As consequências da poluição do ar matam mais gente no Grande ABC do que os acidentes de trânsito.
Foto: www.dgabc.com.br Pesquisa inédita feita pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade aponta que, em 2011, 936 pessoas morreram em razão de complicações provocadas pela inalação de poluentes. No mesmo ano, o Ministério da Saúde aponta 235 mortes na região por ocorrências ligadas aos transportes.
Para chegar às estatísticas, o instituto cruzou dados da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) com informações da OMS (Organização Mundial da Saúde). A pesquisa foi divulgada ontem em evento na Câmara Municipal de São Paulo.
Santo André é a cidade da região com mais casos registrados: 302 mortes, seguida de perto por São Bernardo, com 300. Em seguida, aparecem Mauá (140), Diadema (115) e São Caetano (106). Em todo o Estado, foram computados 17.443 óbitos em decorrência das toxinas no ar. Não há estatísticas disponíveis sobre Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
A poluição também provoca forte impacto nos cofres públicos. Foram gastos R$ 5,8 milhões em 2011 com internações. Problemas cardiovasculares e respiratórios são a maioria dos casos que demandaram permanência dos pacientes em hospitais. Outra consequência comum é o câncer.
"Com R$ 5,8 milhões é possível fazer um Ambulatório Médico de Especialidades equipado ou custear o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da região. E esse valor está subestimado. Não são computadas as faltas dos trabalhadores, os remédios comprados e a redução da expectativa de vida", comenta o médico e professor da USP (Universidade de São Paulo) Paulo Saldiva, especialista em poluição do ar.
O nível médio de emissão de materiais particulados no Grande ABC é de 22,34 microgramas por metro cúbico – mais que o dobro dos dez considerados como aceitáveis pela OMS. São Bernardo (24,19) e São Caetano (23,23) lideram a lista. Uma das medidas sugeridas por Saldiva para diminuir o lançamento de poluentes é a expansão da inspeção veicular ambiental – hoje feita apenas na Capital – para todo o Estado.
Em maio, a Justiça paulista acatou liminar do Ministério Público para que o procedimento seja obrigatório em todos os municípios de São Paulo, mas o prazo para início é apenas a metade do ano que vem. "Um ponto positivo é o fato de que, a partir do momento em que uma cidade opta por limpar o ar, os impactos são quase imediatos", garante o médico.
Já a médica Evangelina Vormittag, presidente do instituto, cobra a criação de leis que imponham limites rigorosos à emissão de poluentes por parte de veículos automotores e indústrias. "Faltam políticas públicas de combate para diminuir isso, especialmente no Grande ABC, cuja característica industrial é muito forte."
Evangelina acrescenta que, além da quantidade de substâncias que é lançada ao ar, o clima também influencia nas medições. "Em 2009, por exemplo, foram registrados índices inferiores aos que estamos acostumados. Mas foi um ano atípico, considerando as condições climáticas muito favoráveis para a dispersão de poluentes, como a chuva e o vento. Quanto mais seco o tempo, pior. Isso se reflete também na saúde."
Fonte: www.dgabc.com.br
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