Categoria Geral  Noticia Atualizada em 21-09-2013

Leilão de Libra é problemático, dizem especialistas
Participação indica prejuízo às finanças da Petrobras e às relações comerciais do país.
Leilão de Libra é problemático, dizem especialistas
Foto: www.jb.com.br

A primeira rodada do pré-sal que vai ofertar a área de Libra, na Bacia de Santos, com data marcada para 21 de outubro, desapertou o interesse de apenas 11 empresas das 40 esperadas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) - isso contando com a participação da Petrobras.

Esse resultado frustrou as expectativas da presidente da ANP, Magda Chambriard, e representou um verdadeiro banho de água fria nas intenções do governo de se tornar uma nova Arábia Saudita dos trópicos. Para economistas, trata-se de uma tragédia anunciada, levando em conta que esse número deve se reduzir a três consórcios participantes, com presença maciça dos asiáticos, que, se vencerem, devem comprometer ainda mais as finanças da Petrobras.

Das empresas interessadas na exploração de petróleo e gás natural, sob regime de partilha de produção, três são chinesas, a CNOOC International Limited, a China National Petroleum Corporation e a Repsol/Sinopec. Entre as europeias, estão a Shell, a Total e a Petrogal, estas duas últimas com uma presença menos relevante no mercado. Há uma da Colômbia, a Ecopetrol, também tímida, e as restantes são asiáticas - Petronas, da Malásia, Mitsui & CO, do Japão, e ONGC Videsh, da Índia.

Entidades como o Centro Brasileiro de Infraestrutura reforçam que todo leilão, para ser vitorioso, precisa de um grande número de empresas na competição. Com o número reduzido, a Petrobras acabará tendo que arcar com mais responsabilidade. De acordo com Adilson de Oliveira, doutor em Economia do Desenvolvimento, levando em conta que as empresas devem se unir para formar consórcios, tudo indica que as asiáticas devem vencer o leilão, o que causaria uma dependência da economia brasileira dos negócios com a China, e uma maior participação por parte da Petrobras, o que comprometeria ainda mais sua situação financeira. A petrolífera brasileira ficaria limitada para participar em outras áreas do pré-sal.

"Certamente, os chineses terão predominância sobre o leilão. Esse será um leilão no mínimo ruim para o Brasil. Os chineses vão querer levar o óleo produzido para a Ásia e vão querer compensar com o volume de exportações para o Brasil. O país então vai ficar totalmente dependente do comércio com a China. Nesse cenário, o leilão será problemático. O país vai ter que administrar o que vai fazer com isso. O risco é grande", atesta.

Pelas regras da partilha, vencerá o leilão o consórcio que apresentar a maior parcela do óleo de Libra destinada à União. A Petrobras será a operadora única e sócia de todos os campos, com no mínimo 30% de participação. Este, inclusive, é um dos principais motivos apontados por especialistas para o número reduzido de interessados. Uma fonte, que pediu anonimato, afirmou inclusive que o resultado já era esperado, dado o grande volume de investimento exigido e o interesse da maioria das grandes petrolíferas de entrar em negócios como esse como operadoras. Quando elas entram em leilões para explorar áreas com a presença de outra operadora, é porque têm a certeza de que dentro daquele mesmo negócio elas poderão atuar como operadoras em outras áreas. A Exxon, Chevron, British Petroleum (BP) e British Gas (BG) anunciaram que não iriam participar, por questões internas.

Marcelo Colomer, doutor em Economia da Indústria e Tecnologia, ajuda a explicar o desinteresse das empresas. "Uma questão específica do leilão de Libra que impacta o interesse é o fato das petrolíferas não poderem ser operadoras no negócio. Para essas empresas, o interessante é sempre tentar ser operadora. O fato de não poder ser operadora torna muito pouco atrativo o negócio em si", reforçou.

Segundo Oliveira, para as empresas, não é suficiente ter a certeza de que as riquezas do pré-sal estão asseguradas, existiriam ainda outros problemas, como, por exemplo, o preço estipulado do petróleo para os próximos 30 anos. Oliveira não acredita que ele deva se manter no patamar projetado, levando em conta a maior competitividade de combustíveis alternativos e o cenário econômico global.

O ideal para o Brasil em relação ao pré-sal, ele destaca, seria oferecer as áreas sob concessão onerosa, como foi realizado com o Campo petrolífero de Tupi, na Bacia de Santos. A vantagem desse regime, aponta, seria a possibilidade de o governo escolher diretamente quem vai explorar e ter a certeza das condições que poderiam surgir.

O diretor de Exploração e Produção da Petrobras no governo Lula e responsável pela descoberta do pré-sal, Guilherme Estrella, declarou recentemente, durante seminário promovido pela Academia Brasileira de Ciências, que a realização do leilão do Campo de Libra é um "erro estratégico". "Libra são 10 bilhões de barris de petróleo já descobertos, é muito óleo. A nossa posição de reserva com o pré-sal é muito confortável pelos próximos 20 anos. Por que abrir Libra para a participação de empresas estrangeiras e interesses estrangeiros?", questionou.

Fonte: www.jb.com.br
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir