Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 17-12-2013

FIO DE CABELO
�Olha!.. Isto d� uma cr�nica!� Levantei os olhos do livro e vi que ele falava comigo. Acertei melhor os �culos para perceber que segurava com o indicador e o polegar da m�o direita um longo fio de cabelo aloirado.
FIO DE CABELO

"Olha!.. Isto d� uma cr�nica!" Levantei os olhos do livro e vi que ele falava comigo. Acertei melhor os �culos para perceber que segurava com o indicador e o polegar da m�o direita um longo fio de cabelo aloirado.



"J� fizeram muitas" - respondi pensando na grava��o da conhecida dupla sertaneja. Na verdade a cantada e decantada can��o de Chit�ozinho & Xoror�, pode ser considerada uma cr�nica musicada. Como muitas outras, evidentemente. Roberto e Erasmo Carlos quase esgotaram o fil�o com um repert�rio variad�ssimo. O pessoal da minha gera��o lembra muito bem: "O g�nio", "Pega ladr�o", "A hist�ria de um homem mau"...



Mas a�, pensei: Pode ser... �. Pode ser... Cen�rio: sala de professores de uma Escola. Um professor, refestela-se na poltrona e levanta-se com um longo fio de cabelo grudado em seu cabelo curto. E, sem se dar conta disso, chega a casa. Tentando esconder a chatea��o de um dia estressante com alunos, cumprimenta a esposa com uma beijoca r�pida, e, ar meio distante, dirige-se para a geladeira procurando o que beber...



Ao abrir a geladeira, o fidel�ssimo professor, recebe no rosto o clar�o que vem do interior da sua C�nsul, no exato instante em que os olhos interrogativos da esposa percebem, na luminosidade, um longo e fin�ssimo fio ca�do nos ombros do marido. Ela hesita um pouco, mas curiosa e, a pretexto de ajud�-lo a escolher o que beber, aproxima-se e constata: � cabelo! E loiro!... Podia ter simplesmente catado o capilar, mas opta por ver ali uma explica��o da cara amarrada e o ar distante do bem-amado.



E a�, meu sisudo leitor, voc� pode imaginar, baseado at� na pr�pria experi�ncia, os desdobramentos dessa situa��o. O ci�me age como - desculpe a figura que agora me ocorre - uma cadela atacada por um enxame de abelhas enlouquecidas. (Parece que estou vendo minha Dog alem� � Shelda, grandalhona, levando picadas letais por todo o corpo, levando-me, por fim, �s l�grimas, ali, curvado diante daquele corpo sem vida).



Mas "voltemos � vaca fria" ou, melhor ainda, � geladeira da cozinha do inocente professor. Em meio segundo, � mente fervilhante da esposa vieram todas as professoras loiras da escola. E ela conhecia a todas. Pelo nome e pelo sobrenome. E come�ou por aquela que sempre considerou a mais assanhada: "-Vagabunda!", quase mumurou, mas se conteve. E foi fazendo desfilar uma por uma na sua imagin�ria passarela. Passarela que, na verdade, era um cadafalso: ela colocou todas as loirudas ordin�rias num pat�bulo, cadeira el�trica, c�mara de g�s... - E era pouco ainda! � Rangia os dentes, enquanto pensava.



"Por que ele fez isso? Por qu�, meu Deus! Por qu�? Que vamos fazer agora?..." E ela tentava encontrar uma solu��o para aquele drama que se configurava terr�vel na sua f�rtil imagina��o. Pensou numa poss�vel separa��o. Pensou nos filhos pequenos, pensou nos seus pais, nos sogros... Pensou... Jesus! Ela pensou em as-sas-si-n�-lo! Que vexame, Senhor! Que vexame!...



Enquanto isso, o marido, tendo fechado a geladeira, cervejinha na m�o, procurou o confort�vel sofazinho da sala. Ao tirar a camisa naquele calor insuport�vel, notou o fio de cabelo, apanhou-o entre os dedos e foi � cozinha mostrar � esposa. Ela estava de costas para ele e de costas continuou.



- Esse neg�cio de sof� na sala de professores d� nisso. Olha s�! J� por tr�s vezes encontrei cabelo das colegas na camisa de professores. Eu mesmo tirava, fazendo piada: "Que hist�ria voc� vai inventar em casa, ostentando esta prova do crime?"... Hoje, a v�tima fui eu. Ou ningu�m viu isto ou confiam muito na minha capacidade de inventar hist�rias. Olha o que encontrei no meu ombro?



Segurando entre o indicador e o polegar a tal "prova do crime", o professor esperou que a esposa se voltasse, o que n�o aconteceu. Insistiu. Aproximou-se. " -Voc� est� chorando?"... Como resposta, a jovem esposa girou sobre os quadris e o abra�ou forte. E o beijou com tanta paix�o que, ali na cozinha mesmo, eles fizeram lembrar outra can��o. Agora, do Wando: "Meu Iai�, Meu Ioi�". E as crian�as, chegando da aula de nata��o, estranharam,: "-U�, m�e, a senhora j� tomou banho?"


E a minha colega que entende de g�neros textuais, vai me perguntar: "Isso � cr�nica ou conto?" E eu vou responder: "N�o fa�a pergunta dif�cil".

Fonte: O Autor
 
Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir