Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 25-09-2013

A ARTE NO DIVí
"A linguagem é a casa do ser", Heidegger.
A ARTE NO DIVí

Desde sua concepção, a Psicanálise está intimamente ligada à Literatura e a arte em geral. A imaginação, os afetos, arquétipos, significantes, significados, sonhos, emoções, subjetividade e outros verbetes encontrados em livros teóricos sobre a psicanálise, ao aprofundarmos o conhecimento sobre a mente humana, são extremamente conectados com a experiência literária artística.

Ao aprofundarmos sobre a biografia "pai" da Psicanálise, encontramos laços indissolúveis com a literatura e a arte. Um de seus filhos, Martin Freud, escreveu uma memória intitulada "Freud: Homem e Pai". Na obra, descreve o pai como um homem que trabalhava por longas horas, mas que adorava ficar com suas crianças durante as férias de verão. A ligação do psicanalista com a arte vai além de sua geração. Ele foi avô do pintor Lucian Freud, do ator e escritor Clement Freud e bisavô da jornalista Emma Freud.

Para ele, nosso cérebro trabalha com o campo da semântica, ou seja, a mente desenvolve os pensamentos num sistema de linguagem baseados em imagens, as quais são meras representações de significados latentes.

De acordo com o jornalista Euclides Dourado, a ligação de Freud com a literatura é manifestada por ele mesmo, em 1895, revelando que seus relatos clínicos parecem novelas, e atribui isto ao fato de ser este o único estilo adequado a descrever seu objetivo de estudo: o histórico de pacientes cujos sintomas têm relação com seu passado, com sua infância.

Embora fosse um leigo, as obras de arte sempre exerceram sobre ele um efeito poderoso, sobretudo a literatura e a escultura. Passava longo tempo contemplando-as, tentando apreendê-las à sua maneira e explicar a razão de seu efeito sobre si mesmo e sobre outras pessoas.

A intimidade de Freud com a literatura está explícita no fato de ele ter recebido apenas um prêmio importante em toda sua vida: o prêmio Goethe de literatura, em 1930. O livro "O fausto de Freud: O Prêmio Goethe", de Geraldino Alves Ferreira Netto, é mais uma oportunidade de lembrar que a Psicanálise, usualmente, deve muito à arte.

"Outro indicador do apreço de Freud pela literatura é a palestra que fez em 1907, sobre a importância do devaneio na criação literária, publicada no ano seguinte sob o título de ‘Escritores criativos e devaneio’, que até hoje é uma leitura favorita dos escritores", ressalta Euclides em sua "Especulação VIII".

A psicóloga Shyrley Pimenta atenta que Freud, no livro "A Interpretação dos Sonhos" (1900), interpreta as peças "Rei Édipo", de Sófocles, e "Hamlet", de Shakespeare. Elas já antecipavam a existência do complexo de Édipo, um dos temas centrais da Psicanálise.

"Freud analisou também ‘Gradiva’, uma novela de Wilhelm Jensen (1837-1911), escritor e poeta alemão. No volume IX de suas Obras Completas (Edição Standard), sob o título ‘O Delírio e os Sonhos na Gradiva de Jensen’, a interpretação de Freud revela o fetiche como uma substituição de sentimentos não resolvidos em relação a um amor de sua infância", afirma a psicóloga em sua pesquisa.

Na antiguidade clássica observamos embriões que surgem da psique à arte. Platão, no diálogo "Ion" (533-534), explana sobre a inspiração para a criação artística e Aristóteles teorizava sobre a catarse.

É através do romance, segundo a escritora inglesa Brigid Brophy (1929-1995), que o estudo da mente penetrou nossa cultura. O hábito de ler aguçou nossa curiosidade a respeito das emoções, do conflito.

Definitivamente, a arte está no divã!

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Roney Moraes    |      Imprimir