Categoria Geral  Noticia Atualizada em 10-05-2014

Mães de ocupação criam filhos entre mudanças e sonho de casa própria
Três mães sem-teto relatam como é viver com a família em áreas ocupadas. Elas compartilham o medo do despejo e a luta por moradia em São Paulo.
Mães de ocupação criam filhos entre mudanças e sonho de casa própria
Foto: g1.globo.com

O sonho da casa própria e o desafio de criar os filhos sob o risco constante de despejo unem as trajetórias de três mães ouvidas pelo G1 em diferentes ocupações na capital paulista. Elas não se conhecem, mas compartilham o sobrenome Silva e os medos de outras tantas mulheres nas mais de 90 áreas invadidas em São Paulo.

Na Avenida São João, Maria das Graças da Silva, de 54 anos, diz que a ameaça de reintegração de posse só aumenta o drama de ser mãe de três gerações. Na Rua Mauá, Divina Cunha Pereira da Silva, 56, vive a esperança de regularização após sete anos de resistência na ocupação. Já Talita de Jesus Moreira da Silva, de 28 anos, conta com a solidariedade dos vizinhos e a companhia de quatro crianças em um barraco apertado no extremo da Zona Sul.

"Depois [da conquista] da casa já chega. Não vou mais nem ter sonho", resume Maria das Graças da Silva, de 54 anos, que atualmente ocupa um apartamento em prédio no Centro. Nas estatísticas oficiais, as três exercem pressão no déficit de 230 mil moradias em São Paulo. E pressionam de volta, resistindo ao tomar posse de imóveis particulares sem uso.
Mãe três vezes, como se define por cuidar de três filhos, três netos e uma bisneta, ela está desde março no prédio tomado por integrantes da Frente de Luta por Moradia (FLM). A reintegração de posse está prevista para o começo de junho.

Graça, como é conhecida no "Espigão da São João", transformou em casa um espaço de dois cômodos e um banheiro. Está em sua segunda ocupação. A primeira foi em um prédio na Rua Helvetia, também no Centro. Saiu de lá com a promessa de, em um ano, arrematar a casa própria. Sem as chaves, foi para a nova ocupação.

Hoje, divide o espaço com a primogênita, de 38 anos, os netos, e é vizinha do segundo filho, que mora na mesma ocupação com a esposa.

Aposentada por invalidez aos 42 anos, Graça diz sofrer com problemas nos joelhos, na coluna e nos rins. Boa parte da aposentadoria é gasta com remédios. Por isso, não tem condições de arcar com o valor de um aluguel, afirma.

"A gente sabe que não é nosso [o imóvel]. Não queremos nada de ninguém. Não estamos querendo morar de graça, temos condições de pagar as prestações do nosso apartamento."
Atualmente, a vida provisória da avó em tempo integral é restrita à família. Porém, Graça já trabalhou na lavanderia de hospitais na capital paulista desde que migrou do Recife, em Pernambuco, aos 19 anos. Nas raras vezes que deixa a ocupação, teme pelo retorno. "Você sabe o que é sair de casa para ir ao médico e pensar que todo mundo pode estar para fora quando eu voltar?", questiona.

Mauá, 340

Divina, cinco filhos

O mesmo receio tirou o sossego de Divina Cunha Pereira da Silva, 56, nos últimos sete anos. Há menos de 15 dias, ela celebrou o anúncio, feito em assembleia dos moradores, de que o prédio ocupado havia sido comprado pela Prefeitura de São Paulo para ser transformado em moradia popular. "Foi emocionante. O mais marcante desse tempo todo." O movimento planeja uma festa para o dia 24 de maio, um sábado. Querem fechar a rua para comemorar a primeira parte da conquista.

A insegurança de perder o pouco que tem, entretanto, não a impediu de investir no diminuto espaço que lhe foi destinado no imóvel em 2007, para onde foi após ser despejada, morar três dias na rua e ser retirada de uma primeira ocupação. "Eu tive sorte. Eu que arrumei isso aqui. Estava muito feio. Estava dormindo e um rato caia em cima de você. Fui de pouquinho e pouquinho", recorda.

Nesse período, colocou piso, forrou o teto, instalou janelas adornadas por cortinas, um filtro de água com joaninhas desenhadas. "Olha minhas panelas maravilhosas! Adoro cozinhar."

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir