Categoria Geral  Noticia Atualizada em 13-11-2013

"O importante é resgatar o legado", diz neto de Jango sobre exumação
Christopher Goulart chegou ao cemitério em São Borja por volta das 8h30. Peritos trabalham desde o início da manhã no local; corpo irá a Brasília.

Foto: g1.globo.com

Além da busca por respostas sobre a morte de João Goulart, familiares do ex-presidente veem no processo de exumação e na cerimônia que receberá os restos mortais em Brasília um resgate do legado político de Jango. Quase 37 anos após a morte no exílio, na Argentina, peritos estrangeiros e da Polícia Federal iniciaram na manhã desta quarta-feira (13) a exumação em São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.
Além da busca por respostas sobre a morte de João Goulart, familiares do ex-presidente veem no processo de exumação e na cerimônia que receberá os restos mortais em Brasília um resgate do legado político de Jango. Quase 37 anos após a morte no exílio, na Argentina, peritos estrangeiros e da Polícia Federal iniciaram na manhã desta quarta-feira (13) a exumação em São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.
"É um momento emocionante. Tenho 37 anos, nasci no exílio e tenho três nacionalidades por conta desta perseguição política. A exumação é um dos caminhos, mas não isenta toda a perseguição que meu avô sofreu durante a ditadura", disse ao G1 o neto Christopher Goulart, ao chegar ao Cemitério Jardim da Paz ao lado do pai João Vicente. O irmão João Marcelo havia chegado ao local antes das 7h.
"O resultado, sendo positivo ou negativo, tão ou mais importante que isso é resgatar o legado político de Jango. É ver ele receber as honras de chefe de Estado que ele não teve em vida", afirmou, sobre a cerimônia marcada para quinta-feira (14), em Brasília, em que os restos mortais serão recebidos. As presenças da presidente Dilma Rousseff e dos ex-presidentes Lula, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney são esperadas.
Por volta das 8h30, chegaram a ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, e o ministro da Justiça, José Cardozo. O governador Tarso Genro chegou às 9h45, mas não falou com a imprensa.
"É um momento histórico. Qualquer país democrático precisa resgatar a verdade", disse o ministro da Justiça, sobre a exumação. Questionado se acredita na hipótese de assassinato, desconversou. "Vamos avaliar primeiro o resultado. Hoje há tecnologia para os técnicos nos levarem a uma conclusão, mas vamos aguardar o resultado dos trabalhos", concluiu.
Na chegada ao cemitério, Maria do Rosário ainda negou que o pedido de exumação seja um ato político. "Esta é uma missão de Estado. Atendemos vítimas da ditatura, independente de quem sejam. O que estamos fazendo aqui é valorizar a democracia", disse.
Para garantir a segurança, uma operação foi montada na região do cemitério, com policiais militares e agentes da Defesa Civil. A rua foi bloqueada e o acesso é restrito. Os peritos, quatro brasileiros da Polícia Federal (PF), além de especialistas do Uruguai, da Argentina e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), chegaram por volta das 6h45 para o processo de exumação.
Com roupas especiais para o procedimento, os peritos farão o trabalho na área isolada por uma estrutura metálica e por lonas. O ex-presidente foi sepultado no jazigo da família Goulart, onde já foram enterradas nove pessoas, entre elas o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, cunhado de Jango.
O objetivo do procedimento é esclarecer se Jango morreu de ataque cardíaco, como consta na documentação oficial, ou se foi assassinado por envenenamento. Nos últimos anos, surgiram evidências de que o ex-presidente pode ter sido mais uma vítima da Operação Condor, a aliança entre as ditaduras do Cone Sul para eliminar opositores além das fronteiras nacionais.
Perito acredita que trabalho trará respostas sobre morte
A retirada dos restos mortais do túmulo não tem hora para acabar. O perito da Polícia Federal que coordena a exumação, Amaury de Souza Júnior, diz que o tempo de trabalho vai depender das condições em que se encontram o caixão e os restos mortais de Jango, mas acredita que a análise pode apresentar resultados, mesmo após tantos anos.
"Se não tivéssemos condições de ter alguma resposta, de imediato teríamos abortado a missão. É possível, sim. Basta verificar os casos do Pablo Neruda (poeta chileno) e do Yasser Arafat (líder palestino). Vamos trabalhar para obter informações e ver o que significam essas informações. Elas podem ou não ser conclusivas. Em termos tecnológicos, não há problema", afirmou em entrevista coletiva na terça-feira.

Do cemitério, os restos mortais de Jango serão levados pelo Corpo de Bombeiros até o aeroporto de São Borja. Um helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) fará o transporte até a Base Aérea de Santa Maria, na Região Central do estado, de onde será feito o traslado até Brasília.

O corpo de Jango deve chegar por volta das 10h de quinta-feira (14) à capital federal, onde será recebido com honras de chefe de Estado. Segundo a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, a presidente Dilma Rousseff vai participar da solenidade. Ex-presidentes como Lula, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney também foram convidados.
Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas uma autópsia nunca foi realizada. Na última década, novas evidências reforçaram a hipótese de que o ex-presidente teria sido envenenado por agentes ligados à repressão uruguaia e argentina, a mando do governo brasileiro.

A principal delas foi o depoimento dado pelo ex-espião uruguaio Mario Neira Barreiro ao filho de
Jango João Vicente Goulart, em 2006. Preso por crimes comuns, ele cumpria pena em uma penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, quando disse que espionava Jango e que teria participado de um complô para trocar os remédios do ex-presidente por uma substância mortal.
Em 2007, a família de Jango solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Tanto o governo federal quanto membros da família Goulart acreditam que há indícios de que o ex-presidente possa ter sido assassinado.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir