Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 24-09-2013

O DIA SEGUINTE DE UMA NAÇíO
O time perde de virada em pleno Maraca e na mesma noite o técnico pede pra sair. E você quer que o torcedor acorde bem humorado no dia seguinte... Ah você não acha que está pedindo demais? Como diz meu amigo, quando meio chapado: “Me poupe!” “Dane-se!”
O DIA SEGUINTE DE UMA NAÇíO

No dia seguinte a uma catástrofe como essa, tudo fica hiperbólico. O som do despertador se nos apresenta como se os nossos queridos fuzileiros estivessem gastando todo o estoque de festim num treinamento interminável, bem embaixo da nossa janela. A gente acorda, mas quer ficar mais uns segundinhos na cama. A voz ainda que carinhosa da esposa dizendo: "acordou?", soa como se um pedreiro vizinho, sem coração, resolvesse fazer demolição nas primeiras horas do dia sem se importar com o morador do lado... A gente se contém. A gente é educado.

Tudo nesse dia fica exagerado. A caminhada na orla da praia que se faz habitualmente sem dar muita atenção ao calçadão há tempo destruído fica diferente. Quer-se criticar: "Por que ainda não deram um jeito nisso?" Os cinquenta metros de calçada destruídos pela ressaca parecem quilômetros... Os buracos de quatro metros de profundidade são, de repente, crateras imensas, ameaçadoras... Ninguém merece! Levamos de quatro a dois!

Fica mais difícil compreender coisas simples. O risinho do cruzeirense na fila da padaria é só um cordial cumprimento, mas se transfigura diante da gente. Aquilo não é um riso é uma gargalhada de deboche entrando pela nossa cara, humilhando-nos, levando-nos a pensar na nossa posição inferior na tabela, nossa desdita, nossa miséria... Não, a gente não deve querer mal aos mineiros. São pessoas boas, uai! Eles estão aqui para somar, para unir aos nossos, os seus talentos e suas habilidades na construção de um município melhor... Mas é o dia seguinte. É terrível, gente! É preciso dar um desconto!

Tudo fica exagerado num dia assim. A gente sabe que todo esse esburacamento que estão fazendo na avenida principal, obrigando o comerciante a umedecer a frente da sua loja porque não há quem aguente tanta poeira, tem o seu lado bom... O trânsito fica só um pouquinho mais lento. "Desvio à direita", "Desvio à esquerda", "Desculpe-nos pelo transtorno, estamos melhorando sua cidade" Que coisa linda! Mas a gente acha tudo enjoado, demorado, uma balbúrdia. Coisa horrorosa! É o dia seguinte... Só escombros!

Tudo nesse dia adquire contornos de grandiosidade. O professor vê numa "simples e inocente" descontração dos seus alunos uma cena dantesca. Não é possível, Senhor! Os anjinhos do outro lado deram uma escapadela e invadiram nosso paraíso...Que dia longo! E esse sinal que não bate!. Na rua, um conhecido passa e buzina. Simples saudação. Mas a gente ouve aquele rápido e leve som com uns quatrocentos decibéis a mais... "Quer vender a buzina ou quer comprar meu ouvido?" Antipatiza-se com o número quatro e todos os seus derivados..

Enfim, a tarde chega e o dia vai morrendo. Na praia, o coração ferido mira o horizonte. E no silêncio, tenta concatenar as ideias, mas não consegue esquecer: Foi de virada! Não podia acontecer! E vem à lembrança o texto do famoso torcedor que sabia domar as palavras, falando de sua paixão por um time pelo qual o rubro-negro não sente a menor simpatia: "Vinte e quatro horas depois, o amor é mais forte do que a frustração. Por isso, vivo a dizer: temos a mais doce torcida do mundo. Nenhum outro torcedor age e reage como o pó de arroz, seguindo o time na fase da dúvida ou da tristeza..."

Digo o mesmo que o Nelson Rodrigues disse. Em relação ao Mais Querido, é claro. E só.

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir