Categoria Geral  Noticia Atualizada em 20-01-2014

Moradores se unem para reconstruir Itaóca após "onda" devastar a cidade
G1 acompanhou os trabalhos feitos no município durante o fim de semana. Prefeitura afirma que uma a cada três pessoas morreu em bairro afetado.
Moradores se unem para reconstruir Itaóca após
Foto: g1.globo.com

A cidade de Itaóca, no interior de São Paulo, ainda contabiliza os prejuízos da tragédia que deixou pelo menos 23 pessoas mortas. Uma semana após as chuvas que devastaram todo o município, o G1 voltou ao local e constatou que ainda há muito a ser feito para que a cidade volte a ter cara de cidade. Além de terem que dormir e acordar em um cenário que nada lembra a antiga Itaóca, com pilhas gigantescas de destroços espalhados por todos os lados, os moradores acreditam que o número de mortos pode crescer ainda mais. No bairro Guarda Mão, o mais afetado pela tempestade, um terço da população morreu.

Os cerca de 3 mil habitantes de Itaóca ainda procuram entender o que realmente ocorreu. Na rua, nos bares, em meio aos destroços. Todos tentam explicar o que aconteceu na noite do dia 12 de janeiro. De oficial, segundo a Prefeitura, uma gigantesca onda, formada por água, barro e troncos, surgiu após a enxurrada ter ficado represada sucessivas vezes em barreiras da cidade. À medida que as barreiras eram destruídas, a onda ganhava mais força.

Três rios, que se encontram, foram afetados: Guarda Mão, Martins e Palmital.

Passaram-se sete dias e, mesmo com a ajuda da Defesa Civil, dos Bombeiros e de centenas de voluntários, o bairro Guarda Mão permanece isolado. Chegar ao local só é possível andando vários quilômetros a pé, escalando pedras e caminhando por dentro do rio. A paisagem e a geografia do local foram completamente alteradas. Na área que ficava a estrada passa agora o rio. Onde havia milhares de árvores há incontáveis pedras que desmoronaram durante a tempestade.

"O bairro inteiro foi desmatado. Apareceram pedras enormes que nunca foram vistas. Nunca vi nada parecido. Essas pedras simplesmente não existiam. A gente tinha uma estradinha para passar de carro e ela desapareceu", lembra o ajudante de pedreiro Nelson de Pontes, morador do Guarda Mão que perdeu a única filha durante a enxurrada. "Ela estava em uma casa que foi completamente destruída, morreu junto com a minha ex-mulher e outras três pessoas que estavam no local. As pessoas encontraram o corpo e me chamaram para reconhecer. Foi um momento de muita tristeza. Não sei explicar o que estou sentindo. Não sei se vou conseguir voltar a morar no local", completa.

Durante a chuva, que começou por volta das 21h, a prefeitura estima que 60 pessoas estavam no bairro Guarda Mão. Dessas, 21 morreram, o que representa 35% da população do bairro. A área fica na parte rural da cidade e é ocupada há mais de 100 anos pelas mesmas famílias.

Segundo os sobreviventes, todos os que moram no local são parentes, mesmo que de um grau distante.

"Quando veio a avalanche de pedras eu não olhei para trás. Simplesmente me protegi. Depois de uns 40 minutos observei que a onda que veio em seguida havia levado parte da minha casa e o meu carro. Assim que vi que não havia mais risco comecei a procurar os sobreviventes.

Ouvimos um amigo gritar e conseguimos tirar ele dos destroços com vida", conta o morador Dráusio Ribas da Rosa. Dráusio, que trabalha como leitorista, encontrou o carro totalmente destruído a vários quilômetros de distância. "Eu não tenho como explicar como ele foi parar tão longe. Mas isso é o de menos. Perdemos muita gente. Todas as pessoas que moravam no bairro são da mesma família. É uma tragédia. Todos tinham um pouco do sangue do outro.

É muito triste chegar no bairro e ver que nada era como antes. Mudou toda a paisagem.

Milhares de pedras deslizaram. Por causa disso tudo não tem como termos esperanças de encontrar alguém vivo", lamenta.

Na semana seguinte à tragédia, cada corpo encontrado gerava uma expectativa na população, que se reunia para acompanhar o resgate. Por ser uma cidade pequena, praticamente todas as pessoas conheciam ou já tinham ouvido falar das vítimas, o que gerava uma grande comoção.

O filme se repetiu todos os dias, até a Defesa Civil contabilizar 23 corpos encontrados.

Para aumentar o drama, muitos corpos foram encontrados pelos próprios moradores. Enquanto alguns foram achados dentro de Itaóca, outros foram levados para outras cidades da região pela correnteza.

"Estava em casa e comecei a sentir um cheiro horrível. Eu e meu tio saímos para ver o que havia acontecido e encontramos o corpo. Foi terrível porque grande parte da minha família morreu no bairro Guarda Mão. Perdi seis pessoas lá. Essa tragédia foi uma coisa inesperada e ninguém poderia imaginar que ela ia ocorrer. Foi tudo muito rápido", lembra o estudante Iran de Oliveira Godoy e Silva. O jovem é um dos que acredita que o número de vítimas ainda pode aumentar. "Tenho certeza que existem muitas outras vítimas. A cidade estava recebendo visitantes no dia da chuva e alguns podem ter sido levados pela correnteza.

Agora precisamos contabilizar tudo direito e nos reerguer para a cidade voltar a ser como era antes", acrescenta.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir