Categoria Geral  Noticia Atualizada em 16-09-2013

Sírio conhece cariocas na web e se refugia no Rio após tortura e bomba
Farmacêutico Abdullah, há 3 semanas no Brasil, faz aula de português. "Quero vida simples", diz jovem que teve casa bombardeada em Aleppo.
Sírio conhece cariocas na web e se refugia no Rio após tortura e bomba
Foto: g1.globo.com

Nascido em Aleppo, no norte da Síria, o jovem Abdullah Alharoun é um sobrevivente da guerra civil que atinge a Síria há dois anos e meio. Em entrevista ao G1, o farmacêutico de 30 anos conta que foi capturado e torturado por membros do regime de Bashar al-Assad, foi sequestrado pela oposição sob um resgate de US$ 20 mil e teve a casa e a farmácia bombardeadas. Após conhecer uma família brasileira na internet, Abdullah desembarcou no Rio há três semanas e busca refúgio no país.

Ele diz que viveu os primeiros momentos de terror quando, na universidade, postava nas redes sociais comentários que criticavam a postura do regime do ditador sírio. Ele conta que foi sequestrado e torturado durante três dias por integrantes da inteligência do governo. E dá detalhes do drama vivido no país (assista no vídeo acima).

"A revolução começou com os estudantes nas mídias sociais, como o Twitter e o Facebook.

Por causa disso, nós fizemos o que fizemos, para dar suporte à revolução. Nós estávamos apenas reivindicando nossos direitos. Por causa disso, eu e outros estudantes fomos pegos pela inteligência do governo."

Uma vez liberado, um grupo da oposição, que Abdullah não consegue afirmar se eram integrantes da organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda ou se militares desertores, o capturou e o manteve em cativeiro por mais três dias, conta. Eles exigiram US$ 20 mil da família para libertá-lo, de acordo com Abdullah.

"Eles queriam forçar as pessoas a concordar com eles. Mas era contra os meus princípios.

Eles me colocaram uma venda, eu não sei para onde me levaram, não sei quem eram eles, se eram integrantes da Al-Qaeda, mas minha família conseguiu juntar a quantia e eles me libertaram", explica.

Casa destruída

Mas os dissabores da guerra civil que atinge a Síria não haviam terminado na vida de Abdullah. Ele conta que os radicais [opostositores do governo] tomaram conta da região terrestre. O espaço aéreo, no entanto, ainda era do governo.

"No dia 16 de janeiro, nossa casa foi atacada. Durante esse ataque, estavam minha mãe, minha irmã e minha tia. Minha tia morava conosco e era uma mulher idosa. Ela tinha 65 anos e morreu nesse ataque porque o telhado desabou no quarto em que ela estava. A farmácia também ficou destruída, porque ficava no primeiro andar do prédio e o apartamento era no segundo andar."
Abrigo no Rio
O sorridente Abdullah diz que quem deu abrigo a ele quando chegou ao Brasil foi uma família de Rocha Miranda, no Subúrbio do Rio, que ele conheceu pela internet. "Ganhei um irmão novo", declara, ao se referir a Jonatan, de 18 anos.

"Eu disse a eles que não tinha pra onde ir e Patrícia, mãe de Jonatan, falou que eu poderia ficar na sua casa. Essa família tem sido muito boa para mim desde o dia que desembarquei. Eles estavam esperando por mim no aeroporto e me levaram para casa", explica Abdullah, que continua hospedado com os "novos" familiares em Rocha Miranda.
Países da Europa negaram visto
Antes de vir para o Brasil, o farmacêutico procurou alguma opção de refúgio na Europa. A Grécia foi a sua primeira opção, mas nenhum país que ele procurou concedeu visto, afirma.

De Istambul, na Turquia, onde também foi recebido por amigos que fez na internet, Abdullah tentou visto para diversos países, entre eles, o Brasil.

"Primeiro, minha ideia era ir para São Paulo, porque eu sei que eles têm uma grande comunidade árabe por lá. Mas depois essa família [que ele conheceu pela internet] disse para eu vir ao Rio que eles iriam me ajudar", revela.

Quando chegou ao Brasil, há três semanas, Abdullah foi recebido pela Polícia Federal, que o encaminhou à Cáritas Arquidiocesana do Rio, onde atualmente faz aulas de português. No dia 24 de setembro, ele fará uma entrevista na PF. Segundo Aline Thuller, coordenadora do Programa de Atendimento a Refugiados do órgão, a entrevista faz parte do processo de pedido de refúgio.

A família síria e o futuro

Os familiares de Abdullah continuam morando na Turquia. Segundo ele, os parentes não pretendem vir ao Brasil. No entanto, ele espera conseguir a cidadania brasileira, encontrar uma mulher e se casar em terras brasileiras.

"Muita gente procura uma vida de luxo. Eu quero uma vida simples. Quero apenas uma rotina.

Poder alugar um apartamento ou dividir com alguém. Depois penso em trazer minha família, mas não sei se isso vai acontecer, porque minha mãe já é uma senhora. Acho difícil ela vir e se adaptar a outra cultura, a outro país. Ela ainda está na Turquia. Essa família que está com ela é síria. Ela está vivendo bem por lá. Eu não acredito que ela aceitaria viver no Brasil. Eu adoraria ter uma cidadania brasileira e encontrar uma esposa. E também casar aqui. Esse é o plano", conta, rindo.

Mais de 200 refugiados sírios no Brasil

A Síria enfrenta, desde março de 2011, uma guerra que já deixou pelo menos 110 mil mortos.

Por conta da rebelião armada que tenta derrubar o presidente Bashar al-Assad, mais de 2 milhões de sírios já deixaram o país em busca de refúgio em nações vizinhas. De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), há 255 sírios refugiados no Brasil. Destes, 242 pediram abrigo após março de 2011.

Ainda de acordo com a Acnur, em agosto deste ano, a Síria ultrapassou o Iraque entre os países com o maior número de refugiados, ocupando o quarto lugar da lista liderada pela Angola. Em segundo lugar, de acordo com a Acnur, está a Colômbia, seguida pela República do Congo.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir