Categoria Educa�ão  Noticia Atualizada em 21-11-2013

Pela Fuvest, aluna encara 3 h de transporte e 11 h de estudos por dia
C�ssia Lima mora na Zona Norte de SP e � bolsista em col�gio particular. G1 acompanhou um dia na vida da jovem que far� vestibular no domingo.
Pela Fuvest, aluna encara 3 h de transporte e 11 h de estudos por dia
Foto: g1.globo.com

Ainda � madrugada quando a adolescente C�ssia Oliveira de Lima, de 17 anos, sai de casa para ir � escola. Ela mora na Brasil�ndia, um bairro de classe m�dia baixa da Zona Norte de S�o Paulo, e estuda no Col�gio Bandeirantes, no Para�so, na Zona Sul, uma das escolas particulares mais tradicionais e de ensino rigoroso da capital paulista, com mensalidades acima de R$ 2 mil e presen�a entre as cinco melhores da cidade no Enem do ano passado. C�ssia ganhou bolsa de estudos quando era aluna da rede p�blica, gra�as �s boas notas, e por isso n�o paga a escola. Ela est� na turma de exatas do terceiro ano que re�ne os alunos com as notas mais altas do col�gio.
A rotina da jovem inclui tr�s horas de transporte coletivo (�nibus mais metr�) para percorrer 20 km na ida e mais 20 km na volta da escola e mais 11 horas di�rias de estudos, sendo cinco horas de aulas de revis�o de conte�do no col�gio e mais seis horas fazendo exerc�cios e revendo as apostilas em casa. Tudo para alcan�ar o objetivo de conseguir uma vaga no curso de engenharia qu�mica da Escola Polit�cnica da Universidade de S�o Paulo (USP) e quem sabe, no futuro, trabalhar na Petrobras. Para isso, ter� de passar no vestibular da Fuvest. A prova da primeira fase ser� neste domingo (24) a partir das 13h.
Mais de 172 mil estudantes est�o inscritos para o vestibular. Para mostrar a rotina de um vestibulando �s v�speras da primeira fase, o G1 acompanhou o dia de estudos de C�ssia na �ltima ter�a-feira. Para ela chegar � aula que come�a �s 7h, precisa pegar acordar �s 4h30, sair de casa �s 5h e pegar �nibus e metr�. A jovem chega ao col�gio alguns minutos depois de o sol nascer para uma das �ltimas aulas de revis�o antes da primeira fase do vestibular. Para cumprir os hor�rios e dar conta dos afazeres, C�ssia segue uma vida regrada com hor�rios quase cronometrados.
C�ssia � filha de uma professora de rede p�blica e de um seguran�a noturno, e estuda em um dos col�gios particulares mais tradicionais de S�o Paulo desde o �ltimo ano do ensino fundamental, quando ganhou uma bolsa de estudos do Instituto Ismart. A jovem desde cedo mostrou interesse em aprender. "Desde a quinta s�rie os professores me pediam para coloc�-la em uma escola particular", conta a m�e Luzinete, que at� hoje n�o sabe precisar os motivos pelos quais a filha tem desempenho acad�mico t�o bom.
C�ssia nunca havia andado de transporte coletivo sozinha antes de come�ar o curso preparativo que a ONG oferece a alunos com alto potencial selecionados para o programa. "No primeiro ano eu ia busc�-la no metr�", conta a m�e. Hoje, por�m, a jovem j� se locomove com independ�ncia para ir e voltar das aulas que, at� outubro, ainda eram em per�odo integral. Desde o in�cio do m�s, os formandos do ensino m�dio usam o tempo para revisar a mat�ria, com foco espec�fico para a Fuvest.
Atualmente, em vez de estar em sala de aula entre as 7h e as 18h30, parando para o almo�o e dois intervalos, ela agora tem aulas das 7h �s 12h30 e, depois de almo�ar no col�gio, segue para casa, onde estuda at� as 20h. "Prefiro estudar no meu quarto sozinha. A biblioteca � um pouco barulhenta, e preciso de sil�ncio para me concentrar", explica a jovem.
Foco no vestibular
O Bandeirantes tem, no per�odo matutino, seis aulas de 50 minutos cada, das quais a turma de C�ssia participa em uma sala quadrada com paredes, lousa e carteiras brancas, cadeiras de madeira, teto como forro anti-ru�do e janelas no alto da parede, de onde n�o � poss�vel ver o que acontece do lado de fora.
"Como passamos quase a vida toda aqui, n�s fizemos uma decora��o", afirma a jovem, mostrando cartazes pregados na parede onde cada aluno colou uma foto sua na inf�ncia, dispostos na parede como se fossem balas saindo de um saco de guloseimas chamado "nerds" --uma refer�ncia ao fato de esses estudantes terem sido os que tiraram as notas mais altas em 2012 entre os alunos das cinco turmas de exatas do segundo ano. O col�gio tem ainda cinco turmas de ci�ncias biol�gicas e tr�s de humanas, com uma m�dia de 45 alunos por turma.
Depois de encarar uma viagem de duas horas entre �nibus e metr�, C�ssia chega em casa por volta das 15h. Ela d� uma pequena pausa e logo j� retoma os estudos na escrivaninha montada no quarto. A adolescente n�o se queixa da rotina pesada, est� sempre sorrindo, conta com humor da vez que tomou chuva na volta para casa e chegou encharcada e diz que � grata pela oportunidade de estudar em um col�gio de boa qualidade. Quando ainda estava no ensino fundamental tinha a preocupa��o de ter de cursar o ensino m�dio na rede p�blica e ter poucas chances de entrar em uma faculdade p�blica.
C�ssia costuma estudar os mesmos conte�dos das aulas de revis�o do dia treinando com exerc�cios at� as 21h30, quando se prepara para dormir. Duas vezes por semana, muda a t�tica refazendo vestibulares do passado. Foi assim com a Unicamp e com a Unesp, e agora com a Fuvest. A vestibulanda responde as quest�es das provas anteriores e cronometra o tempo simulando uma situa��o real. Agora o desafio � controlar o nervosismo.
Fuvest em primeiro lugar
No �ltimo bimestre do ano, para priorizar a revis�o pr�-vestibular, o col�gio "aliviou" a vida dos estudantes do terceiro ano e s� promoveu uma semana de provas bimestrais, ao contr�rio das duas usuais. Segundo C�ssia, em vez de aplicarem uma prova s� de qu�mica org�nica e outra de f�sico-qu�mica, as mat�rias foram reunidas em um s� exame. O mesmo aconteceu, por exemplo, com as mat�rias de hist�ria geral e hist�ria do Brasil.
No terceiro ano, os alunos tamb�m recebem menos projetos especiais, e focam mais no aprendizado tradicional, com aulas, exerc�cios e provas. Duas vezes por bimestre, os alunos realizam simulados da Fuvest aos s�bados. No segundo semestre, um deles seguiu o padr�o do Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem), embora C�ssia admita que "o Enem n�o � muito popular no col�gio".
Ela diz que, quando fez o vestibulinho para estudar no Bandeirantes, ficou t�o nervosa que acabou chorando durante a prova. Hoje, ela diz que j� aprendeu a controlar os nervos. Seu desempenho nos vestibulares da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), realizados nos dias 10 e 17 de novembro, tamb�m a deixou mais tranquila. No primeiro, ela acertou 40 de 48 quest�es, mas n�o sabe como foi nas provas de reda��o. Das 90 quest�es objetivas da Unesp, C�ssia afirma ter acertado 77.
"Seria imposs�vel n�o ficar nervosa na prova da Fuvest, mas estou tentando me controlar. Na Unicamp errei algumas bobagens, na Unesp j� melhorei. Foi bom ter feito estas provas antes", diz.
Mesmo assim, ela ainda demonstra uma ansiedade t�pica, como aponta uma de suas professoras, M�rcia Abdo. Depois de anos dando aulas de geografia para a adolescente, M�rcia diz n�o ter d�vidas de que C�ssia ser� aprovada na Fuvest, principalmente por causa de sua "dedica��o impressionante". "Voc� fala e ela anota, anota, anota, na apostila e no caderno. Tem post-it colado em todo lugar."
A adolescente n�o pretende parar de estudar nem na v�spera da prova da Fuvest. N�o quer desfocar ou perder o ritmo. A maior cobran�a pela aprova��o � dela mesma. Com a forma��o em engenharia qu�mica, pretende trabalhar nas �reas de combust�vel ou saneamento b�sico. "Quero que meu trabalho ajude a melhorar algo na sociedade. Acho que todo mundo precisa de um sentido na vida, que seja algo que trague valor para sua vida e para a dos outros."
Se passar em um dos vestibulares, C�ssia passa a receber um sal�rio m�nimo por m�s do Ismart para custear despesas. Se n�o passar, perde o v�nculo com a ONG

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir