-2013

Major que coordenou resgate ressalta equipe e vidas por trás de números
Orgulhoso da equipe, major diz que treinos para Copa do Mundo ajudaram. "Para a gente não é só um número", diz sobre os 10 mortos e 26 feridos.
Major que coordenou resgate ressalta equipe e vidas por trás de números
Foto: g1.globo.com

Após 21 anos de combate a incêndios e resgates, o major Anderson Lima, comandante do 3º Grupamento dos Bombeiros, na Zona Leste de São Paulo, afirma que há sempre uma história de vida por trás de cada número de uma tragédia. Ao fim de 56 horas de trabalho, os mais de 270 homens coordenados por ele conseguiram dar respostas para famílias de 36 pessoas atingidas pelo desabamento do imóvel em São Mateus - dez pessoas morreram e 26 foram resgatadas dos escombros.

Responsável por comandar bombeiros vindos de várias regiões da cidade e da região metropolitana, Lima fez do caminhão do centro de operações a casa dele nos dias de trabalho. Ele acompanhou todas ações desde o início das operações de resgate, na terça-feira (27) pela manhã. "Na quinta-feira, eu dormi na viatura das 4h às 6h. Mesmo dormindo, fico pilhado. A gente deita mas não descansa, fica sonhando, traçando os próximos passos", contou.

No Corpo de Bombeiros desde 1992 e pai de um adolescente de 14 anos, Lima, com a conclusão da busca das vítimas do desabamento em São Mateus, fazia planos para a merecida folga.

"Vou curtir meu filho. Vamos para Campos do Jordão amanhã (sexta-feira, 30) tomar um chocolate quente, passear e descansar", revelou. Segundo o oficial, o filho não demonstra interesse pela profissão do pai. "O negócio dele é tecnologia", revelou, com uma certa ponta de alívio.

Recentemente, o oficial do Corpo de Bombeiros esteve no incêndio que atingiu os Armarinhos Fernando, mas não se recordava de ter vivido tragédia com as proporções do desabamento em São Mateus. "Já atendi incêndios de grandes proporções, acidentes de trânsito com várias vítimas, mas desabamento dessas proporções, com tantas pessoas confinadas, foi a primeira vez", afirmou.

Ele conta que o momento mais tenso dos trabalhos foi no início, devido aos escombros das estruturas que desmororanaram ainda estarem instáveis, com riscos de novos desabamentos.

"No início, com a acomodação dos destroços, havia este risco. Onde você pisava, você ouvia estalar. Eu não posso expor a vida de um bombeiro se não estivermos na tentativa de retirar mais uma pessoa. Lógico que é um risco controlado, mas ainda assim é um risco."

Ele lamentou a perda de vidas no desabamento, mas preferiu ressaltar o fato de a maioria dos operários da obra ter sobrevivido. "A tragédia foi grande, mas é uma satisfação conseguirmos tirar ainda 26 pessoas com vida. Fico feliz por isso. Para a gente, não é só um número. Por trás temos a história de vida, a família", justficou.

Ele destacou ainda a dedicação da equipe, que decidiu permanecer no local até a retirada de todas as vítimas. "Estive aqui esse tempo todo, mas não é mérito meu. Todo mundo aqui é muito dedicado. Teve momentos em que tive que determinar que o bombeiro fosse rendido, porque ele sentia que estava perto e não queria sair. Se não faço isso, ele estaria aqui até agora. Se deixasse ainda teria equipes do primeiro dia por aqui", afirmou.

Ele se diz orgulhoso de trabalhar nesse grupamento que atende a Arena Corinthians. "Temos equipes que passaram por vários tipos de treinamento tendo em vista a Copa do Mundo.

Conseguimos montar toda uma estrutura, de barracas, com equipamentos. Estamos prontos.

Tenho muito orgulho desse grupamento", disse. Os treinamentos específicos para o Mundial consistiram de simulações de várias "situações adversas, como explosão, colapso estrutural, entre outros", explicou.

Para ele, o momento mais emocionante foi a retirada dos escombros do mestre obras Rubens Moreno, de 25 anos, ainda no primeiro dia. Ele auxiliou as equipes por telefone. "A retirada do Rubens foi muito especial para mim. Ele estava em uma área de muito difícil acesso. Ele não se machucou muito porque estava no lugar certo, se tivesse ido mais para a esquerda ou para a direita ele teria morrido."

Depois da equipe médica fazer um curativo em sua cabeça, ele deixou o hospital sem receber alta. "Ele voltou aqui e nos ajudou a encontrar sete pessoas mortas. Ele nos poupou muito esforço".

Ao final de praticamente 56 horas de um exaustivo trabalho, Lima encontrou motivo para comemorar. "Estou aliviado. Tirei um peso de 200 kg das costas, pois entreguei a minha tropa inteira para a família de todos eles", finalizou.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir