Categoria Geral  Noticia Atualizada em 26-03-2014

Pai espera dias para enterrar filho após paralisação de legistas no ES
Menino de 8 anos morreu na segunda-feira (24), em Cariacica. Eles reivindicam melhor condição de trabalho e fazem série de denúncias.
Pai espera dias para enterrar filho após paralisação de legistas no ES
Foto: g1.globo.com

O garçom Fernando Augusto Pimentel ainda tenta enterrar o filho, de oito anos, que morreu após um muro do vizinho cair no bairro Aparecida em Cariacica, na Grande Vitória, desde segunda-feira (24). O pai enfrenta esta angústia porque os 35 médicos legistas que trabalham no Departamento Médico Legal (DML) cruzaram os braços. Eles reivindicam ao governo do Espírito Santo melhores condições de trabalho. Além disso, o Sindicato dos Médicos do estado fez várias denúncias sobre a estrutura do DML da capital. Para o governo, falta gestão e boa vontade por parte dos médicos que trabalham no local. Uma reunião está marcada para às 19h desta quarta-feira (26), no Palácio da Fonte Grande, no Centro de Vitória, entre o governo e a categoria.

Além de reivindicar melhores salários, os médicos legistas querem a contratação de mais profissionais e melhoria na estrutura física e nas condições de atendimento à população. Atualmente, a categoria recebe R$ 4.200 e almeja a remuneração de R$ 6.500, que é o salário dos médicos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa).

O corpo do filho de Fernando Augusto Pimentel foi transferido do DML para o Serviço de Verificação de Óbito (SVO) do Hospital da Polícia Militar (HPM) em Vitória, na noite desta terça-feira (25). Mas até a manhã desta quarta-feira a família ainda não tinha conseguido a liberação para sepultamento. O pai tenta conseguir um mandado judicial para velar o filho o mais rápido possível.

Outras famílias também enfrentam o mesmo problema. Nesta terça-feira, a operadora de telemarketing Liliane Moraes saiu do DML sem conseguir a liberação do corpo do avô. "A gente não sabe se ele está dentro ou fora da geladeira. Queremos pelo menos fazer um velório digno", lamentou.

De acordo como presidente dos médicos, Otto Baptista, o número de profissionais não é suficiente para atender a demanda do estado. "São 35 médicos legistas no Espírito Santo inteiro, desses, dois atendem no DML da capital e se revezam no plantão. É uma sobrecarga de trabalho e isso já acontece há muitos anos. Os médicos decidiram radicalizar depois de uma decisão da Justiça que considerou o movimento ilegal, mas a cassação do movimento de greve já aconteceu e o que fazemos é um protesto. O governo do estado está "barrigando" até o dia 4 de abril, período eleitoral que não vai poder ter mais negociações", explicou.

Com a paralisação das atividades, desde a noite de segunda-feira, todos os serviços e laudos de necrópsias foram suspensos. Otto disse ainda que muitos casos precisam da atenção dos médicos legistas, como lesões corporais da mulher, motoristas que se recusam a fazer o bafômetro são levados para o órgão, os presos que vão entrar ou sair dos presídios precisam passar por exames de corpo delito, entre outras atividades.

Vídeos feitos pelo Sindicato dos Médicos mostram a situação das salas do DML. Segundo o Otto Batista, parte dos azulejos estão caindo, água da geladeira onde os corpos ficam armazenados escorre pelo chão e por todo lado é possível ver muita sujeira e restos de materiais. Além desses problemas, dezenas de ossadas estão guardadas em sacos pretos em uma sala desde 2007, e tudo está entulhado. Um equipamento de Raio-X, que segundo o sindicato custa mais de R$ 300 mil, nunca foi usado e está parado virando sucata.

O presidente do Sindicato dos Médico disse que o departamento está abandonado e qualquer um pode ter acesso a qualquer sala. "Se alguém entrar pode subtrair crânios ou peças biológicas em uma sala que fica perto de uma área de grande circulação de pessoas. Se isso acontecer pode prejudicar a prova de um processo. Sem contar que, onde são conservados os corpos escorre um líquido que tem que provar se são secreções dos cadáveres ou vazamento da refrigeração. As geladeiras não estão funcionando adequadamente para conservar esses corpos", disse Otto.

O responsável pela administração da Polícia Civil do Espírito Santo, delegado Paulo César, disse que pelas imagens falta gestão por parte dos médicos que trabalham diretamente no DML. "É importante ressaltar que a gestão é dos próprios médicos legistas, eles têm autonomia para administrar. Falta gestão, um pouco de boa vontade, organização e iniciativa", rebateu.

O delegado disse que as ossadas guardadas nas sacolas plásticas já foram periciadas e catalogadas e deu explicações para outros problemas citados. "Aquelas ossadas não foram sepultadas por falta de vagas. As geladeiras estão funcionando adequadamente e aquela água não é de corpo é da própria refrigeração que vai para um dreno e para uma canaleta. O governo trabalha com projetos de reforma, mas os processos andam no tempo do estado", disse Otto Batista.

Sobre o Raio-X, que o sindicato disse que está virando sucata, o delegado confirmou que o aparelho não foi usado porque a Polícia Civil não possui um técnico em radiologia para operar o aparelho. Paulo César disse que o equipamento foi comprado em 2011 e entregue em 2012. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou na manhã desta quarta-feira que vai disponibilizar um profissional para operar o aparelho de Raio-x.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir